Oito obras de artes visuais que falam sobre o Brasil de 2022 — Gama Revista

Oito obras de artes visuais que falam sobre o Brasil de 2022

Gama visita a mostra “Um Século de Agora”, que reflete sobre a produção artística brasileira cem anos após a Semana de 22, no Itaú Cultural, e destaca alguns de seus trabalhos e artistas

Amauri Arrais 08 de Dezembro de 2022

Um olhar pela produção artística brasileira de hoje, cem anos depois da Semana de Arte Moderna de 1922. Se a premissa da exposição “Um Século de Agora”, no Itaú Cultural, já era um tanto difícil de dar conta, conhecer a mostra é talvez uma experiência que não se esgota em uma única visita.

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São mais de 70 obras, entre pinturas, fotografias, instalações e vídeos assinados por 25 artistas e coletivos de 11 estados brasileiros de diferentes realidades e perspectivas históricas. Além de celebrar o momento histórico, a exposição propõe expandir os horizontes e trazer novas narrativas para este século. Por isso, a maioria das obras e projetos foi produzida ou concluída em 2022, isto é, no agora.

Para tentar dar mais subsídios – e não limitar – a experiência do espectador, Gama visitou a mostra e separou oito exemplos deste rico panorama artístico atual. São obras que vão da pintura figurativa à instalação afrofuturista, um resumo da diversidade presente em toda exposição, mas que, como toda lista, não abarca toda sua riqueza de múltiplas linguagens, abordagens e universos. “Um Século de Agora” tem entrada gratuita e fica em cartaz até abril de 2023.

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    Reprodução Instagram/ @revolucaoperiferica

    Faixas e Ato Borba Gato

    Coletivo Revolução Periférica

    Uma faixa do coletivo, responsável pela manifestação simbólica que ateou fogo à estátua do bandeirante Borba Gato em julho de 2021, recepciona os visitantes da exposição no vão da escada de acesso ao primeiro andar. Nela, está escrito: “A periferia segue viva”. Outra faixa, esse elemento tão presente na cultura urbana, sobretudo em protestos, chama a atenção na mostra. É uma réplica daquela usada na ação que tornou o grupo mais conhecido, em que se lê: “A favela vai descer e não vai ser Carnaval”, uma referência à música “O dia em que o morro descer e não for Carnaval” (1996), de Paulo Cesar Pinheiro e Wilson das Neves. Registros de um Borba Gato em chamas feitos pelo fotógrafo Rafael Vilela também estão presentes, como uma maneira que o grupo convida ao debate sobre a história e a representação de personalidades e imagens perpetuadas em monumentos.

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    Divulgação

    “A Vingança de Cam”

    Juliana dos Santos

    O quadro inédito da artista visual e arte-educadora propõe um contraponto ao famoso “A Redenção de Cam”, pintado pelo espanhol Modesto Brocos em 1895 e que mostra uma avó negra agradecendo aos céus pela pele clara do neto, numa referência às teorias propagadas na época de branqueamento da população do país com a miscigenação. Na obra de Juliana Santos, vemos sua avó com o neto (sobrinho da artista), ambos negros, em uma imagem que remete aos álbuns de família, com uma pequena intervenção com uso de pétalas de flor azul. Desta forma, enfatiza a luta dos movimentos negros ao longo do século 20 para a manutenção da vida e da identidade de pessoas negras no Brasil.

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    Divulgação

    “Cosmoverse”

    A TRÄNSALIEN

    Não será a primeira vez se você topar com algum visitante da mostra vestindo um figurino repleto de brilhos. A instalação da multiartista trans A TRÄNSALIEN, identidade pós-humana de Ana Giselle, deixa à disposição do público alguns dos trajes usados em suas performances e, não raro, alguém decide passear pela exposição usando um deles. A ideia é que o visitante seja mesmo o epicentro do trabalho, incorporando as indumentárias para visitar ainda o espaço imersivo criado pela artista, composto pelos vídeos “COSMOVERSE ARKSTRA” (2020), “INNER COSMOS” (2022) e “JOURNEY” (2022). Com referências afrofuturistas, a obra busca promover uma reflexão sobre o espaço-tempo em cada uma das intervenções entre sujeito e obra, artista e público, arte e vida.

