Marko Brajovic: “O meu trabalho é trazer a natureza de volta para as grandes capitais”

Nascido na Croácia, na cidade costeira Rovinj, o arquiteto e designer naturalizado brasileiro Marko Brajovic aprendeu desde muito cedo a importância do equilíbrio entre o ser humano e a natureza. “Onde eu nasci, há muita pesca e turismo ecológico. Cresci em um lugar natural de conexão entre os habitantes e as dinâmicas do fluxo ecológico”, afirma Brajovic no primeiro episódio da segunda temporada de “Motivações Genuínas”. A série, que investiga o que move criadores e artistas, foi criada e dirigida por Ioram Finguerman e tem o apoio da Gama.

Para o arquiteto, que se considera um “croata caiçara”, o seu local de origem lhe possibilitou uma reflexão que guiaria o seu trabalho no futuro. “É a relação entre liberdade e responsabilidade, ao se encontrar sozinho em um contexto natural. Quem é você nesse conjunto todo?”, indaga. “Assim surge a consciência de ser parte do todo e do todo ser parte de você.”

Foi essa filosofia que o permitiu criar a Aldeia Rizoma, reserva ecológica de vivências e hospedagem imersiva na Mata Atlântica. Localizada a 10 quilômetros de Paraty, o local promove a conexão entre hóspedes e natureza, possibilitando diferentes reflexões no decorrer da estadia.

“A natureza é um design de 3,8 bilhões de anos”, afirma o arquiteto. Para ele, ela é capaz de desenhar, aperfeiçoar e evoluir os mais diversos organismos, sendo um ambiente de convivência e colaboração. “A maior tecnologia que temos é a natureza. O que ela pode nos trazer dentro da cidade? Nosso trabalho é trazer a floresta de volta para as nossas grandes capitais.”

Ao longo do episódio, Brajovic utiliza inúmeras vezes o conceito de “futurismo ancestral”, que é como ele define sua forma de pensar e de trabalhar. “A arquitetura brasileira tem 13 mil anos, não é só o modernismo das últimas décadas”, ele diz, ressaltando a importância de construções indígenas e de sua integração com as florestas ao redor do país. As casas desenhadas pelo Atelier Marko Brajovic seguem a inspiração nas construções ancestrais indígenas brasileiras e na arquitetura futurista. “Quando falamos do Brasil e de sua multiplicidade cultural e natural, estamos falando do maior laboratório de prototipagens de futuros possíveis. É a possibilidade de criação de novos formatos de convivência.”

Para o arquiteto, o ser humano é incapaz de se adaptar às transformações do mundo de forma solitária. E, ao considerar o aquecimento global, se torna óbvio que a forma com que vivemos no mundo está colapsando. “É um entendimento que já existia na ancestralidade. As comunidades indígenas entendem que a arquitetura nada mais é do que uma extensão da natureza e do próprio corpo, é o estabelecimento de uma relação entre nós e o contexto natural”, afirma no episódio.

Marko Brajovic é o primeiro entrevistado da segunda temporada de “Motivações Genuínas”, uma série documental que apresenta um olhar sobre a formação e as histórias de artistas e criadores que realizam projetos relevantes, originais e que têm um efeito positivo na sociedade.

Na primeira temporada, foram entrevistados: o violonista João Camarero; a instrumentista Beth Beli, fundadora do bloco Ilú Obá de Min; os psicanalistas e escritores André Alves e Lucas Liedke, que juntos fazem o podcast Float Vibes e analisam tendências de comportamento; o designer, artista plástico e criador do Erê Lab, de brinquedos para espaços públicos, Roni Hirsch; e o fundador da Casa de Francisca, Rubens Amatto.

São entrevistas de 12 a 25 minutos em que eles contam sobre suas vidas e obras. Os episódios serão lançados semanalmente. Os vídeos podem ser assistidos no site da Gama e no canal da revista no YouTube.