José Henrique Bortoluci

Qual é sua ideia de felicidade perfeita?

Domingo de sol, tempo fresco, café, um livro, meu gato dormindo ao meu lado.

Qual é o seu maior medo?

Enlouquecer (demais, ou não o bastante).

Que característica mais detesta em você?

Eu perco rápido demais o interesse pelas coisas.

Que característica mais detesta nos outros?

Não gosto de gente que não é de verdade, que parece feita de plástico por dentro.

Que pessoa viva você mais admira?

Vira e mexe me pego pensando em Tawy Zó'é, o indígena que carregou seu pai velho e doente nas costas por horas para que ele pudesse se vacinar contra a covid - atravessando a floresta, subindo e descendo morros, cruzando igarapés.

Qual é a sua maior extravagância?

Compro livros como se eu fosse um Rockefeller (não recomendo).

Qual é o seu estado mental atual?

Ando muito feliz e muito cansado. Mais feliz que cansado.

Que virtude considera superestimada?

A coerência.

Em que ocasião você mente?

Nunca, a não ser agora.

O que menos gosta sobre sua aparência?

Gostaria de ser um palmo mais alto, mas aí teria que ter nascido de outra mãe.

Que pessoa viva você mais despreza?

O joalheiro da Flórida.

Que qualidade mais admira em um homem?

As mesmas que admiro em mulheres.

Que qualidade mais admira em uma mulher?

As mesmas que admiro em homens, mas que são muito mais frequentes nas mulheres.

De que palavras ou frases você abusa?

"É como se…"; "De certa forma…"; "Você já leu…?"

O que ou quem é o maior amor da sua vida?

Meus pais.

Quando e onde você foi mais feliz na vida?

Agora. Aqui.

Que talento você mais gostaria de ter?

Gostaria de tocar piano como a Martha Argerich.

Se você pudesse mudar uma coisa sobre você, o que seria?

Eu seria imune à ressaca.

O que considera sua maior conquista?

Ter sido capaz de mudar de rota, depois seguir mudando.

Se você morresse e voltasse como uma coisa ou uma pessoa, o que você gostaria de ser?

Eu gostaria de ser um músico tocando com a Nina Simone no Festival do Harlem de 1969.

Onde você mais gostaria de morar?

Em uma casa grande, silenciosa e ensolarada, cercada de mato, mas que também fosse no meio de uma grande cidade.

Qual é o seu pertence mais estimado?

Um relógio de bolso que ganhei de meu avô. Ele o usou por uns 60 anos. Recentemente ele me deu esse relógio de presente. Já não funciona mais, mas segue pendurado na parede da minha sala.

O que você considera o nível mais baixo da desgraça?

Devastar um país, semear o ódio, depois fugir.

Qual sua ocupação favorita?

Escritor e jardineiro. Citei duas porque são quase a mesma coisa.

Qual sua característica mais marcante?

Falo muito e gosto de opinar sobre tudo.

O que você mais valoriza em seus amigos?

Que me façam rir e que não me levem muito a sério.

Quais os seus escritores favoritos?

Não sou bom com "favoritos". Hoje são Guimarães Rosa, Roland Barthes, Joan Didion. Mas depois serão outros.

Quem é seu herói na ficção?

O personagem de "O elefante", poema do Drummond.

Com qual figura histórica você mais se identifica?

Victor Klemperer, linguista judeu alemão que sobreviveu a Hitler e manteve um diário secreto em que documentava como o nazismo penetrava na língua e na consciência alemãs.

Quem são seus heróis na vida real?

As profissionais da enfermagem.

Quais são seus nomes favoritos?

Nomes curtos que parecem apelidos: Théo, Luna, Lia.

O que você mais detesta?

Ter a obrigação de fazer o que já não tem sentido para mim (me sinto jogando pingue-pongue com um cadáver).

Qual seu grande arrependimento?

Não ter aprendido a cozinhar. A vida me cercou de ótimos cozinheiros, mas sou preguiçoso e indisciplinado.

Como gostaria de morrer?

Muito velho, sem dores, de repente, numa terça à tarde qualquer, no meio de um cochilo depois do almoço.

Qual é o seu lema?

Ter um lema pra vida parece coisa de coach ou de guru (o Proust não viveu pra ver a onda dos coachs e dos gurus de internet - sorte dele).