5 dicas de como sonhar mais — Gama Revista
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Wikimedia Commons/ "The false mirror" René Magritte

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5 dicas

Como sonhar mais

Saiba como criar intimidade com os sonhos, aproveitando os benefícios que a prática traz para si e para o bem-estar coletivo

Ana Mosquera 31 de Julho de 2022

Como sonhar mais

Ana Mosquera 31 de Julho de 2022
Wikimedia Commons/ "The false mirror" René Magritte

Saiba como criar intimidade com os sonhos, aproveitando os benefícios que a prática traz para si e para o bem-estar coletivo

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    Tenha uma boa noite de sono –
    Dormir bem é a primeira solução que vem à cabeça quando se pensa em sonhar mais, e a explicação é científica. É no estágio do sono conhecido como REM (da sigla em inglês, movimento rápido dos olhos) que os sonhos costumam acontecer com mais frequência, como lembra Sérgio Arthuro, pesquisador do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Quando esses minutos finais da jornada noturna são interrompidos pelo despertador, a pessoa é privada do sono REM e, consequentemente, tem a sensação de que está sonhando menos. “As pessoas estão indo dormir cada vez mais tarde, mas tem que acordar no mesmo horário para ir à escola ou trabalhar. Isso piorou com a televisão, o computador e o smartphone”. A exposição excessiva à luz antes de dormir é prejudicial à saúde do sono, e o especialista ainda elenca uma série de técnicas cognitivo-comportamentais – ou de higiene do sono – que podem auxiliar nesse processo: diminuir as luzes à noite, optar por colchão e travesseiro confortáveis, evitar café, refrigerante, álcool e outras bebidas estimulantes, e realizar exercícios físicos leves antes de dormir. Mas Arthuro ressalta: os hábitos não funcionam da mesma forma para os diferentes organismos. Há quem se dê bem dormindo cinco ao invés de oito horas diárias, e até os que não perdem o sono com uma xícara de café. “Cada pessoa tem que se descobrir, e talvez a busca dos sonhos faça com que a pessoa conheça o padrão do próprio sono também.” A psicóloga, psicanalista e professora da PUC-SP, Adriana Barbosa Pereira, é a favor de um sono longo para viver essa experiência sensível e onírica. “Quando a gente dorme mais, acorda devagar e fica na cama, a consciência participa mais. E aí a gente tem mais memória e mais chance de tomar contato com esse material”. Ou seja, cuide do sono, antes do sonho.

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    Escreva ou grave seus sonhos em aúdio –
    Para quem se interessa pelos sonhos, não é raro acordar pela manhã com o caderno todo rabiscado, sem nem lembrar como aquelas páginas foram preenchidas. Registrar o fluxo de pensamentos noturnos, seja por escrito ou por áudio, é recomendado para quem quer adentrar com mais afinco nesse universo tão misterioso e fugaz: o destino mais espontâneo do sonho, segundo Pereira, é “ir embora”. E ela continua: “Escrever e narrar são formas de tomar contato com esse material, lembrando que ele é mediado, com participação da consciência”. A especialista comenta que o sonho sonhado é inacessível, o lembrado vem repleto de barreiras, e o registrado e o contado estão ainda mais distantes do “real”. E não se engane: não há dreamcatcher (filtro dos sonhos) que resolva. “Os sonhos querem nos dizer algo, e ampliar a sensibilidade para receber essa produção é muito interessante”, ela comenta sobre o hábito do registro, que deve ser feito o mais próximo possível do momento da lembrança. “Só que a gente não pode controlar o sonho como controla outras tarefas. Isso é o contrário da experiência propriamente onírica”. Ela lembra que registrar os sonhos é muito comum entre pessoas ligadas a processos criativos, como as artes plásticas e o teatro. A especialista recomenda a prática, uma vez que o sonho é uma experiência estética, que toca a sensibilidade visual, e também uma forma de elaboração subjetiva do que se vive. “É uma experiência provocativa, com o sublime, que nos incomoda, que nos tira o chão e que nos desorganiza.” Ela dá o exemplo de uma pessoa que, no auge do isolamento, sonhava que estava comendo um simples pastel na feira: “Isso é afirmar para si que você vai sobreviver.” Prepare o caderninho e a caneta (ou o gravador) – e boa sorte com os garranchos matinais!

