Marina Melo

Qual é sua ideia de felicidade perfeita?

Viver em uma cidade onde todo mundo tenha casa, onde toda casa tenha mesa farta, onde toda mesa farta esteja perto de uma janela aberta, onde toda janela aberta seja atravessada pelo sol e onde o sol não esbarre com nenhum muro.

Qual é o seu maior medo?

Viver a vida longe da arte.

Que característica mais detesta em você?

A expertise em fazer tempestade em copo d’água.

Que característica mais detesta nos outros?

A incapacidade de perguntar “e você?”.

Que pessoa viva você mais admira?

A cada vez que leio ou escuto Eliane Brum — e vejo a forma como ela fala e age pelo mundo —, eu a admiro mais.

Qual é a sua maior extravagância?

Conseguir falar frases inteiras de trás para frente.

Qual é o seu estado mental atual?

Num pacto profundo comigo mesma para conhecer a artista que ainda serei.

Que virtude considera superestimada?

A esperança que dispensa a ação.

Em que ocasião você mente?

Quando uma palavra mal escolhida — embora verdadeira — pode afastar alguém do próprio caminho. Já ouvi palavras que deixaram marcas indeléveis, então sei a força que palavras — quando bem ou mal escolhidas — têm.

O que menos gosta sobre sua aparência?

Certas peças que o tempo tem pregado enquanto passa.

Que pessoa viva você mais despreza?

Tem toda uma turma de (aspirantes a) autocratas competindo por esse posto.

Que qualidade mais admira em um homem?

Que saiba chorar.

Que qualidade mais admira em uma mulher?

Que saiba dizer não.

De que palavras ou frases você abusa?

É muito cococó e pouco ovo.

O que ou quem é o maior amor da sua vida?

A própria vida.

Quando e onde você foi mais feliz na vida?

Fui absolutamente feliz durante o Carnaval de 2024, quando estava morando na Residência Artística Casa Líquida (São Paulo) para compor as canções do disco “Ousar Abrir”. O ritual de viver a minha cidade em festa e voltar para aquela casa tão rara (e tão linda!) é algo que, além de ter virado canção, ainda hoje reverbera em mim.

Que talento você mais gostaria de ter?

Cantar maravilhosamente com a maior naturalidade do mundo.

Se você pudesse mudar uma coisa sobre você, o que seria?

Eu seria mais briguenta.

O que considera sua maior conquista?

Ter dado ouvidos e voz à arte quando ela chegou na minha vida.

Se você morresse e voltasse como uma coisa ou uma pessoa, o que você gostaria de ser?

Um cachorrinho de colo.

Onde você mais gostaria de morar?

Em uma São Paulo sem medo, sem fome, com sol e com céu pra todo mundo.

Qual é o seu pertence mais estimado?

Meus cadernos já preenchidos.

O que você considera o nível mais baixo da desgraça?

Gente com medo de gente.

Qual sua ocupação favorita?

Criar arte e caminhos para a arte.

Qual sua característica mais marcante?

Ser soft à beira do apocalipse, ser apocalíptica à beira do soft.

O que você mais valoriza em seus amigos?

A escuta bem humorada.

Quais os seus escritores favoritos?

Essa coisa de favoritos nunca foi meu forte, mas vou citar alguns autores que já se foram e algumas autoras brasileiras contemporâneas que têm me encantado. Machado de Assis, José Saramago, Gabriel García Márquez. Ana Maria Gonçalves, Aline Bei, Mariana Carrara, Ana Martins Marques, Socorro Acioli.

Quem é seu herói na ficção?

Kehinde, inspirada em Luísa Mahin, do livro “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves.

Com qual figura histórica você mais se identifica?

Me identifico com as mulheres que ao longo da história criaram as mais variadas estratégias para, apesar de tudo, dedicarem-se aos seus trabalhos artísticos.

Quem são seus heróis na vida real?

Pessoas que enxergam além do próprio umbigo (como Padre Julio Lancelotti e Eliane Brum) e pessoas que atravessam situações extremas e conseguem reencontrar o prumo da própria vida.

Quais são seus nomes favoritos?

Pilar, Martim, Helena.

O que você mais detesta?

Descompromisso.

Qual seu grande arrependimento?

Não ter percebido mais cedo que a arte era o meu caminho.

Como gostaria de morrer?

Gosto do provérbio que diz: “Quando a morte chegar, que ela te encontre viva". Quero estar bem vivona, atenta, curiosa, amando e inventando até o fim! Ah, e queria poder me despedir das pessoas que eu amo antes do gran finale. Será que é pedir demais?!

Qual é o seu lema?

“O futuro está aberto” (frase da Pema Chrodron) e “tudo passa!”