Carta a Ciro (Volta pra mim?)

Ciro,

Eu não aguento mais perder ninguém. Eu não posso mais. É sério. Tô cansada de ficar triste. Eu sei que a gente não se conhece e que talvez você não ligue a mínima pro meu luto mas, como o pronome já diz — e quase tudo na vida é mesmo autorreferente –, ele é o meu luto e portanto será vivido no velho estilo egotrip. E será em voz alta, ainda que só pra mim e pra minha sanidade mental.

Voilà.

Ciro, eu ja tinha superado Paris. Quer dizer… Superado, superado talvez seja uma mentira sincera, mas, como a essa altura da vida quase tudo é remendo, tenho fechado de forma definitiva — e até bonita — com os consertos. De sapatos à relações. Colas e conversas, se aprocheguem, tô aqui pra vocês. Cancelamento e desamor só quando não há realmente mais nada a fazer. Tipo luz branca e assento no meio, último caso. De modo que eu tenho perdoado pacas, inclusive por interesse. Por que, afinal, sou uma mulher de 45 anos que mora no Brasil do Jair Bolsonaro.

Eu já perdi pai e país, candidato. Já vi dois casamentos acabarem, já vi crianças com armas na mão, gente que zomba da ciência, que não reza pro Tom Zé, que relativiza lugar de fala. Estamos vivendo tempos difíceis demais pra você ser tão deselegante. Não podemos nos dar a esse luxo. Não agora. Dilma Rousseff merece desculpas. Porque eu te quero de volta. Porque eu não vou desistir de você. Porque já somos menos 600 mil pessoas aqui nessa terra arrasada e vamos precisar de todo mundo.

Volta pra mim?

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