Dez livros biográficos que marcaram 2023
De Rita Lee a Elliott Page, veja os principais lançamentos literários do ano que trataram, sem constrangimento, da vida como ela é
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“As Pequenas Chances”, de Natalia Timerman (Todavia)
Escritora e psiquiatra ficcionaliza a morte do pai numa narrativa sensível, carregada de ternura e drama
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Após abordar o fenômeno do “ghosting” em seu primeiro romance, “Copo Vazio” (Todavia, 2021), Natalia Timerman lida com um tipo de desaparecimento ainda mais doloroso em “As Pequenas Chances”. No livro, que carrega fortes toques autobiográficos, ela encara de frente a tristeza e as memórias que cercaram a morte do pai, vítima de um câncer. Numa escrita emocionante e profundamente lúcida, singela mas de enorme força, Timerman trilha os caminhos da autoficção, explorando a exemplo de autores como Annie Ernaux e Karl Ove Knausgard as raízes do amor e do luto a partir de sua história pessoal, percorrendo a ficção como única forma de chegar à verdade.
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“Pageboy”, de Elliot Page (Intrínseca)
Livro de memórias relata traumas e pressões que ator de “Juno” precisou enfrentar sobre seu gênero e sexualidade
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No livro de memórias, Page conta sua dolorosa trajetória até assumir publicamente a homossexualidade, em 2014, e o fato de ser um homem transgênero e queer em 2020. Além disso, explora o passado rodeado de preconceito e repressões, que partiam desde amigos da escola até familiares. Recheado de detalhes e revelações sobre os bastidores de Hollywood, o livro é também uma narrativa que questiona de forma íntima temas como sexo, amor e traumas. Do medo em relação à visibilidade como artista, que chegou a impedi-lo por muito tempo de viver seus desejos e sonhos, o ator acabou se tornando um facho de luz para muita gente mundo afora.
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“Rita Lee: Outra autobiografia”, de Rita Lee (Globo Livros)
Na continuação da obra, cantora fala com humor sobre o câncer e a morte numa profunda reflexão sobre a vida
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Rita Lee (1947-2023) se foi, mas a rainha do rock brasileiro deixou um último presente para seus fãs. A continuação de “Rita Lee: Uma autobiografia” (Globo Livros, 2016) trata de maneira sincera a respeito de seu câncer, que ela descreve como “um elefante deitado sobre o lado esquerdo do meu corpo”, também narrando a última parte de sua existência com a graça, irreverência e provocação que acompanharam a artista ao longo de toda a vida. Na obra, a cantora mostra preocupação com as novas gerações e avalia a influência de suas composições entre os jovens. “Me emociono quando escrevem que não são aceitos pelos pais por serem diferentes, e como minhas músicas são uma companhia e os libertam nessas horas de solidão.”
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“Quem Matou Meu Pai”, de Édouard Louis (Todavia)
Autor retrata pai machista e decrépito para falar do efeito devastador da opressão sobre o indivíduo
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O cultuado escritor francês aborda na obra a saúde em deterioração do pai, que se machucou num grave acidente de trabalho. Figura distante desde a infância do autor, marcada por uma frieza paterna autoritária, machista e homofóbica, o sujeito que Louis descreve no livro é surpreendentemente sensível, sonhador e profundamente infeliz — mas somente nas entrelinhas. Essa pessoa surge em momentos pontuais ao longo da infância, numa foto sorrindo, vestido de mulher, ou na descoberta de que, na juventude, o pai tinha sido um exímio dançarino. É com esse indivíduo, que o autor praticamente desconhecia, que ele tenta fazer as pazes durante uma última visita.
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“Submundo: Cadernos de um penitenciário”, de Abdias Nascimento (Zahar)
Relato inédito apresenta a experiência do artista e ativista negro durante mais de um ano aprisionado no Carandiru
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No começo da década de 1940, o escritor e artista em múltiplas frentes Abdias Nascimento (1914-2011) adentrou os muros do Carandiru. Um dos principais pensadores do movimento negro no Brasil, ele foi preso oficialmente por uma infração administrativa cometida durante o serviço militar. Mas a prisão trazia consigo ares de perseguição política e racial. Os manuscritos que Nascimento produziu no tempo que passou no presídio chegam pela primeira vez ao público em “Submundo”. Nas mais de 300 páginas, o artista registra o dia a dia por trás das grades, o sofrimento do isolamento e a surpresa ao se deparar com detentos que em nada lembravam aqueles descritos nas crônicas policiais. Ao tomar para si a perspectiva do preso, Nascimento questiona a visão instituída na sociedade sobre os detentos, as injustiças do sistema carcerário e, como homem negro, os crimes que realmente o levaram para trás das grades.
