Como Ser Artista

“Arte é para qualquer um.” É com essa frase que o renomado crítico da New York Magazine, Jerry Salt, abre o livro “Como Ser Artista” (Seiva, 2025) — dizendo logo de cara a que veio ao romper com a visão tradicional da arte como uma atividade elitista, exclusiva para alguns poucos seres iluminados. A declaração também está em linha com o restante da obra, best-seller no New York Times, em que o autor lança mão de exemplos e citações marcantes na história da arte para indicar os caminhos possíveis e até recomendáveis para todo mundo que sonha ser artista.

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O livro, com tradução de Julia Lima, serve como uma espécie de manual tanto para artistas amadores quanto profissionais, ou ainda como uma leitura instigante para quem divide com Saltz o mesmo amor pelo tema. Em ensinamentos curtos mas repletos de experiência e significados, a obra abrange os lampejos iniciais de inspiração, o árduo processo da criação e formas de lidar com o complexo mercado da arte.

Saltz sugere ainda exercícios e dicas práticas, deixando claro por que é há tanto tempo um dos nomes mais importantes da crítica de arte mundial. Em meio a instruções sobre como superar aquele infame bloqueio criativo, enfrentar inúmeros desafios profissionais e aproveitar ao máximo aquilo que o artista tem em mãos, o autor sempre enfatiza a relevância de trabalhar com alegria — mesmo que não seja possível o tempo inteiro.

Ilustrado com imagens inspiradoras de figuras como a célebre fotógrafa Vivian Maier (1926-2009) e pinturas clássicas de artistas como Velázquez (1599-1660) e Goya (1746-1828), o livro é presença obrigatória na estante de quem, como Saltz sugere já em sua primeira dica, não tem vergonha alguma de se expressar artisticamente.

Primeiro passo
Você é um completo amador
O que considerar antes mesmo de começar

1.
Não sinta vergonha

Eu entendo. Fazer arte pode ser humilhante. Aterrorizante. Pode fazer você se sentir exposto, vulnerável, como quando nos despimos na frente de outra pessoa pela primeira vez. Pode revelar coisas sobre você que os outros talvez achem chocantes, esquisitas, tediosas ou estúpidas. Você pode achar que as pessoas vão te considerar anormal, sem graça, sem talento. Que seja. Quando eu trabalho, minha mente fica acelerada com muitas inseguranças: Nada disso presta. Não faz nenhum sentido. Qualquer um que ler isso vai saber que eu sou um idiota. Mas arte não precisa fazer sentido. Arte é como o canto dos pássaros: é feita de padrões, inflexões, nuances, variações — coisas que têm impacto emocional e perceptivo, mesmo que nunca consigamos traduzir de fato seus significados. Cada obra de arte é uma paisagem cultural do artista, feita de suas memórias, dos momentos que passou trabalhando, de suas esperanças, energias e neuroses, da época em que vive e de suas ambições. Das coisas que são envolventes, misteriosas, significativas, resistentes ao tempo.

Não se preocupe se sua arte “faz sentido”. Quanto mais rápido seu trabalho fizer sentido, mais rápido as pessoas perderão o interesse. Abandone a ideia de “ser bom”. Comece a pensar em criar.

2.
“A imaginação é mais importante que o conhecimento.”
Albert Einstein

A imaginação é infinita e está sempre presente. Ela é uma lente, uma ferramenta que amplia a vida, que anima seu próprio oceano Cambriano de formas passadas, formas presentes e formas futuras potenciais. Ela agrega o que Samuel Taylor Coleridge chamou de “belíssima tolice”, tornando reais as coisas irreais, e irreais as coisas reais. Jure lealdade à imaginação; esteja à altura dela; honre-a e escute-a; deleite-se com ela; deixe que ela seja sua lâmpada mágica e seu tapete voador. A imaginação estende sua mente ao mundo à sua volta. Ela pressuriza, compõe, decompõe e conecta pensamentos. Ela é inseparável de você e estará com você até o dia de sua morte. “A imaginação não é um estado”, disse William Blake. “Ela é a própria existência humana.”

A criatividade é o que você faz com sua imaginação. Escreva seus devaneios, seus momentos de maravilhamento e de medo, seus sonhos e delírios de grandeza. E então bote tudo isso para trabalhar.

Faça da imaginação sua bússola.

3.
“Conte sua própria história e você será interessante.”
Louise Bourgeois

Amém, Louise. Não se deixe controlar pelas definições de habilidade ou beleza estabelecidas pelos outros, nem se limite pelo que supostamente é elevado ou vulgar. Não se restrinja à sua própria raia. Colorir dentro das linhas é coisa de criança; garantir que as somas batam é para contadores. Proficiência e destreza só são úteis se você souber como usá-las. Mas também se lembre de que não é porque você está contando sua própria história que automaticamente será digno de aplauso. É preciso conquistar a audiência. E não espere alcançar isso com um único projeto definitivo. Artistas não conseguem captar tudo sobre si em apenas uma obra, ou contemplar todas as suas facetas em cada novo trabalho. É preciso estar um pouco separado de sua arte — o suficiente para ver de maneira clara o que se está fazendo, para testemunhar o trabalho e segui-lo. Comece engatinhando e sinta prazer nesses primeiros passos. Mesmo quando estiver fingindo, faça isso à sua maneira.

• Como Ser Artista
• Jerry Saltz (trad. Julia Lima)
• Seiva
• 171 páginas

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