Livros para se aproximar de saberes dos povos originários
Do livro de Davi Kopenawa ao de Gení Nuñez, dez obras contemporâneas que se concentram na cultura indígena e destacam esse legado
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Lançado originalmente em francês, “A Queda Do Céu” (Companhia das Letras, 2010), de Davi Kopenawa e Bruce Albert é uma das obras mais importantes quando o assunto é literatura indígena. O livro é contado a partir da memória de Kopenawa, xamã-narrador da história dividida em três partes: a infância e saberes indígenas; o contato com os brancos e suas terríveis consequências; e por fim, um texto denúncia em relação à destruição de seu povo: os yanomami. Zé Celso (1937-2023) trabalhava na adaptação do texto para o Teatro Oficina.
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O manifesto ambientalista de Ailton Krenak evidencia as consequências problemáticas do ser humano ao se sentir superior no mundo, principalmente em relação à natureza. Em “Ideias Para Adiar O Fim Do Mundo” (Companhia das Letras, 2019), a solução está num pensamento igualitário de direitos que respeitem as diversidades de modo a “ressignificar nossas existências e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo”, como indica a sinopse da obra.
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Ao tematizar um dos debates contemporâneos mais recorrentes dos últimos anos, Geni Núñez apresenta uma nova perspectiva nas relações afetivas em “Descolonizando Afetos: Experimentações Sobre Outras Formas de Amar” (Paidós, 2023). A autora coloca a monogamia como mais um dos traços culturais exportados da colonização e explora como essas relações, num contexto heteronormativo, apresentam maior índice de opressões. A obra se desenvolve de forma poética ao revelar as diferentes formas de amar dos povos originários brasileiros que foram sendo apagadas ao longo da história.
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“Terrapreta”, (Editora 34, 2021), de Rita Carelli, narra a vida de Ana, uma pré-adolescente que, após a morte da mãe, é forçada a morar com o pai perto de uma aldeia no Alto Xingu. A partir dessa ruptura, a personagem parte em uma jornada de autodescoberta permeada pelo luto, ao mesmo tempo que descobre a cosmovisão indígena. A obra é influenciada pelas experiências da autora paulistana que trabalha como colaboradora da ONG Vídeo nas Aldeias e também pesquisadora e organizadora das obras de Ailton Krenak.
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A Ubu e Piseagrama reúnem ensaios escritos por autores indígenas, quilombolas e afrodescendentes em “Terra: Antologia afro-indígena” (2023), com organização de Felipe Carnevalli, Fernanda Regaldo, Paula Lobato, Renata Marquez e Wellington Cançado. A coletânea traz nomes como Davi Kopenawa, Glicéria Tupinambá, Célia Xakriabá, Jerá Guarani, Antônio Bispo dos Santos, além de 20 textos inéditos e outros publicados na revista Piseagrama, tratando de temas a exemplo da relação das cidades com a terra, a importância das reservas extrativistas e o impacto das ações humanas no clima.
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Compilado por Trudruá Dorrico e Mauricio Negro, “Originárias: Uma Antologia Feminina de Literatura Indígena” (Companhia das Letrinhas, 2023) é um trabalho que busca valorizar a escrita e criatividade de mulheres indígenas, reunindo contos infantis de 12 autoras sobre sonhos, vivências comunitárias, hábitos geracionais e observação da natureza. A obra ilustrada também apresenta um texto informativo sobre a comunidade originária de cada escritora, seguido de uma biografia.
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No livro “O Presente de Jaxy Jaterê” (Panda Books, 2017), Olívio Jekupé traz um enredo influenciado pelo personagem indígena que inspirou a lenda do saci pererê, evidenciando o protagonismo dos povos originários. A obra infantil conta a vida da indígena Kerexu, que encontra um colar capaz de dar poderes para realizar pedidos a quem o possui. Ao tentar chamar o protetor das florestas, a jovem deve cumprir um difícil ritual. O livro bilíngue (português e guarani) foi traduzido por Werá Jeguaka Mirim, filho do autor, para o guarani.
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O escritor e ambientalista Kaká Werá Jecupé propõe uma reflexão sobre o saberes dos povos originários pré-colonização em “A Terra Dos Mil Povos: História indígena do Brasil contada por um índio” (Peirópolis, 2020). A obra viaja desde um tempo longínquo, 15 mil anos atrás, até o processo colonial segundo o olhar de um pesquisador indígena. Devido à sua relevância historiográfica, o título foi incluído na lista de “200 livros para pensar o Brasil”, feita pela Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM-USP).
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Apresentando pela primeira vez a visão do povo Guarani Mbya sem a intermediação de um não indígena, Timóteo Verá Tupã Popyguá escreve em português e guarani “A Terra uma Só” (Hedra, 2022). A obra apresenta uma série de reflexões relacionadas à antropologia e à Mata Atlântica, ao mesmo tempo que traz dados autobiográficos que dão um toque pessoal à narrativa.
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“Xingu: Contatos” (Instituto Moreira Salles, 2023), organizado por Takumã Kuikuro e Guilherme Freitas, é o catálogo da mostra de mesmo nome, inaugurada no final de 2022 no IMS Paulista. Em suas 264 páginas, reúne aproximadamente 200 imagens e entrevistas com as lideranças indígenas Ailton Krenak e Watatakalu Yawalapiti. Também há textos que pensam o futuro, o presente e o passado das aldeias no Xingu.
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CAPA Como resistem os povos indígenas?
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1Podcast da semana Jerá Guarani: "Tem Guarani muito seguro de que tem que viver todos os dias como se fosse o último, com um agradecimento"
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2Reportagem Por que os indígenas são tão pouco representados pelo Censo?
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3Depoimento Creuza Prumkwyj Krahô: "A cidade não é lugar para nós, indígenas"
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4Reportagem Como fortalecer a cultura e os direitos dos povos indígenas
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5Bloco de notas Livros para se aproximar de saberes dos povos originários