O documentário “LAERTE-SE” (2017), na Netflix, acompanha o cotidiano de Laerte Coutinho enquanto conta detalhes de sua trajetória. Em quase 50 anos de carreira, Laerte produziu charges, quadrinhos e cartuns que desvendaram recortes da vida e do Brasil, do sexo à política, das feridas sociais às questões de gênero. Para celebrá-la, vale assistir também à animação “Cidade dos Piratas” (2019), de Otto Guerra, que cruza os caminhos de vários de seus personagens (no Youtube Filmes e em outras plataformas).

Muitas publicações de quadrinhos se dedicam a RETRATAR AS COMPLEXIDADES DO BRASIL de hoje. Sucesso nas redes sociais transformado em livro, “Confinada” (Todavia, 2021), de Leandro Assis e Triscila Oliveira, conta a história de uma influenciadora de elite e de uma empregada doméstica, escancarando como a pandemia afetou os brasileiros de maneira diferente. Já “Depois que o Brasil acabou” (Veneta, 2022), de João Pinheiro, é uma espécie de manifesto político cujos personagens são inspirados na história da política recente. E em “Escuta, Formosa Márcia” (Veneta, 2021), recém-premiada na França, Marcelo Quintanilha traz os desafios de uma mãe solteira em uma comunidade do Rio.

Marcelo D’Salete, em entrevista a Gama. O premiado quadrinista é conhecido por contar a trajetória dos negros brasileiros

Desde 2017, o prêmio Jabuti, um dos mais importantes da literatura brasileira, tem uma CATEGORIA ESPECÍFICA PARA HQs – mudança que foi pleiteada por mobilização de uma série de quadrinistas brasileiros. Desde então, já levaram o prêmio obras como “Castanha do Pará” (SESI-SP, 2018), de Gidalti Jr., e “Silvestre” (Darkside, 2020), de Wagner Willian.

Produzida pelo Itaú Cultural, a série CAMINHOS DA HQ, com três temporadas, está disponível no Youtube. Além de debater a cena nacional de quadrinhos, abordando temas como representatividade, produção independente e relação com o público, traz entrevistas individuais com alguns dos artistas de destaque da área, como Mario Cau e Laura Athayde.

Transpor CLÁSSICOS DA LITERATURA BRASILEIRA PARA QUADRINHOS não é novidade, mas, na última década, editoras renovaram o interesse por esse formato. Na Companhia das Letras, por exemplo, há publicações recentes como “Grande Sertão: Veredas”, por Eloar Guazzelli e Rodrigo Rosa, e “O Alienista”, vertido em HQ por Fábio Moon e Gabriel Bá, que já tinham feito o mesmo com “Dois Irmãos”. Já a Editora Melhoramentos lançou, entre outros HQs, “O Meu Pé de Laranja Lima”. 

No centro de São Paulo, a 9ª ARTE GALERIA é a primeira galeria de arte dedicada exclusivamente a quadrinhos no Brasil, com exposições e vendas de artistas nacionais e internacionais. Até 2 de abril, há mostra dedicada a Caco Galhardo, que tem mais de 20 anos de carreira, com tiras, páginas de HQs, cartuns e até telas feitas em acrílico.

A TURMA DA MÔNICA ganhou recentemente duas elogiadas adaptações para o cinema, ambas com direção de Daniel Rezende. “Turma da Mônica – Laços” (2019) (na Globoplay), que teve 2 milhões de espectadores no ano de lançamento, é o primeiro que mostra o universo da turminha em carne e osso. A sequência é “Turma da Mônica: Lições” (2021) (na Amazon Prime), que traz as crianças mais crescidas, história mais elaborada e mais atenção à diversidade. Além de Mônica, Magali, Cebolinha e Cascão, transitam pela trama personagens secundários como Tina, Titi, Marina e o Louco.

“THE UMBRELLA ACADEMY” (2019), sucesso de público da Netflix, é uma adaptação de uma HQ premiada do músico americano Gerald Way e do ilustrador brasileiro Gabriel Bá. Com terceira temporada prevista para junho deste ano, a série meio bizarra, meio caótica, conta a história de um grupo de heróis excêntrico entre viagens no tempo e ressentimentos familiares.

Inspirada na grande convenção ComicCon Experience (CCXP), realizada em São Paulo desde 2014, a PerifaCon é um EVENTO DE QUADRINHOS E CULTURA GEEK E POP gratuito e voltado para o público da periferia. A ideia é democratizar o acesso e dar luz tanto a um público consumidor comumente invisibilizado quanto a artistas periféricos independentes. Depois do sucesso da primeira edição presencial na Zona Leste de SP em 2019, a convenção aconteceu em versão online em 2020 e 2021. Uma das idealizadoras é a youtuber Andreza Delgado.