O que minha carreira me ensinou — Gama Revista

Curriculum Vitae

O que minha carreira me ensinou

Uma chef, uma advogada, um empreendedor e até uma multi-instrumentista: oito profissionais contam seus grandes aprendizados profissionais

Manuela Stelzer 06 de Janeiro de 2023

Um bom conselho profissional nunca é demais. Tenha ele vindo de uma chef, uma advogada, um designer, um empreendedor ou uma atriz. As funções e o dia a dia podem até ser diferentes a depender da profissão, mas os ensinamentos e as reflexões importantes, que vão de dedicação a propósito e autoconhecimento na carreira, independem do setor do mercado.

Ao longo de 2022, Gama conversou com profissionais de grandes empresas e também de negócios independentes; pessoas que há anos trabalham na mesma inciativa e as que há pouco fizeram uma transição radical de área. Independentemente do contexto, entre perguntas sobre os desafios da carreira e os aprendizados valiosos, selecionamos dez conselhos imperdíveis dados pelos nossos entrevistados do ano – e que podem trazer bons insights e inspirações para a sua trajetória profissional. Seja ela qual for.

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    Hugo Sá

    “Não se conformar com o ‘sempre foi assim’”

    Samantha Almeida, diretora de criação na Globo e ex-head do Twitter Next

    “Nada está estabelecido. Em uma sociedade em revisitação, um profissional de criação e comunicação é o primeiro a sentir o desconforto e ser convocado para o confronto ‘aprendizados estabelecidos versus realidade’. E talvez essa seja hoje a mais importante habilidade de um profissional que deseja construir uma conversa relevante para as pessoas, estar conectado com a realidade. Mas não somente a sua realidade, e sim as que vêm das inúmeras perspectivas que existem. Não se conformar com o ‘sempre foi assim’, mas saber separar o que deve ser mantido para sustentar o presente. Você é o seu legado. Nem toda mensagem dita desde sempre será recebida como sempre foi. O mundo não é o mesmo, e nem nós queremos que seja. Mas o que está por vir precisa ser construído agora, pois já estamos atrasados.”

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    Danilo Sorrino

    “Trabalho para encontrar novos caminhos, para incluir”

    Gustavo Silvestre, designer

    “Eu trabalho para encontrar novos caminhos, para incluir. Incluir, para mim, é uma das coisas mais importantes. A moda já foi muito excludente, com gente pobre, com gente fora do padrão do corpo, com nordestino, com isso, com aquilo. Quando eu cheguei aqui em São Paulo eu fui muito massacrado por esse mundinho da moda. Então eu acho que sou parte dessa turma que está se mexendo para mudar as coisas. A moda precisa ser usada para comunicar coisas importantes, eu não vejo sentido em uma moda despreocupada com o que está acontecendo no mundo.”

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    “Não tentar se encaixar naquilo que as pessoas determinaram como bom ou ruim”

    Felipe Simi, publicitário e fundador da Soko

    “Para quem está começando na publicidade hoje, acho que o melhor conselho que posso dar é não tentar se encaixar naquilo que as pessoas determinaram como bom ou ruim. As réguas foram feitas por pessoas que estão buscando as mesmas medidas, ou seja, que refletem identidades que representam só aquelas pessoas. Falo muito sobre portfólio, que odeio essa prática. Claro, entendo a importância, mas se você mede uma pessoa só pelo que ela é capaz de colocar em uma pasta de trabalhos, é muito injusto. Nem todo mundo tem as mesmas oportunidades, e você tem que olhar para além daquilo que a pessoa conseguiu com o que foi dado de oportunidade para ela. Esse é um dos segredos, buscar essas pessoas. E elas existem, não são poucas agora. Existe muita gente boa fazendo publicidade em lugares inesperados. Às vezes, esses lugares são os melhores para você construir sua carreira. Foi o que aconteceu comigo: não comecei em uma agência tradicional, fui em uma considerada diferente, mas foi a melhor oportunidade que tive para conseguir construir minha carreira nessa área.”