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    Compartilhe seu sonho –
    Além de registrar os sonhos, outra dica valiosa é compartilhar os áudios e textos escritos sobre eles com outras pessoas, sejam amigos, companheiros ou até mesmo integrantes de grupos criados para esse fim. “Quando você endereça o sonho para uma pessoa, você também dá lugar social a essa experiência”, fala Pereira: “E eu acho que isso tem mais efeito para lembrar dos sonhos do que outros hábitos”. A psicanalista e grupo-analista Carla Penna concorda: “Ao compartilhar o sonho, ele adquire um significado também para aquele que o ouve”. Seja a partir de uma perspectiva mística, científica ou terapêutica, dividir os sonhos com outras pessoas tem se mostrado prática bastante positiva no tratamento de traumas comuns, como o enfrentamento de guerras e crises sanitárias, como a pandemia. “Se você compartilha e vê que pessoas estão passando pelos mesmos problemas, isso vai fazer bem para a sua saúde”, recomenda Arthuro. Especialista na técnica da Matriz do Sonhar Social, Penna vê essa ampliação do pensamento sobre o ato de sonhar como ferramenta de conforto para as angústias comuns que as pessoas estão vivendo. E para participar de iniciativas ligadas ao Sonhar Social, ou mesmo do Sonhar Grupal, do IPUSP (Instituto de Psicologia da USP), vale tudo: “Contar um sonho, um fragmento dele, uma sensação, um livro e uma música que você lembra. Assim você vai construindo uma rede de estados oníricos”, ela comenta. Assim que o sonho é compartilhado, ele passa a ser visto em sua dimensão social e pode surgir dali uma compreensão, não apenas psíquica, mas cultural, como recorda Pereira: “Não pode ter uma ilusão de que é uma resposta clara, mas dá para recolher formas de viver e de pensar nesse trabalho de elaboração coletiva”. Para o bem-estar individual ou coletivo, compartilhe seus sonhos!

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    Mergulhe no tema, a fundo –
    Se você se interessa por sonhos, mergulhe neles – ao menos quando estiver acordado. Estudar sobre o tema, inclusive lendo artigos de divulgação, são as dicas de Arthuro, orientando de um dos maiores nomes do assunto no Brasil, o biólogo e neurocientista Sidarta Ribeiro. Ao imergir nesse universo no período diurno, fica mais fácil perceber os sonhos durante a noite. “Os sonhos têm muito a ver com a memória. São os ‘resíduos do dia’ de Freud. Se você passa o dia estudando sobre eles ou se perguntando: ‘agora estou sonhando ou acordado?’, você pode levar isso para o sonho também.” Abrir-se para o significado dos sonhos nas outras culturas, sobretudo dos povos originários, também é um grande avanço. “Os povos indígenas têm toda uma representação em relação aos sonhos. Eles sentam e compartilham”, pontua Penna. Pereira complementa, indicando conhecer a ideia da cosmovisão, trazida pelo filósofo, escritor, jornalista, ativista e líder indígena, Ailton Krenak. Enxergar o sonho como lugar de cura, ensinamento e premonição ajuda a estreitar a relação consigo, com os outros seres vivos e o planeta.

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    Leve o sonho mais a sério – mas nem tanto –
    Enxergar o sonho como um anunciador de mensagens futuras, por que não? É o que diz Sidarta Ribeiro, para o qual o sonho é um oráculo probabilístico – simulação do futuro provável com base em experiências passadas. Segundo Arthuro, é muito comum as pessoas sonharem com desastres possíveis de acontecer no lugar em que vivem, como situações de assalto e catástrofes ambientais, ou até mesmo guerras, em zonas mais sensíveis a esses conflitos. “Se o sonho realmente servir como uma simulação, pode ser que, caso as pessoas entrem em contato com aquilo, elas saibam reagir ou tenham um desempenho melhor”, complementa o neurocientista. “É um ponto a favor para lembrar dos sonhos, porque você poderia se antecipar aos problemas. Há uma chance maior de acontecer, mas são probabilidades.” De toda forma, vale seguir as dicas: preze por uma boa noite de sono, registre e compartilhe os sonhos, e estude sobre o assunto!