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“Paixão Simples”, de Annie Ernaux (Fósforo)
Em ode aos apaixonados, vencedora do Nobel reconta o sentimento que viveu por um homem casado
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Assim como em “O Jovem” (Fósforo, 2022), a escritora francesa busca em “Paixão Simples” retratar de maneira íntima sua vivência de um relacionamento intenso, que deixou marcas profundas. Dessa vez, o foco recai sobre o sentimento por um homem casado, quando, divorciada e mãe de dois filhos crescidos, a vencedora do Nobel viveu a radical experiência de se apaixonar. Mais um capítulo do projeto de Ernaux de reviver na literatura passagens marcantes de sua vida, o livro é uma ode ao ato de se apaixonar, sem reprimendas ou julgamentos. Como nos retratos que fez de outros aspectos de sua vida, a exemplo do aborto da juventude e da relação conturbada com a família, a narrativa compreende também o rastro que uma paixão tão intensa deixou em seu dia a dia.
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“Meu Irmão, Eu Mesmo”, de João Silvério Trevisan (Alfaguara)
Em livro, escritor e ativista LGBTQIA+ lida com a perda do irmão, que era também seu melhor amigo
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Em 1992, o escritor, dramaturgo e cineasta João Silvério Trevisan descobriu que havia sido infectado pelo vírus HIV. Mas a tragédia acaba atingindo mesmo o irmão Cláudio que, pouco depois, foi acometido por um câncer linfático fulminante, morrendo aos 48 anos. É a história da estreita amizade que mantinha com ele que João traz à tona em “Meu Irmão, Eu Mesmo”. Ao resgatar a infância ao lado de Cláudio, que desde cedo demonstrava um dom natural para atrair acidentes e ferimentos, o autor lida à sua forma, numa prosa limpa, direta e evocativa, com essa relação de irmãos e amigos cuja intensa força se opunha à fragilidade de seus corpos.
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“A Mulher em Mim”, de Britney Spears (Buzz)
Em livro de memórias, a Princesa do Pop quebra recordes de vendas e acumula revelações polêmicas
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Muito mais do que um catalisador de fofocas e polêmicas, a autobiografia de Britney Spears traça um relato intensamente pessoal de uma das estrelas que tiveram sua vida longe das câmeras e sua saúde mental exploradas de forma quase sempre preconceituosa e excessiva. Um dos maiores fenômenos da história da música pop, a cantora foi sexualizada e tratada por boa parte da carreira como má influência para os jovens, uma mãe problemática e uma artista incapaz de lidar com os percalços da fama. Com os direitos de adaptação para cinema e TV disputados a tapas, porém, “A Mulher em Mim” nos apresenta outros lados de Britney, uma pop star que ousou compartilhar seus problemas e dificuldades com o mundo.
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“Luz Del Fuego”, de Javier Montes (Fósforo)
Brasileira ficou famosa por aparições nua enrolada numa cobra, em defesa do naturismo, da natureza e da diversidade sexual
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Uma das presenças mais aguardadas dos bailes do Carnaval carioca nos anos 1940 e 1950, Luz del Fuego era muito mais do que uma polêmica aparição anual; foi também uma radical questionadora da sexualidade, da política e dos costumes da época, influente até os dias de hoje. Além de ter criado a primeira comunidade naturista do Brasil, fundou um partido político em defesa da prática, viveu abertamente sua pansexualidade e foi defensora ferrenha das causas ambientais e dos direitos LGBTQIA+. Nas palavras do escritor espanhol Javier Montes, del Fuego ganha vida num relato que mistura realidade e ficção – até porque uma está sempre incluída na outra.
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“Trinta Segundos Sem Pensar no Medo”, do Bookster (Intrínseca)
De leitor para leitor, influencer de livros estreia na escrita com volume de memórias literárias
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Um dos nomes mais conhecidos entre os influencers literários, Pedro Pacífico, o Bookster, ainda causa surpresa ao revelar que, no ambiente familiar, ninguém além dele tinha o hábito de ler livros. E a lembrança é apenas uma das muitas revelações que Pedro faz ao longo de “Trinta Segundos Sem Pensar no Medo”, sua estreia no papel de escritor. Permeado por referências que vão de George Orwell a Gabriel García Márquez, o autor desfia curiosidades sobre sua vida, numa existência em que a leitura foi crucial para lidar com as pressões internas e externas relacionadas à sua trajetória profissional e até à descoberta da sexualidade.
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