Bianca Santana
Para o pessoal das pautas identitárias
Passou da hora de enfrentarmos nosso principal problema coletivo e garantir que toda a população brasileira, negra em sua maioria, tenha acesso a direitos
Ninguém aguenta mais vocês ignorarem os problemas urgentes do país para focar em questões específicas, de minorias. Já deu. É necessário vacinar toda a população, acabar com a fome que voltou ao Brasil, interromper o genocídio negro, indígena, o feminicídio, a lgbtqiamaisfobia, a destruição das águas e das florestas. Não dá mais para vocês ignorarem que há um grupo social menos vacinado, o mesmo que mais morreu por Covid; fingirem que a fome se distribui igualmente entre pessoas de diferentes cor de pele e CEP. O racismo estrutura todas as
desigualdades do país. E todo mundo já sabe que com racismo não há democracia. Entendeu que não cabe mais seguir nas questões específicas sempre? Beneficiando uma mesma minoria?
Vamos parar de conversinha, então, e criar políticas efetivas que beneficiem a maior parte da população brasileira. Já que a Lei Áurea aboliu a escravidão apenas no papel e que o racismo cuidou de manter a mesma estrutura social no Brasil desde 1888, passou da hora de enfrentarmos nosso principal problema coletivo e garantir que toda a população brasileira, negra em sua maioria, tenha acesso a direitos. Chega de querer agradar banqueiro com um discurso econômico que pouca gente entende — de que praticamente ninguém se beneficia. É preciso fazer valer a Constituição de 1988, sem mais mimimi.
É muito dinheiro público e energia gasta com o único objetivo de concentrar o poder na mesma minoria de sempre
Vocês deveriam se envergonhar de colocar a pauta identitária como única prioridade eleitoral também. Uma ginástica danada para eleger homem hetero cis branco… o tempo todo… fingindo ser outra coisa? Reforma eleitoral para exigir voto impresso, acabar com voto de legenda e ainda limitar o percentual de cota para candidaturas de mulheres? Sem nem considerar recorte racial? É muito dinheiro público e energia gasta com o único objetivo de concentrar o poder na mesma minoria de sempre.
Bianca Santana pesquisa memória e a escrita de mulheres negras. É autora de 'Quando Me Descobri Negra'. Pela Uneafro Brasil, tem colaborado na articulação da Coalizão Negra por Direitos
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