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Como viajar mais leve

Veja sete dicas de especialistas para se tornar um turista com menos bagagem, mais dinheiro no bolso e experiências de viagem ainda melhores

Leonardo Neiva 28 de Maio de 2023

Como viajar mais leve

Veja sete dicas de especialistas para se tornar um turista com menos bagagem, mais dinheiro no bolso e experiências de viagem ainda melhores

Leonardo Neiva 28 de Maio de 2023

Existe algum momento que a gente costuma associar mais aos prazeres da vida do que viajar? Seja a turismo ou a trabalho, deixar seu cantinho e partir rumo a terras conhecidas ou desconhecidas tem sempre um quê de aventura. Porém, como também estamos nos tornando cada vez mais precavidos e avessos a imprevistos, é essa a hora de abarrotar as bagagens com roupas, protetores solares, chapinha e afins, de forma que, às vezes, nem sentando em cima dá para fechar o zíper. Seria mesmo essencial levar conosco todas essas coisas?

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Na maioria dos casos, a resposta é um simples e retumbante não. Mas se livrar do supérfluo também não é tão fácil assim. Por mais que possa prejudicar nosso estado de espírito essa preocupação excessiva ou a gastança desenfreada quando chegamos no destino — e que nos faz voltar com as malas ainda mais cheias do que na ida —, tomar decisões lógicas e eficientes ao botar o pé na estrada requer todo um processo de mudança de hábitos. Afinal, não vai fazer falta uma blusinha de frio em meio a um verão praiano de mais de 30 graus?

A seguir, veja dicas de especialistas em turismo e hábitos minimalistas para tirar dúvidas estapafúrdias como essa da cabeça, viajar apenas com o estritamente necessário e aproveitar ainda mais suas experiências.

Antes de tudo, questione seus hábitos

Você tem o costume de encher suas malas ao máximo com coisas que acaba nem usando na viagem? Ou compra tantos presentes e lembrancinhas no destino que precisa pagar um extra na hora de retornar abarrotado de bagagem? Se você se identifica com esses hábitos, a melhor forma de mudar é se perguntar por que faz isso, afirma o psicólogo Fernando Brasil, especializado em questões de turismo.

“Qual era o intuito? Se sentir mais seguro, se exibir para alguém… Mesmo sem necessidade, você tinha uma vontade. Responder isso te deixa muito mais leve para tomar a decisão de viajar com menos e aproveitar muito mais“, aponta.

O especialista ainda esclarece que nunca é a viagem em si a culpada por esses hábitos de consumo. Em geral, trata-se de uma oportunidade para pessoas já inseguras e indecisas de demonstrar esses traços de sua personalidade. “Levar muita bagagem tem a ver com a busca por uma sensação de segurança. Então o indivíduo enfia na mala roupa para calor, frio e temperatura amena, sendo improvável que precise usar tudo isso.”

O mesmo também vale para os gastos no destino turístico. Encher malas e malas de compras pessoais ou lembrancinhas para amigos e familiares não é algo que acontece apenas por conta das pressões da viagem, mas um impulso consumista que o turista já carrega com ele, diz o psicólogo.

Se essas práticas vêm te incomodando, porém, também não é aconselhável arrancar o band-aid de uma vez só. Pelo contrário, de acordo com Brasil, passar a limitar sua bagagem de forma brusca pode ser até pior. “Se não der certo, você vai pensar que não está legal e voltar imediatamente para o que fazia antes.” Então, comece por investigar a origem desses hábitos para só depois ir modificando-os gradualmente, sem pressa.

Encare como uma forma de facilitar sua vida

Para a jornalista e escritora especializada em turismo Adriana Setti, aderir ao minimalismo em suas viagens no começo não foi uma questão de princípios. A mudança surgiu de necessidades bem práticas. Quando as viagens começaram a se tornar constantes, ela percebeu que, ao passar meses na estrada, levar bagagem em excesso mais atrapalhava do que ajudava.

