Rubens Amatto: “Queremos celebrar o que é mais valioso na cultura do país”
Fundador da Casa de Francisca fala sobre seu desejo de valorizar a arte e a música brasileira na casa de shows que acabou virando centro cultural no centro de São Paulo
A Casa de Francisca, casa de shows que ocupa um palacete restaurado no centro de São Paulo, tem dois momentos importantes em sua pré-história. O primeiro deles foi o primeiro contato de seu fundador, Rubens Amatto, com “Clara Crocodillo” (1980), álbum de Arrigo Barnabé com a Sabor de Veneno, considerado pela crítica como a maior novidade da música do país desde a Tropicália. “Eu odiei com todas as forças mas fiquei intrigado, tentando entender aquele som, mergulhei naquilo e nunca mais fui o mesmo. Passei a ouvir Itamar Assumpção, a Vanguarda Paulista, me levou a muitos artistas e repertórios”, conta Amatto no quinto episódio de “Motivações Genuínas”, que investiga o que move criadores e artistas. A série é criada e dirigida por Ioram Finguerman e tem o apoio daGama.
O segundo momento importante da casa de shows foi a viagem para visitar um amigo em Barcelona. Lá, na primeira noite, ao comer um faláfel e ver a rua viva e cheia de gente e energia, teve certeza: queria realizar algo que levasse essa energia a São Paulo. “Ao voltar, entendi a nossa identidade e como a música traduz essa cidade, que absorve gêneros do país todo, e a a gente passou a ficar atento as expressividades mais variadas.”
Hoje, a Casa de Francisca funciona como um dos espaços mais interessantes para a música em São Paulo. No primeiro endereço, era conhecida como a menor casa de shows da capital. “Numa cidade onde tudo é pensado em escala grandiosa e comercial mega, a gente quis trabalhar o pequeno, o íntimo. As pessoas estavam carentes de espaços menos impessoais. Artistas enormes, acostumados a se apresentar em palcos enormes, se sentiam muito intrigados com um contexto íntimo, desprotegido dos grandes aparelhos, das caixas de som”, conta Amatto.
A mudança para o centro deixou a Casa de Francisca ainda mais próxima da ideia original de cidade viva. “O centro, para mim, tem uma motivação mais que cultural, mais que estética, é uma motivação política mesmo. É a maneira como enxergo a cidade, essa cidade democrática. Queremos celebrar o que é mais valioso na cultura do país, que é a sua gente, a sua arte, a sua música, a sua comida”, afirma no episódio.
Rubens Amatto está na primeira temporada de “Motivações Genuínas”, uma série documental que apresenta um olhar sobre a formação e as histórias de artistas e criadores que realizam projetos relevantes, originais e que têm um efeito positivo na sociedade. Os outros episódios desta temporada trazemo violonista João Camarero; a instrumentistaBeth Beli, fundadora do bloco Ilú Obá deMin; os psicanalistas e escritores André Alves e Lucas Liedke, que juntos fazem o podcast Float Vibes e analisam tendências de comportamento; o designer, artista plástico e criador do Erê Lab, de brinquedos para espaços públicos, Roni Hirsch. São entrevistas de 12 a 25 minutos em que eles contam sobre suas vidas e obras. Os episódios serão lançados semanalmente.
Os vídeos podem ser assistidos no site da Gama e no canal da revista noYouTube.
