Curriculum Vitae -- CV: Felipe Villela — Gama Revista
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CV: Felipe Villela

Com apenas 28 anos, o empreendedor pretende regenerar mais de 1 milhão de hectares de terras agrícolas no mundo com agroflorestas

Betina Neves 02 de Setembro de 2021

Foi durante uma viagem de carro de Porto Alegre (RS) até a Amazônia que o empreendedor Felipe Villela, na época com 18 anos, se deu conta de como a agricultura estava pressionando a preservação ambiental pelo país. Felipe tinha passado a infância entre temporadas na fazenda de laranja da família no interior de São Paulo e já vinha se interessando por sistemas agrícolas que fossem mais sustentáveis. Depois da viagem, largou a faculdade de engenharia de produção que cursava na capital gaúcha e começou a aprofundar o estudo na área. Nesse processo, foi morar cinco meses no sul da Bahia com o suíço Ernst Götsch, criador da chamada agricultura sintrópica, sistema de cultivo que produz uma “floresta” de comida, preserva o solo e não usa aditivos químicos.

“Vi que tinha muito conhecimento disponível sobre regeneração da natureza no meio agrícola e comecei a questionar porque as grandes empresas e políticas públicas ainda não estão adotando essas práticas no Brasil”, conta. Percebendo que essa discussão já estava muito avançada na Europa, Villela se mudou em 2015 para Amsterdã, na Holanda, para ingressar em um curso de agronegócio sustentável. Três anos depois, quando falava sobre agrofloresta em um evento, conheceu seu atual sócio, Marco de Boer. “Ele tinha o dobro da minha idade e já acumulava experiência na área”, conta. “Era o que eu precisava para dar início a reNature.”

Tinha muito conhecimento sobre regeneração da natureza no meio agrícola e comecei a questionar porque as grandes empresas ainda não estão adotando essas práticas no Brasil

A reNature atua principalmente no Brasil e no sudeste asiático, maiores focos de desmatamento do mundo, desenvolvendo modelos que provam que as agroflorestas podem ser bem-sucedidas na agricultura em larga escala – o objeto é regenerar com elas 1 milhão de hectares de terras agrícolas até 2030. A empresa ajuda agricultores a fazer a transição para o modelo e cria escolas que capacitam os trabalhadores em técnicas agroflorestais.

Villela também trabalha em parceria com empresas como Danone, Lush e Chandon para analisar a cadeia de fornecedores e ver onde pode agir para tornar a produção de matéria-prima mais sustentável. Com a Nespresso, da Nestlé, por exemplo, estão regenerando fazendas de café do Cerrado mineiro que estavam sendo altamente impactadas pelas mudanças climáticas. “Nosso trabalho envolve mostrar que, com esse sistema de plantio, conseguimos diminuir os custos, aumentar a resiliência climática para ter uma produtividade mais estável e ainda diversificar a renda do agricultor.” Em 2019, Villela foi finalista do prêmio Jovens Campeões da Terra, da ONU, e, em 2020, saiu na seleção brasileira da Forbes Under 30.

Hoje, ele segue morando em Amsterdã, que define como um lugar central para captar recursos, mas viaja constantemente para visitar os projetos, ficar em contato com os coordenadores e especialistas locais e frequentar congressos e conferências. A Gama, ele fala sobre os desafios de atuar na área ambiental e como vida pessoal e trabalho se misturam.

  • G |Como foi sair do Brasil para empreender?

    Felipe Villela |

    Estar em Amsterdã é muito estratégico. No Brasil, investidores e empresas ainda não estão lavando a sério a sustentabilidade. Muita coisa não sai do papel, e reservam verbas ridículas para isso. Aqui na Holanda, estão investindo pesado. Também foi bom vir para cá para fazer contatos, porque comecei muito novo – quando eu ia numa conferência climática eu até botava terno e gravata para me levarem mais a sério.

  • G |Você vive para trabalhar?

    FV |

    Essa pergunta é interessante, porque eu não considero isso um trabalho, sabe? Se eu não tivesse criado a empresa, isso já seria meu estilo de vida. Então eu não consigo me ver sem trabalhar com isso. Às vezes, eu estou com pessoas da mesma área e a gente tenta não falar de trabalho, mas na nossa vida pessoal as preocupações são as mesmas que a gente está tentando resolver no trabalho, então tem um overlap aí.

  • G |Você teve algum mentor?

    FV |

    Alguns. Minha mãe, pelo lado inspiracional, de amor à natureza. E também o Ernst Götsch, com quem morei para aprender sobre agrofloresta. Outra pessoa importante foi o Fernando Russo, brasileiro que mora em Amsterdã e primeiro investidor na reNature, que me ajudou a entender como empreender nesse meio de impacto ambiental.

  • G |Você já desanimou?

    FV |

    Eu continuo acordando bem animado para trabalhar com isso. Claro que tem dias que dá vontade de ir morar numa ilha e abandonar tudo. Mas, para mim, isso seria muito egoísta. Eu já cheguei a passar temporadas em ecovillas, por exemplo, mas quando estava todo mundo ali de mãos dadas eu ficava frustrado. Eu pensava: “Essas pessoas são incríveis, mas elas estão pregando pra convertido”. Eu quero trazer eficiência para a mudança. A gente tem pouco tempo. Então eu fui para um caminho diferente, nem melhor, nem pior. E ver como está o mundo hoje me dá um fogo de querer fazer o que eu estou fazendo. Eu sou muito otimista em relação ao fato de a gente conseguir inverter esse cenário climático, apesar de ver os todos os dados desanimadores. Sigo bem positivo.

  • G |Como tem sido esse período de pandemia?

    FV |

    No começo tiveram alguns desafios, porque alguns clientes não permitiam que nossos técnicos estivessem em campo com os produtores, tivemos que fazer coisas online. Mas, de maneira geral, tem sido positivo, porque o apetite do mercado para esse tipo de investimento só aumentou. Esse período trouxe muita reflexão para as pessoas e as empresas sobre a forma que a gente está tratando a natureza.

  • G |Quais são os desafios da sua área?

    FV |

    Quando uma empresa cresce muito rápido precisa tomar decisões ligeiras e bem inteligentes. E também gerir a equipe, lidar com erros e acertos. Mas, de maneira geral, meu desafio é a impaciência com algumas empresas. Muitas acham o projeto legal mas falam: “Ah, vamos fazer, mas ano que vem”. E eu fico: “Gente, como assim? Vocês já pararam para olhar os dados climáticos?” Então eu tenho que lidar com essa sensação de urgência que eu percebo que muitas pessoas ainda não têm. Isso me deixa um pouco frustrado.

  • G |O que você diria para alguém que quer trilhar um caminho parecido?

    FV |

    Eu recomendo muito contato com a natureza. Muitos dos meus insights vêm de caminhadas na floresta. Eu adoro escutar os pássaros, observar os insetos. Fazendo as coisas mais simples na natureza, a gente encontra as melhores respostas. E também perseverança, consistência e confiança de que é isso que deve ser feito. Precisa estar seguro para se dedicar, até para lidar com as resistências. Mas também é impressionante como quando você quer fazer uma coisa com propósito as pessoas aparecem para te ajudar e as coisas acontecem na hora certa. Comigo tem sido assim.

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