Como manter o foco
Nunca tivemos tantos estímulos – e empresas de tecnologia – disputando a nossa atenção. Veja dicas para melhorar a concentração
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Saiba dizer não e se desconcentre do que não importa –
Se referindo à capacidade de concentração, o filósofo Leandro Karnal cita em seu canal uma fala famosa do Steve Jobs: “ter foco é dizer não”. Ele conclui, então, que ter foco não é só se concentrar em uma coisa, mas desconcentrar-se das outras. Isso pode significar, primeiro, dizer não às distrações que vem de fora: reduzir compromissos para manter uma agenda saudável, delegar tarefas e funções quando possível, comunicar às pessoas ao redor que durante determinado período você não está disponível. Depois, às distrações tecnológicas: dizer não para mil abas abertas no navegar, para as notificações de WhatsApp, para os impulsos de checar o email e as redes sociais pela centésima vez (talvez ajude desligar o celular ou colocá-lo em modo avião para isso). Aliás, tenha consciência dos mecanismos por trás das ferramentas digitais, praticamente feitos para nos “viciar”. Por último, é preciso dizer não para as distrações internas: priorizar ideias, exercitar a paciência, domar a procrastinação. Ter uma rotina organizada – o que não quer dizer engessada – é essencial nesse sentido, e isso inclui reduzir a bagunça e a poluição visual do seu espaço. Gurus da organização costumam recomendar o aplicativo e site Notion para administrar a tempo, mas há quem prefira agendas de papel – o importante é tirar as informações da cabeça, porque ficar remoendo sua lista de futuras tarefas pode prejudicar o foco. -
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Fragmente o tempo – e não seu cérebro –
“O multitasking é um conceito inventado. O cérebro faz bem uma tarefa; se ele tiver uma dupla ou tripla tarefa, as outras serão colocadas em segundo plano e vão comprometer a ação daquela primeira”, disse o neurocientista Leandro Teles em entrevista a Gama. Ou seja: o cérebro não consegue realizar várias tarefas de uma vez com a mesma qualidade, e gastamos muito mais tempo fazendo duas ou mais coisas ao mesmo tempo do que se focássemos em uma de cada vez. Eliminar o multitasking pode parecer impossível hoje, mas qualquer redução é benéfica. Uma prática amplamente recomendada para isso é temporizar tarefas usando técnicas como a “Pomodoro”, inventada por um estudante italiano na década de 1980. A ideia é criar blocos de concentração de 20 minutos (nos quais você foca em uma tarefa específica) com intervalos de cinco minutos entre eles. Depois de quatro desses blocos de 20 minutos, há um intervalo maior de 15 minutos – hoje há sites gratuitos de Pomodoro que cronometram tudo pra você e ainda põe uma música instrumental de fundo. A coisa funciona porque já se sabe que o cérebro foca melhor alternando entre o modo “difuso” e o modo “focado” – nos intervalos você pode fazer algo prazeroso como brincar com o cachorro ou tomar um pouco de sol. -
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Mantenha o corpo são e entenda o seu ritmo –
Ter um estilo de vida saudável também ajuda na concentração. Estudos já relacionaram dormir bem, comer bem, se hidratar, respirar fundo, praticar exercícios físicos e ingerir cafeína moderadamente com o desempenho cerebral. Isso também inclui observar o ritmo do seu corpo para entender em que parte do dia você consegue focar melhor em determinado tipo de tarefa (mais mecânica ou mais criativa, por exemplo) e se organizar para adaptar sua rotina a isso o quanto for possível. -
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Pratique a concentração e a presença ativamente –
A ciência explica que o próprio mecanismo do cérebro foca e desfoca freneticamente e, como manter a concentração requer energia, é natural que o organismo resista. Então focar é, em grande parte, perceber a distração e retornar quantas vezes for preciso – quanto mais rápido você conseguir recomeçar, mais o foco se fortalece. Práticas como a meditação e a atenção plena (o famoso mindfulness) podem ajudar nesse “treino”. Para além de ficar sentado de olhos fechados, isso pode envolver narrar para si mesmo o que estiver fazendo durante qualquer atividade (“agora estou escovando os dentes, agora estou refogando uma cebola”), e assim treinar a concentração em uma única atividade. Você pode criar pequenas metas, como se sentar para ler dez páginas de um livro sem desviar a atenção ou mesmo ver um episódio de série sem encostar no celular. Tocar um instrumento musical ou fazer uma atividade manual também. O americano Cal Newport, professor da Georgetown University e autor de livros como “Deep Work: a Concentração Máxima num Mundo de Distrações” (esgotado no Brasil), recomenda se permitir ter períodos de tédio (em uma fila, dentro do táxi, no banheiro ou sentado na varanda) porque, se você pega o celular toda vez que tem um segundo livre, seu cérebro associa tédio a estímulo, e isso prejudica o foco em outras tarefas. -
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Entenda os benefícios do foco e faça uma investigação interna –
No vídeo supracitado, Leandro Karnal lembra que parte do nosso estresse no dia a dia é ir de um ponto ao outro sem levar nada adiante, e que realizar atividades de forma mais focada nos economiza tempo. Nesse sentido, é importante lembrar que ser mais focado não é benéfico só para ser mais produtivo no trabalho. Como explica bem a tradição budista – é só ouvir algumas palestras da Monja Cohen – concentrar a atenção no momento presente ajuda a reduzir a ansiedade e o fluxo de pensamentos negativos e a ter relações de mais qualidade. A falta de foco também pode dizer muito sobre a saúde mental (buscar distrações pode ser um jeito de escapar de desconfortos como ansiedade e solidão) e requer uma investigação na terapia, por exemplo. A monja lembra que é preciso sair do automático para entender no que você está depositando sua atenção e o porquê disso para passar a tomar decisões melhores.