“Me dei conta de que é muito perrengue carregar coisa demais, tanto pela chatice de ter que lidar com malas difíceis de fechar como pela tortura de levar muito peso — principalmente nas costas, no caso de mochilas”, conta a editora do site The Summer Hunter. Portanto, pensar em como fazer andanças mais leves pelo mundo pode tornar as viagens mais prazerosas costuma ser motivação suficiente para rever suas práticas.

As próprias limitações impostas por companhias aéreas para o peso e quantidade de bagagens também acaba servindo como incentivo para inibir nossos impulsos mais exagerados. Até por isso, é cada vez mais comum que os viajantes busquem despachar apenas uma mala ou carregar tudo de que precisam na bagagem de mão.

O caso recente envolvendo duas brasileiras presas na Alemanha por suspeita de tráfico de drogas após ter suas malas trocadas também tem disparado uma série de gatilhos. “Bom mesmo, hoje mais do que nunca, é viajar só com mala de mão, tanto pelo perigo de a bagagem não chegar no destino como por esse novo medo adquirido”, diz Setti.

Pergunte-se sempre: precaução ou exagero?

Você com certeza já passou por uma situação como essa. Deixou para arrumar as malas de última hora, acabou enfiando o que cabia e o que não cabia dentro da bagagem — talvez até encarando uma taxa por peso extra — e no fim percebeu que não ia usar nem metade daquelas coisas. Ou não tirou um tempinho para definir o que pretendia comprar durante a viagem e acabou gastando muito mais do que precisava.

O antídoto de Setti para situações como essas é pensar que, num mundo globalizado como o nosso, a não ser que você vá para um lugar muito distante ou isolado, dá para conseguir tudo de que precisa facilmente no destino — desde uma jaqueta para lidar com uma frente fria imprevista até trocar um dinheirinho extra para aquela necessidade de última hora.

A gente costuma se arrepender com maior frequência das coisas que leva a mais do que das que deixa em casa. No meio de uma viagem, ninguém fica parando para sentir falta de uma sandália que ficou para trás”, considera a jornalista.

Para o psicólogo Fernando Brasil, o foco no momento de planejar a viagem deve ser o prazer pessoal, a essência de qualquer deslocamento por lazer. “Quando você abstrai a coisa da quantidade e se volta para questões como conhecer uma cultura, a comida da região e uma determinada paisagem, aí sim está levando o essencial na mente e no coração.” Esse ponto de vista, de acordo com o especialista, também costuma deixar o psicológico mais leve, gostoso e energizado ao longo de todo o processo.

Faça da leveza um exercício constante

“Todo dia melhora um pouco. Mas você tem que correr todo dia, essa é a parte difícil.” A dica aparentemente simples, retirada de um episódio da série de animação “BoJack Horseman” (2014-2020), é direcionada especificamente a corredores. Mas, embora viajar de forma leve pareça bem mais simples do que se exercitar todos os dias, ela vale também para quem pretende rever seus hábitos turísticos.

O influencer de práticas minimalistas Alexandre Chahoud conta que a busca por se virar com o mínimo passou a integrar todos os momentos em seu processo de viajar, do planejamento até a volta para casa. Com o tempo, assim como para quem corre, levar apenas o necessário e procurar não acumular coisas supérfluas durante a jornada foi ficando cada vez mais fácil e automático.

Setti confirma, no entanto, que se trata de um esforço constante. “Parece muito mais fácil enfiar várias coisas na mala e resolver o que vestir ou usar uma vez que estiver lá. Ao fazer uma mala pequena, você tem que antecipar essas questões”, declara.

Mas, devido aos desafios de montar uma mala compacta, a jornalista confessa até que já teve algumas recaídas. “Vira e mexe viajo com mais peso do que deveria. Em termos de apego, o mais difícil pra mim é ter uma nécessaire enxuta.”

Pense no seu bolso com carinho

Tem que doer no bolso para que alguma coisa mude, diz a sabedoria popular. E tantos milênios de experiência não podem estar tão errados assim. Segundo Fernando Brasil, quando se trata de consumo, uma viagem não pode ser encarada como um momento qualquer. Nessa hora de descompressão, entra em cena um mecanismo semelhante ao de compensação, em que acreditamos que não tem problema se exceder — trata-se de uma recompensa merecida após tanto esforço. “É uma cultura de liberdade, de querer se dar o prazer de fazer tal coisa”, diz o psicólogo.