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    Arquivo Pessoal

    “O pragmatismo é tão necessário quanto a ousadia”

    Arlane Gonçalves, consultora de Diversidade, Equidade e Inclusão e uma das Top Voices do LinkedIn

    “Estudem todos os conhecimentos que possam agregar à área de diversidade: antropologia, história, filosofia, sociologia etc. Mas também é importante estudar o mundo dos negócios, seus modelos, suas estratégias. Quando falamos de uma empresa, estamos falando de uma organização com stakeholders, hierarquias e processos. Sem conciliação, não haverá mudanças. O pragmatismo é tão necessário quanto a ousadia, o desafio é equilibrar esses dois fatores. Se nós queremos mudar as organizações, precisamos entender como elas funcionam, quais são suas estruturas e como podemos transitar dentro delas. Sem isso, não iremos avançar. É importante saber escolher suas batalhas. Nós queremos mudar o mundo, mas não damos conta de mudar tudo de uma vez. Temos um número limitado de horas por dia, por isso, é importante focar e direcionar nossa energia ao que acreditamos ser fundamental. Se não sabemos como endereçar certa problemática, nada vai para frente. É importante entender o desafio e saber como dar conta dele.”

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    Rodrigo Assad/Divulgação

    “A inspiração é importante, mas tem também a parte da transpiração”

    Clarice Assad, multi-instrumentista

    “Quando você compõe, quando cria alguma coisa, você precisa criar de algum lugar, aquela criação não vem do nada. Tem gente que insiste em dizer que essa inspiração vem de repente, mas não é bem assim [risos]. A inspiração é importante, mas tem também a parte da transpiração. Música me ensinou a ter disciplina, sentar, estudar e praticar até aquela melodia sair; e também a ter muita paciência, porque você não aprende uma coisa da noite para o dia. Há um processo, e se não gostar desse processo, você não consegue fazer nada. São esses os dois grandes aprendizados que a música me proporcionou. E claro, aprendi a buscar várias curiosidades para me inspirar: ler muito, viajar, aprender sobre as pessoas. Comunicação é outro fator muito relevante, como você se comunica com os músicos e com o público. Tudo faz parte dos aprendizados da música. Acho que todo mundo deveria aprender música só por isso, porque são aprendizados para a vida como um todo.”

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    Divulgação/Anne Claire Heraud

    “Para ser um bom chef, também precisa aprender a trabalhar com as pessoas ao seu lado”

    Alessandra Montagne, chef

    “É muito importante cometer erros. Eu valorizo cada um dos meus. Há seis anos, empreguei um estudante de ciência política que largou tudo para virar cozinheiro. Ele entrou num serviço super difícil, à noite, com o salão cheio. O cliente pediu um filé mignon mal passado, e o menino errou o ponto. Comecei a brigar, e ele entrou em pânico. Aí saí para me acalmar, voltei, peguei no braço dele, falei que eu tinha cometido um erro gigante e a gente conseguiu terminar o serviço. Nunca mais gritei com um dos meus colaboradores. O menino agora é chef e hoje a gente ri disso, mas foi um erro grave. Eu tirei a confiança dele. Se não tivesse me acalmado, todo mundo ia perder: eu, ele e todos os clientes. Para ser um bom chef, também precisa aprender a trabalhar com as pessoas ao seu lado. Sou responsável pela felicidade deles. É minha culpa se alguém se sente mal ou sofre burnout.”

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    Divulgação/Leo Aversa

    “Tenho os pés no chão e a consciência do quanto as coisas são transitórias”

    Bárbara Colen, atriz

    “A carreira de atriz é uma grande montanha-russa. Gravei ‘Bacurau’ em 2018 e, logo depois, fiquei completamente sem dinheiro. Estava sem trabalho e sem grana. Foi o primeiro momento da minha vida que isso aconteceu porque eu trabalho desde os 18 anos e já tinha minha independência financeira. Naquela época, eu fiquei sem dinheiro até para pagar o aluguel. Foi o momento de maior perrengue e bem depois de ter feito um grande filme. O que essa carreira traz para a gente é isso: você pode fazer projetos imensos, pode ir para Cannes em um ano e, meses depois, não ter dinheiro para o aluguel. Por isso, eu tenho os pés no chão e a consciência do quanto as coisas são transitórias. Tanto que, um ano depois, não parei de trabalhar um minuto: fiz a série ‘Onde Está Meu Coração’, do Globoplay, participei das pré-estreias de ‘Bacurau’, atuei em ‘Hit Parade’, série do Canal Brasil. De certa forma, esses problemas servem para a gente entender que as coisas não vão ficar ruins para sempre. O ator precisa ter calma, respirar. E, principalmente, ter projetos próprios para não trabalhar apenas quando alguém chama. É preciso ter outras coisas para além dessa grande espera por um casting, um projeto.”

