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5 dicasSaiba lidar melhor com a solidão
A sensação não é nem apenas positiva ou negativa – sabendo dosá-la, é necessária, assim como as interações sociais. A seguir, algumas dicas para lidar melhor com a solidão
A pandemia tornou a solidão, para muitos de nós, uma espécie de rotina. Nos acostumamos com a pouca quantidade de interações sociais, trabalho remoto, tempo solo. Em uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center em maio de 2022, 21% dos entrevistados acreditavam que a socialização tinha se tornado mais importante desde o início do coronavírus – mas 35% disseram o contrário. Muitos desaprenderam a conviver: um outro estudo do ano passado concluiu que a maior fonte de ansiedade entre americanos adultos era “não saber o que dizer ou como interagir”.
Quebrar esse ciclo não é fácil, já que a solidão tende a se autoperpetuar. Mas aprender a lidar, gostar e também dosar a própria companhia pode ser um primeiro passo. Gama reuniu cinco dicas para guiar um tempo solo mais criativo, menos doloroso, e também consciente – não é sempre que devemos ficar sozinhos, como também não é regra estar constantemente acompanhado de outras pessoas. Leia as dicas a seguir para, quem sabe, encontrar um bom meio termo.
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Não tenha medo de ficar só –
Há muitos benefícios físicos, psíquicos e emocionais que podem ser tirados da solidão, basta saber aproveitar as oportunidades. Em tempos de tanta pressa, múltiplos estímulos virtuais, pessoas e ruídos, é uma raridade encontrar tempo para ficar na própria companhia, e justamente por isso é importante investir nesta tarefa. “É estando sozinho que conseguimos pensar sobre o que estamos fazendo, refletir sobre projetos, ter mais calma”, aponta o psicólogo clínico Adrian Spremberg. “Claro, sempre com aquele cuidado de, caso a pessoa esteja solitária o tempo todo e sofrendo, buscar ajuda profissional.” Segundo ele, apesar das ressalvas e da delicadeza do tema, é na solidão, entre outros cenários, que podemos encontrar certos porquês por trás de sensações e dificuldades: “A solidão tem essa poesia, promove calma para olhar para si com profundidade, até gentileza. Podemos nos descobrir ali”. A psicóloga Bettina Schaefer também acredita que é nesse mergulho que se esconde a potencialidade da solidão. “É preciso ir a fundo até onde dói, entender porque nos sentimos daquela forma. É muito rico olhar para dentro e descobrir sobre si mesmo.” E se for difícil estar só para ter acesso a essas respostas, questione: “A sensação de solidão é outra forma de perceber que precisamos de mais tempo a sós, porque quando nos sentimos sozinhos estando sozinhos, significa que temos sido uma má companhia”, pondera Schaefer. Sentir-se bem enquanto está sozinho (ou melhor, na própria companhia) é um aprendizado, daí o valor de praticá-lo, e mergulhar sem medo na própria solidão. -
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Nem tão só, nem tão acompanhado –
O contraponto é necessário. Nem se afogar na solidão, nem excluí-la como uma possibilidade: o equilíbrio é o caminho. Até porque o guia de medidas saudável para o tempo solitário é totalmente singular: “Tem pessoas que precisam ficar sozinhas por um tempo e depois conseguem interagir socialmente, enquanto outras, mais extrovertidas, ganham energia ao estarem na companhia do outro. É preciso cuidar dos exageros”, afirma Adrian Spremberg. O medo, seja da solidão ou de se envolver com os outros, deve ser evitado, ou acabaremos tombando para um dos lados. Bettina Schaefer relembra a famosa parábola do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, dos porcos-espinhos que vivem um dilema: se ficarem muito afastados, sofrem de frio; e se ficarem muito próximos, amontoados para se esquentarem, acabam se espetando. “E aí ficam nesse movimento, se afastam, depois se aproximam. A pergunta que fica é: como conviver com as pessoas numa distância nem tão grande para que não morra de frio, e nem tão perto que me espete?”, questiona a psicóloga. “Ou, numa versão mais contemporânea: como não se isolar, mas também não se massificar completamente?” O convívio, assim como a solidão, pode ser difícil de suportar – gera atrito e conflito. Mas, como explica Schaefer, é a partir dele que o ser humano cresce e evolui. “É na vivência em conjunto, ao lidar com as diferenças no dia a dia, que nos tornamos pessoas mais complexas e não superficiais.” Para não abusar da parte social e nem do tempo sozinho, saber negociar consigo mesmo é algo para praticar. Se já saiu na sexta-feira e no sábado com diferentes grupos de amigos, por que não escolher o conforto do lar, o silêncio e um bom livro no domingo? Mesmo se aparecer um bloquinho de Carnaval fora de época imperdível, é importante reconhecer quando aquele tempo consigo mesmo é mais urgente do que o rolê de última hora. E a dosagem, como Spremberg havia premeditado mais acima, é singular: se sua rotina de trabalho é altamente solitária, nada mais justo do que buscar o convívio social depois do expediente, e vice-versa. -