Como viaja com bastante frequência, Setti costuma comprar pouquíssimo quando está fora. Muitas vezes, não traz de volta absolutamente nada. Esse consumo se resume a coisas que tenham um significado especial para ela ou pelas quais tenha se apaixonado perdidamente. “Mesmo assim, me pergunto várias vezes se tem espaço suficiente e qual o nível de perrengue para carregar aquilo até em casa.”

Mas Chahoud alerta que o excesso deve ser evitado de ambos os lados. Embora seja importante rever os hábitos de consumo, ele aponta que o minimalismo não significa viver uma vida sem graça ou se impedir sempre de comprar aquilo que deseja. Afinal, controlar os gastos obsessivamente não ajuda em nada a tornar uma viagem mais leve. O crucial está em ser mais consciente em todas as escolhas de consumo.

Procure ser mais organizado

E você, como vai de organização? Para o psicólogo Fernando Brasil, ser desorganizado pode ser algo complicado em qualquer situação, mas com consequências verdadeiramente devastadoras para seus planos de viagem. Se você costuma deixar que outras pessoas organizem as coisas para você ou acha divertido contar para os outros sobre sua desorganização crônica, talvez esse seja o momento para começar a se ligar em prazos e realizar as tarefas com mais eficiência.

Além de listar tudo o que é estritamente necessário na bagagem, Chahoud aponta que ter malas bem arrumadas evita a perda de tempo na hora de procurar uma peça de roupa ou objeto. E, para quem já conhece bem os próprios hábitos de moda, vale a pena buscar a eficiência na hora de pensar nos looks para vestir no trajeto.

“Em vez de levar várias roupas diferentes para cada dia da viagem, escolho algumas peças que possam ser combinadas de diferentes maneiras”, dá como exemplo o influenciador. “Isso não só economiza espaço na mala, mas também me ajuda a não ficar sobrecarregado com escolhas na hora de me vestir.”

Chahoud também tenta evitar ao máximo objetos que pesem na bagagem — dando mais leveza à jornada, literalmente. Portanto, se uma pasta de dente ou xampu de tamanho menor for o suficiente para todo o período em que ficar fora, opte sempre por reduzi-los ao essencial. Ele também se organiza para não carregar consigo livros muito pesados ou eletrônicos que podem acabar mofando num cofre do quarto de hotel.

Por fim, tente levar o novo hábito para outros setores da sua vida

Apesar de nascidos da necessidade, os hábitos de viagem minimalistas da jornalista Adriana Setti permaneceram, criando raízes e galhos. Anos atrás, durante suas constantes viagens, ela e o companheiro passaram a alugar a casa onde viviam para turistas. E, pensando em tornar o imóvel mais impessoal e habitável para quem estava chegando, foi preciso liberar armários e tornar tudo mais compacto.

“Com o tempo, fomos entendendo que, quanto mais coisas você tem, mais complicada fica a sua vida”, afirma Setti. Uma preocupação que se estende também ao destino do planeta, com a ascensão de comportamentos mais sustentáveis. “Há muitos anos prefiro comprar menos e viver mais experiências. Gasto pouquíssimo com roupas, não tenho apego a marcas e passei mais de 20 anos sem carro”, conta a jornalista, que tem conseguido investir ainda mais recursos em viagens, aventuras gastronômicas e num futuro mais confortável.

Curiosamente, uma das formas mais eficientes de naturalizar viagens minimalistas é, assim como fez Setti, estender essa mudança de hábitos para outros aspectos da vida. “Significa simplificar e reduzir tudo aquilo que não é essencial, o que inclui nossos pertences materiais, compromissos e até pensamentos”, declara Chahoud.

No caso de uma viagem, não tem nada melhor do que reduzir seus pertences e preocupações ao mínimo, permitindo desfrutar do lugar, das pessoas, da comida e das experiências que o turismo proporciona. É o que tanto Setti quanto Chahoud têm verificado na prática. “Com isso, podemos sim tornar nosso estilo de vida mais leve e tranquilo”, diz o influenciador.