10 livros sobre depressão — Gama Revista
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10 livros sobre depressão

De obras que estudam a fundo o problema até narrativas pessoais e ficcionais, confira a lista de lançamentos que Gama selecionou sobre o transtorno

Leonardo Neiva 25 de Agosto de 2024

10 livros sobre depressão

Leonardo Neiva 25 de Agosto de 2024

De obras que estudam a fundo o problema até narrativas pessoais e ficcionais, confira a lista de lançamentos que Gama selecionou sobre o transtorno

A saúde mental é um tema que tem seguido sempre em alta nos últimos anos, conforme enfrentamos problemas cada vez mais intensos relacionados a questões como ansiedade e depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), alías, o Brasil hoje é campeão em casos de depressão na América Latina, com 11,7 milhões de brasileiros sofrendo com o transtorno.

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Além da maior consciência sobre a relevância do assunto e a importância de buscar ajuda quando necessário, também temos disponível hoje uma vasta biblioteca voltada para o tema da depressão, que engloba desde ensaios, artigos científicos e obras que são fruto de uma intensa pesquisa psicológica até relatos mais pessoais ou até ficcionais que também posicionam o transtorno no centro de suas narrativas. A seguir, reunimos alguns dos principais lançamentos recentes sobre depressão para adicionar à sua lista de leituras obrigatórias.

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    “Uma Biografia da Depressão”

    de Christian Dunker (Paidós, 2021)

    Um dos principais lançamentos dos últimos anos sobre o tema no Brasil, “Uma Biografia da Depressão” saiu há um pouco mais de tempo na comparação com os outros integrantes da lista — mas justifica a posição devido à sua relevância. Na obra, o psicanalista Christian Dunker segue à risca a promessa do título, se aprofundando na história e origem do transtorno como se este fosse uma entidade de carne e osso, um ponto de partida para entendê-la e tratá-la. Lançando mão até de documentos e arquivos reais que seriam como um “RG da depressão”, Dunker não só comprova a existência do problema como explora suas inúmeras facetas ao longo do tempo, das tragédias de Shakespeare à psicanálise do século 20. E mostra que uma só palavra não é suficiente para conter a avalanche de formas e possibilidades que o transtorno pode assumir.

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    “Três Camadas de Noite”

    de Vanessa Barbara (Fósforo, 2024)

    A escritora, jornalista e tradutora paulistana volta a lançar um romance após um hiato de uma década. E “Três Camadas de Noite” aborda uma constelação de temas que rondam tanto a escrita quanto a vida da autora: maternidade, depressão, literatura e mitologia. Tudo isso numa narrativa híbrida, em que se intercalam passagens autobiográficas e relatos sobre outros escritores a exemplo de Clarice Lispector e Kafka que, assim como Barbara, também enfrentaram a depressão. Uma especialista em mitologia grega e tradutora freelancer, a narradora passa pelo puerpério, o aleitamento, a espiral depressiva da privação do sono e anos de estreitamento dos laços entre mãe e filho, aos quais se misturam constantemente passagens anedóticas e mitos do tempo do monte Olimpo.

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    Obras Reunidas de Melanie Klein

    (Ubu, 2023)

    O box que junta dois volumes da obra da psicanalista austríaca Melanie Klein (1882-1960) nos leva a um verdadeiro mergulho na psique infantil. “Amor, Culpa e Reparação e Outros Ensaios” apresenta escritos da autora do período entre 1921 e 1945, nos quais aborda seu conceito de “posição depressiva”: momento durante o primeiro ano de vida em que o bebê começa a perceber a mãe como uma pessoa completa e separada dele. É quando surge uma série de conflitos emocionais, incluindo o luto, a culpa e a angústia da perda — sentimentos que reemergem com o luto e a depressão na vida adulta. Já a coletânea “Inveja e Gratidão e Outros Estados” debate, em artigos publicados entre 1946 e 1963, a “posição esquizoparanoide”, estado da criança em que o ego divide tudo entre bom e mau, assim como a interação entre essas duas posições ao longo do desenvolvimento psíquico. Uma leitura fundamental para quem quer entender a formação dos sentimentos e emoções praticamente desde que nascemos.

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    “A Armadilha da Perfeição”

    de Thomas Curran (Fontanar, 2023)

    Qual você diria que é “A Armadilha da Perfeição”? Fora o fato de ser uma meta impossível, o doutor em psicologia e professor da London School of Economics, Thomas Curran, argumenta que, numa sociedade em que ser “bom o suficiente” significa almejar ser perfeito, o maior problema é que passamos a cultivar, em vez disso, o burnout e a depressão. O adubo para esses transtornos, cujos índices vêm crescendo como nunca nos últimos tempos, é o ambiente de competitividade extrema que hoje existe seja no mercado de trabalho, na nossa formação educacional ou no próprio dia a dia. A sobrecarga de procurar sempre superar as expectativas — aliada ao fato de que não, nunca seremos perfeitos — estaria afetando profundamente nossa saúde mental. Com base em evidências e histórias reais, Curran traça estratégias para resistirmos a essa pressão e celebrarmos com mais frequência nossas imperfeições.