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    Divulgação

    “Fila de Ossinhos”

    Dalva de Barros

    O traço delicado e as cenas aparentemente prosaicas da pintora mato-grossense contrastam com o tema de algumas de suas pinturas, que registram desde manifestações populares às tragédias cotidianas do país com olhar sensível e crítico. É o caso de “Fila dos Ossinhos” (2022), em que retrata moradores à espera para comprar ossos de um açougue em seu estado. Também estão na mostra outras obras realizadas pela artista de 87 anos nas últimas quatro décadas, seus testemunhos das transformações sociais que lhe renderam o apelido de “pintora-repórter”: “Missa para Alcides” (1980), “Almoço dos Garis” (1994), “Brasil 500 Anos (Nada Temos)” (2000) e “Profissionais da Saúde – A verdadeira eucaristia II” (2021).

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    Divulgação

    “Orelhinhas”

    Sara Lana

    Na entrada de um dos três andares da exposição, o visitante se vê cercado por cinco orelhões que, em vez dos antigos telefones públicos movidos a fichas ou créditos, trazem alto-falantes com registros de ligações. A obra surgiu a partir de uma navegação virtual da artista mineira pelas margens dos rios Doce, São Francisco e Jequitinhonha, em Minas Gerais. Sara percebeu a quantidade de orelhões na região e decidiu utilizá-los como microfones para a gravação dos sons dos arredores. Ao ligar para esses telefones públicos e conversar com as pessoas que atendiam, a artista nota a riqueza dos seus relatos sobre suas vidas e seu entorno, que trazem consigo a cultura ribeirinha.

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    “Pietá Piatã”

    Denilson Baniwa

    Artista, curador e ativista pelos direitos dos povos originários, Baniwa traça um paralelo entre Piatã, figura da mitologia do povo macuxi de Roraima, e a Pietá, obra clássica da arte ocidental, de Michelangelo, que representa Maria segurando seu filho Jesus, morto em seu colo. Sem se limitar ao luto, a pintura do artista expõe a resistência de estar vivo em uma sociedade em que pessoas indígenas são alvos de diferentes ataques à sua arte, identidade e existência ao longo dos séculos. A série “Ficções Coloniais”, de sua autoria, também faz parte da exposição.

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    “Auto-retrato”

    João Cândido Silva

    Um dos artistas mais longevos em atividade no país, o mineiro de 85 anos se coloca em diálogo com o passado, o presente e o futuro com suas obras, entre as quais o “Autoretrato”, pintado em 2006. Com os quadros, homenageia sua ancestralidade e as celebrações afro-brasileiras, uma de suas maiores inspirações, uma vez que é um dos fundadores da Escola de Samba Unidos do Peruche. De sua autoria, também estão em exibição “Empinando Pipa” (1979) e a série que traz os quadros “Em busca de suas raízes”, “Paradinha: Só Bateria!”, “Liberdade e Harmonia”, “Forró ao Ar Livre” e “Trio no Pé da Serra”, todos produzidos em 2022 para a mostra.

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    Divulgação

    “Assojaba Tupinambá”

    Glicéria Tumpinambá

    Quem visitar (ou revisitar) a exposição a partir de dezembro, poderá ver ainda o manto “Assojaba Tupinambá” (2021), da artista e ativista também conhecida como Célia Tupinambá, trazido por ela ao museu após usá-lo para uma homenagem que recebeu em uma universidade. Indumentária tradicional do povo Tupinambá, inspirado nos originais do século 16 que foram levados pelos colonizadores para museus da Europa, a obra é feita de cordões com cera de abelha jataí e plumagem de aves diversas resgatadas na Serra do Padeiro, na Bahia. Para modelar a malha em que são presas as penas, a técnica escolhida foi o jereré, ainda hoje empregado na produção de redes de pesca. A instalação contém um vídeo que demonstra o processo de seu feitio, representando identidade, a transformação e a resistência desse povo.

Este conteúdo é parte da série “Ecos de Outros 22”, produzida em parceria com o Itaú Cultural, uma organização voltada para a pesquisa e a produção de conteúdo e para o mapeamento, o incentivo e a difusão de manifestações artístico-intelectuais.

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