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Entenda a diferença entre estar e sentir-se sozinho –
A solidão é um sentimento e um estado de espírito bastante próprio e paradoxo, o que, além de dificultar sua definição, pode confundir o sujeito que se sente só. É importante pontuar que o indivíduo que está isolado, longe da família e dos amigos, por exemplo, não necessariamente se sente sozinho. E uma pessoa cheia de colegas, grupos sociais e que está sempre num convívio diferente – pode se sentir solitária constantemente. Isso porque “a solidão não é algo que diz respeito apenas a companhia ou a falta dela. Há muitos outros aspectos envolvidos, como a maneira que você se vê dentro da sociedade, de um coletivo, ou num ambiente social”, como afirma Schaefer. Ao que Spremberg complementa: “Definiria solidão como um movimento próprio e subjetivo de estar consigo mesmo. É uma experiência de silêncio mesmo. Enquanto estar só não tem, ao meu ver, algo extremamente profundo. A solidão tem esse viés poético”. Perceber a diferença entre os dois é crucial para reconhecer momentos de fato solitários (e a partir daí, identificar seus motivos e o que fazer com eles) e momentos em que estamos apenas afastados de nossas interações externas, isolados mas não sozinhos. Tendo isso em mente, elevamos a análise da solidão: podemos tentar perceber as situações em que, mesmo rodeados de pessoas, ainda nos sentimos sós, e nos questionar o porquê disso e buscar soluções para aquele sentimento. -
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Use (mas não abuse) das telas –
Durante a pandemia, elas foram essenciais. A única janela para o convívio social era por meio da tecnologia, e não havia nada que ninguém pudesse fazer sobre isso. Durante esse período, as redes foram realmente necessárias, e até hoje, para falar com quem vive distante, em outra cidade, estado ou país, elas têm sua relevância e podem, além de aproximar, aplacar um pouco a solidão. “Mas atualmente, vemos mais gente que conversa com pessoas do próprio bairro, às vezes da mesma casa, pela internet. Não serve mais para encurtar distâncias, já tem outra função”, afirma a psicóloga Bettina Schaefer. Ela cita adolescentes que “não saem do celular”, ficam quase em isolamento, e ali cultivam apenas o próprio ego, uma tentativa de criarem e consolidarem a imagem que têm de si mesmos para o mundo externo. “Aí fica uma coisa muito narcísica. E essa esfera do narcisismo, onde não conseguimos interagir com o outro, é uma forma de solidão.” O convívio social presencial, tão rico pelo cardápio de diferenças e conflitos que oferece, não é o mesmo quando acontece no universo online: lá, interagimos apenas com os nossos iguais, e quando surge algo que é um pouco diferente, cancelamos ou excluímos. Para Adrian Spremberg, as relações por meio das telas são “muito esvaziadas de sentido”, além de “apenas um fragmento do contato”, e por isso trazem solidão. Novamente, o equilíbrio é o que rege esta dica. Nem abolir as redes, mas entender o momento de usá-las a seu favor, em vez de gerar um ciclo solitário vicioso. -
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Encontre atividades para o tempo solo –
Para facilitar os momentos sozinho, Spremberg indica a criação de um espaço confortável, no sentido literal mesmo: trazer conforto para a solidão. “Se gosta de desenhar, assistir séries, ler um bom livro, essas são algumas maneiras de tornar mais agradável o tempo em que estiver só.” Segundo ele, tais atividades, principalmente as que envolvem criação, pode tornar a experiência da solidão menos dolorosa e vazia, e até dar significado a ela, “o que é muito poderoso”. Bettina Schaefer vê essas atividades como distrações, que devem ser independentes da tarefa árdua de realmente lidar com o fato de estar só. “São formas culturais de evitar a sensação, por meio da leitura, indo ao cinema, etc. Por isso é paradoxal: você está sozinho em relação a que?” A psicóloga acredita que, ao ler um livro ou ver um filme, emprestamos nosso corpo e vida para um personagem, sentimos e em certa medida vivenciamos a história daquele personagem. “É uma boa forma de se distrair, mas a solidão é um sentimento que aponta para a tentativa de se conhecer melhor, de buscar e entender o que incomoda, onde dói e porquê.” A literatura e diferentes formas de arte podem ser bons antídotos, mas não soluções. Quando estiver sozinho, esteja rodeado de atividades que gosta de praticar, mas separe momentos para, sem distrações, refletir sobre os sentimentos que só aparecem ali, na própria companhia.
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CAPA Como lidar com a solidão?
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