Bloco de notas da Semana "Como falar de guerra?" — Gama Revista
Como falar de guerra?

5

Bloco de notas

Bloco de notas

O etnocentrismo na cobertura da invasão da Ucrânia, um novo museu sobre a Alemanha na Segunda Guerra, um filme chocante sobre a guerra na Síria, uma série sobre as guerras que já tivemos em solo brasileiro. Veja as referências da equipe Gama

5

Bloco de notas

Bloco de notas

O etnocentrismo na cobertura da invasão da Ucrânia, um novo museu sobre a Alemanha na Segunda Guerra, um filme chocante sobre a guerra na Síria, uma série sobre as guerras que já tivemos em solo brasileiro. Veja as referências da equipe Gama

13 de Março de 2022
  • Têm circulado pelas redes compilados de reportagens de jornais americanos e europeus com COBERTURAS RACISTAS E ETNOCENTRISTAS da invasão da Ucrânia. Repórteres de veículos renomados como CBS e BBC soltaram frases como “esses aqui não são refugiados sírios, são pessoas brancas e cristãs”, “é muito comovente porque são pessoas de cabelo loiro e olhos azuis sendo mortas” e “isso não é o Iraque ou Afeganistão, é um país relativamente civilizado e relativamente europeu.” Como comentou o advogado Thiago Amparo em coluna recente, nossa empatia é proporcional à humanidade que concedemos a quem sofre.

  • Como se sabe, na guerra, a verdade é sempre a primeira vítima. Para tentar entender as NARRATIVAS SOBRE O QUE ESTÁ SE PASSANDO NA UCRÂNIA, vale ouvir este episódio do podcast Foto de Teresina, com os comentários sempre sagazes dos jornalistas da revista Piauí.

  • Imagem da listagem de bloco de notas
    Divulgação/Companhia das Letras

    A obra de Svetlana Aleksiévitch, escritora bielorrusa vencedora do prêmio Nobel de literatura, é marcada por mostrar as CICATRIZES DA GUERRA EM PESSOAS COMUNS. Entre seus livros publicados no Brasil, há “A Guerra não tem Rosto de Mulher” (Cia. das Letras, 2016), sobre as soldadas soviéticas que lutaram durante a Segunda Guerra Mundial, e “Meninos de Zinco” (Cia. das Letras, 2020), que retrata a brutalidade da guerra soviético-afegã, entre 1979 e 1989. Recentemente, ela veio a público junto a um grupo de escritores convocar a todos que falam russo a revelarem aos cidadãos do país a verdade sobre a agressão na Ucrânia, se posicionando contra a propaganda do governo.

  • Em 2021, foi inaugurado em Berlim o Centro de Documentação Fuga-Expulsão-Reconciliação, com objetos, vídeos e painéis que contam a história pouco conhecida dos 14 milhões de alemães obrigados a deixar suas casas após a derrota do país na Segunda Guerra Mundial (quando a Alemanha perdeu 25% de seu território). Os deslocados tiveram que fugir para as zonas administradas pelas quatro potências vitoriosas, onde, em uma época de escassez e fome, não eram muito bem recebidos. O museu foi visto com desconfiança a princípio por retratar alemães como vítimas, mas, para a ex-chanceler Angela Merkel, ele fecha “uma lacuna na REAVALIAÇÃO DA HISTÓRIA DO PAÍS.”

  • Imagem da listagem de bloco de notas
    © Richard Mosse

    Em um passado bem recente, a República Democrática do Congo passou por uma guerra cujos conflitos duraram mais de 15 anos, envolveram cerca de 40 grupos armados e deixaram 5,4 milhões de mortos (a maioria por doenças e fome). Entre 2010 e 2012, o fotógrafo irlandês Richard Mosse documentou a situação no leste do país usando um antigo filme infravermelho que deu cores rosas e vermelhas para paisagens e pessoas, propondo UM NOVO OLHAR PARA O CONGO e seus sobreviventes.

  • Imagem da listagem de bloco de notas
    Divulgação/Companhia das Letras

    No clássico contemporâneo dos quadrinhos vencedor do prêmio Pulitzer “Maus” (Cia. das Letras, 2005), o cartunista Art Spiegelman evidencia o HORROR DO NAZISMO E DA SEGUNDA GUERRA a partir da história do pai, judeu polonês que sobreviveu ao campo de concentração de Auschwitz. Recentemente, voltou-se a falar do livro porque algumas escolas do estado americano do Tennessee o baniram, justificando que traria linguagem inadequada e ilustrações de nudez e violência. A decisão ocorre em um contexto de questionamento dos currículos escolares em estados conservadores, que têm atacado livros sobre questões como racismo e identidade de gênero. Após a proibição, Maus voltou a liderar a lista de livros mais vendidos no país na Amazon.

  • Imagem da listagem de bloco de notas
    Alexey Venediktov, diretor-chefe da rádio Ekho Moskvy. International Press Institute/Reprodução

    Enquanto toca a guerra na Ucrânia, Vladimir Putin também DESMANTELA A IMPRENSA LIVRE RUSSA. Dia 3 de março, a agência reguladora do país anunciou que a rádio Ekho Moskvi, símbolo da resistência democrática, deveria sair do ar até que adequasse sua cobertura do conflito, retirando palavras como guerra e invasão, proibidas pelo governo. Outros veículos, como o jornal independente Novaya Gazeta, também correm perigo.

  • Indicado ao Oscar de melhor documentário, “For Sama” (2019) (disponível no Now e no Vivoplay) é um RETRATO SENSÍVEL E CHOCANTE DA GUERRA NA SÍRIA. A produção é da cineasta Waad al-Kateab, que filmou os conflitos em Alepo durante cinco anos, período no qual se casou (em meio a bombardeiros) e teve uma filha (Sama). Além de mergulhar na intimidade da família em meio ao horror da situação, ela mostra o cotidiano do hospital em que o marido, médico, trabalhava, e faz reflexões potentes sobre como acompanhamos a guerra pelas redes sociais hoje.

  • “A guerra é nojenta, e o que ela nos tira, quando não nos tira a vida, nunca mais devolve.”

    Joel Silveira (1918-2007) foi um importante jornalista brasileiro que, durante a Segunda Guerra, atuou como correspondente dos Diários Associados na Itália. Ele chegou à Europa no inverno de 1944 e durante nove meses acompanhou a luta dos brasileiros até a rendição alemã. A frase acima é de seu livro “O Inverno da Guerra” (Cia. da Letras, 2005), escrito como um diário de bordo.

  • Imagem da listagem de bloco de notas
    Divulgação/Netflix

    Para entendermos melhor nossos próprios conflitos, a série “GUERRAS DO BRASIL.doc” (2019), disponível na Netflix, conta a violência que fez parte da formação histórico-cultural do Brasil. Com direção de Luiz Bolognesi, os cinco episódios retratam as guerras da colonização europeia, a Guerra dos Palmares, a Guerra do Paraguai, a revolução de 1930 e a criminalidade urbana atual.