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    “A Árvore Mais Sozinha do Mundo”

    de Mariana Salomão Carrara (Todavia, 2024)

    O novo romance da escritora e defensora pública Mariana Salomão Carrara aborda a depressão por um viés que não estamos acostumados a ver. Segundo a autora, a escrita partiu de uma reportagem sobre a hipótese de que os agrotóxicos estariam causando uma epidemia de depressão e suicídios entre agricultores de tabaco no sul do Brasil. O livro em si narra a história de uma mãe e os três filhos numa família de agricultores, responsáveis pelo trabalho após o marido sucumbir à depressão. Nas mãos da vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura por “Não Fossem as Sílabas do Sábado” (Todavia, 2022), “A Árvore Mais Sozinha do Mundo” é um retrato sensível da realidade no campo, de uma família quebrada por problemas de saúde mental e de um país incapaz de lidar com suas mazelas, algumas delas profundas como raízes.

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    “O Que Não Tem Nome”

    de Piedad Bonnett (DBA, 2024)

    Numa narrativa que aborda temas difíceis em tom confessional, a poeta colombiana Piedad Bonnett conta com honestidade crua os acontecimentos que giram em torno do suicídio do filho. O jovem, que batalhou a vida inteira contra a depressão e a paranoia, consequências de uma esquizofrenia, acabou vítima da doença. Dividido em quatro partes — a dor, a enfermidade, a loucura e o suicídio — “O Que Não Tem Nome” começa no apartamento do jovem Daniel em Nova York, poucas horas depois de sua morte. Numa linguagem sóbria e delicada, Bonnett mescla fragmentos da vida conturbada do filho a um sensível relato pessoal, em que dá vazão à sua dor. Do estupor do luto às formalidades aparentemente inúteis que se seguem à perda, a obra abre pequenas brechas para a ficção, através das quais a mãe imagina as motivações do filho acossado pela angústia e depressão.

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    “Estranhos a Nós Mesmos”

    de Rachel Aviv (Zahar, 2023)

    Eleito entre os 10 melhores livros de 2023 pelo New York Times e livro do ano pela revista New Yorker, “Estranhos a Nós Mesmos” é resultado de um intenso trabalho de investigação da jornalista Rachel Aviv. Em seu livro de estreia, ela acompanha casos de pacientes que convivem com os limites das explicações médicas sobre seus quadros psiquiátricos. Dentre os personagens reais, há um homem que precisa lidar com diferentes interpretações sobre seu quadro de depressão, uma mulher vítima de racismo que luta pelo perdão dos filhos após uma psicose e uma jovem que decide parar de tomar seus remédios para bipolaridade pois não se reconhece mais. Tendo vivido numa ala hospitalar aos seis anos de idade, após um diagnóstico de anorexia, a autora aponta como nossas histórias com os transtornos mentais podem acabar moldando nossas vidas e identidades.

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    “O Diário de Asheham”

    de Virginia Woolf (Nós, 2024)

    Entre 1915 e 1917, a escritora Virginia Woolf foi impedida de ler e escrever devido a um colapso psíquico. “O Diário de Asheham” é uma espécie de registro do seu retorno à escrita após dois anos envolta nessa profunda depressão, período em que chegou perto de desaprender a escrever. O caderno, que Woolf mantinha na sua casa em Sussex, é quase inteiro composto por frases curtas e telegráficas, que descrevem o cotidiano pacato longe da agitação londrina. Por muito tempo desprezado pela crítica e pelas editoras, a obra foi mais tarde redescoberta, tendo suas virtudes reconhecidas tanto na melancolia dos rápidos registros feitos pela autora quanto no retrato mais complexo das entrelinhas, sobre uma escritora tentando se reencontrar com a arte de narrar.

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    “Estar Bem Aqui”

    de Mariana Ferrão (Planeta, 2022)

    Em “Estar Bem Aqui”, a jornalista Mariana Ferrão expõe alguns dos seus maiores medos e dores, e conta o que fez para conseguir superar momentos de luto e depressão. Como ela mesma escreve, “na maioria das vezes, misturados, entroncados nas curvas do caminho, embaralhados nas cartas do cotidiano.” Palestrante de saúde mental e autocuidado, para além de explorar os impactos que esses sentimentos e os momentos mais difíceis tiveram na sua vida, Ferrão também propõe alguns exercícios, pausas e reflexões que, como ela, podemos adotar ao longo do caminho.

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    “Felicidade Não É a Cura”

    de Anders Hansen (Intrínseca, 2024)

    Fechar uma lista sobre depressão com um título como “Felicidade Não É a Cura” pode soar como um contrassenso. No entanto, a obra conversa intimamente com a forma como a psiquiatra Anna Lembke explora os temas em seu livro “Nação Dopamina”. Afinal, o prazer e a busca excessiva pela felicidade também podem levar ao seu oposto: a infelicidade e a depressão. Ao propor uma abordagem mais científica à eterna tentativa de sermos felizes, o psicólogo sueco Anders Hansen mostra de forma clara e direta por que, mesmo que nunca antes tenhamos experimentado tanta qualidade de vida, nos vemos em meio a uma intensa crise de saúde mental. Com dicas práticas para lidar melhor com transtornos como depressão e ansiedade no cotidiano, o autor demonstra por A + B que é impossível ser feliz o tempo todo — e que o que precisamos almejar em vez disso é o equilíbrio.