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    Reprodução / LinkedIn Celso Athayde

    “Eu sempre achava que podia ir além”

    Celso Athayde, empreendedor social e fundador da Cufa (Central Única das Favelas)

    “Tive uma capacidade de perceber o ponto em que eu estava e as respostas que precisava dar para alcançar o próximo ponto. Nunca estou satisfeito com o que eu tenho, sempre tenho a convicção de que preciso olhar para os pontos seguintes. Quando era camelô em Madureira, por exemplo, eu não queria ser quem estava vendendo aquele produto, queria ser o fabricante dele. Eu sempre achava que podia ir além. Outra coisa também foi a sorte que bateu muitas vezes na minha porta e trouxe muitas pessoas para perto. E eu soube ir escolhendo as pessoas que apareciam, porque não apareceram só pessoas legais, muitas tinham comportamentos completamente contrários ao que eu queria. Mas eu soube refletir e renunciar certas relações. Acabei muitas vezes escolhendo o pior caminho para quem queria chegar mais rápido, mas o melhor caminho para quem queria chegar com um grau maior de segurança.”

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    Divulgação

    “A diversidade precisa ser uma meta porque ela enriquece o trabalho”

    Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz

    “Claro que, na minha trajetória, levo muitas lições sobre segurança pública e seu impacto no mundo, mas também aprendi, no Instituto Sou da Paz, a ser uma gestora. Gostar de cuidar e desenvolver uma instituição. Isso tem a ver com o cuidado de pessoas, com o enfrentamento de desigualdades de alguma forma, de promoção de ambientes mais saudáveis de trabalho. É o entendimento de que aquilo que está dentro, e que não necessariamente aparece para o resto do mundo, é tão ou mais importante do que aquilo que aparece para fora. Só conseguimos gerar um impacto bacana e transformar a questão da segurança pública se tivermos uma instituição forte, organizada, sustentável, com pessoas comprometidas. E para isso, há muito trabalho interno: batalhar pelas pessoas, por remunerações melhores, por outros incentivos, fazer planos de avaliação, de desenvolvimento institucional, trazer formação e fomentar políticas de equidade racial e de gênero. A diversidade precisa ser uma meta porque ela enriquece o trabalho, amplia perspectivas, traz novos olhares. Do ponto de vista externo, considerando o Brasil, temos que sair do lugar de quem só aponta problemas – sem deixar de fazer a denúncia, mas mostrar que há caminhos, que há pequenos ganhos e conquistas também. Isso tem muito a ver com o meu perfil. Uma parte de mim será eternamente esperançosa e otimista. Esse equilíbrio, combinar o papel crítico e o construtivo, é difícil. Um professor que gosto muito, Luiz Eduardo Soares, falava sobre esperança junto ao otimismo, e que a esperança é um dever. Carrego isso comigo.”

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    Divulgação

    “Você sempre tem que experimentar, não ter medo de errar”

    Mini Kerti, diretora e produtora

    “Você sempre tem que experimentar, não ter medo de errar e, ao mesmo tempo, é preciso ter seus princípios. Colocar a sua opinião, conversar, achar a sua cara, o seu jeito, o seu caminho, ser autoral. Para o diretor, a diferença entre cinema e as séries é que no cinema, antigamente, o diretor era a principal figura. O filme geralmente é uma ideia sua, por mais que você trabalhe com o roteirista. Você vai lá e filma como quiser. Na série, o papel do roteirista ganha uma importância maior porque, às vezes, o diretor faz uma temporada e não faz outra. Ou faz uma direção artística e tem outros diretores envolvidos, são muitas semanas, muitos meses. Você vai dirigir sua cena, seu episódio só, um momento. Fazer com amor, com vontade, com tesão, aquilo que você gosta e quer, sem medo e seguindo seus princípios, é importante.”

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