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Depoimento

Qual é a sua amizade mais inusitada?

Juliette, Aline Midlej, Camila Coutinho e outros compartilham histórias de amigos inesperados que se mantêm em suas vidas

Sarah Kelly 01 de Junho de 2025

Qual é a sua amizade mais inusitada?

Sarah Kelly 01 de Junho de 2025

Juliette, Aline Midlej, Camila Coutinho e outros compartilham histórias de amigos inesperados que se mantêm em suas vidas

Quem nunca mudou de opinião sobre alguém? Às vezes, uma bela amizade nasce justamente quando deixamos as suposições de lado, e nos abrimos para conhecer o outro — e também para sermos verdadeiramente conhecidos. Em outras ocasiões, o contrário acontece: aquela impressão negativa se confirma, e qualquer tentativa de aproximação soa como um pesadelo. Não é o caso das histórias que você vai ler aqui.

Gama ouviu personalidades que revelam os bastidores de amizades improváveis. Graças a um misto de coincidência e intencionalidade, esses encontros desafiaram as barreiras geográficas e a lógica da compatibilidade.

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    “Do trabalho, passou a ser amiga de vida, de fazer tudo junto, inclusive acabar relacionamentos”

    Juliette, cantora, advogada, maquiadora, influenciadora e empresária

    “Sou a pessoa mais aleatória nesse tópico porque faço amizade em diferentes tribos. Tenho um grupo da faculdade, um pessoal da farra, uma galera das ações sociais. As pessoas são muito diferentes entre si. Tenho uma história engraçada com uma amiga chamada Camila. Eu era a estagiária mais antiga no gabinete de um procurador no Ministério Público e lá a gente zerava os processos e tinha folga mais cedo no mês. Eu chegava no gabinete dos outros dando ordem, dizendo ‘bota esse povo para zerar esses processos’. Com isso, provoquei o ranço dela. Ela me contou que pensava: ‘Que menina insuportável, acha que é procuradora?’. Depois, foi entendendo o meu jeito e viramos melhores amigas. Na época, namorava há cinco anos e ela há oito. Perguntei para ela: ‘Tu tá feliz?’. Ela disse ‘não e tu?’ e eu respondi que não. Terminamos o namoro na mesma semana e fomos curtir, felizes e livres. Do trabalho, passou a ser amiga de tudo, amiga de vida, de fazer tudo junto, inclusive acabar relacionamentos.”

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    Arquivo pessoal

    “Desenvolvemos um nível de confiança único, uma zona de conversas profundas e leves. Elas são a chave da minha sanidade.”

    Camila Coutinho, influenciadora e empresária

    “A primeira história de amizade improvável é com a Duda Belo, que antes era só uma conhecida. Quando me casei, ela pegou o buquê e lembro de olhar para trás e pensar: ‘Quem é essa? Poxa, era para ser de uma amiga minha’. Ela se casou na época, mas depois nos separamos quase ao mesmo tempo. E aí nos aproximamos. Quando se mudou para São Paulo, cheguei a morar na casa dela por seis meses até encontrar meu apartamento. A segunda, Nelize, conheci quando ela trabalhava na revista Boa Forma. Queria ser capa, mas ela recusou, dizendo que eu não era uma referência fitness — com razão. Sugeriu começarmos com uma matéria. Nos demos tão bem na produção que fomos todos para Noronha fotografar a capa. Na viagem, nossa amizade transcendeu o profissional. Apresentei as duas e formamos um trio que conversa o dia todo. Desenvolvemos um nível de confiança único, uma zona de conversas profundas e leves. Elas são a chave da minha sanidade. Priorizamos essa conexão, seja para desabafar ou compartilhar coisas triviais.”

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    Arquivo pessoal

    “Se eu olhasse só o perfil do Instagram, jamais imaginaria essa conexão”

    Aline Midlej, jornalista, âncora na GloboNews

    “Estava no auge do puerpério, mal saía de casa. Corpo e mente em intensos processos. Cheguei à sala de drenagem da Raquel por indicação, dez quilos acima do meu peso e contando cada minuto fora de casa porque amamentava minha filha a cada duas horas. Jamais imaginaria que naquela maca começaria uma amizade tão importante na minha vida. A maternidade foi nosso primeiro ponto de ligação. Passei a dividir meus anseios de mãe recente, enquanto ela recorda os seus e fazíamos costuras temporais. Logo, dividíamos angústias femininas em nossos variados relacionamentos com o mundo. Havia tanto em comum, mas, principalmente, uma capacidade de compreensão da outra. Todas as terças são dias de sessão, de drenagem e de confidências. Sempre que possível, jantamos juntas. Amamos uma taça de vinho partilhada e a chance de nos emocionarmos uma com a outra. Se eu olhasse o Instagram da ‘Raquel Gaeta’ jamais imaginaria essa conexão. Gata, musa fitness, parecia habitar universos distintos do meu. Me sinto privilegiada por poder olhar além das aparências enquadradas nas redes sociais.”

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    Foto de André de Toledo Sader. “Marido, amigo e fotógrafo”

    “Amizade espantosa é a que tenho com meu marido há 33 anos”

    Andrea del Fuego, escritora

    “Amizade espantosa é a que tenho com meu marido há 33 anos. Ser amigos, mesmo casados, é tarefa para décadas. Como toda amizade, há cuidados e nem tudo precisa ser dito o tempo todo. É uma violência achar que a amizade é espaço para relaxar as próprias bordas e invadir. É o contrário, amizade é evitar o vazamento, não soltar o peso total, procurar descansar para descansar quem caminha contigo.”

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    Arquivo pessoal

    “O que era para ser um café virou um longo papo etílico. Rimos, falamos de tudo e até sonhamos em ter um barco na Amazônia”

    Felipe Schaedler, chef do Banzeiro, em Manaus e São Paulo

    “Minha história de amizade improvável começa com o casal baiano Carla e Carlos, em Manaus. A relação com o Carlos era totalmente profissional, quase burocrática. Era troca de e-mails, reuniões formais… E a Carla, então, eu sequer conhecia. Um dia, numa conversa casual, Carlos comentou que viajaria com a família para Amsterdã. Coincidentemente, eu tinha passagem comprada para a Rússia, com conexão de 8 horas na mesma cidade. Enquanto eles visitavam museus, fui a um bar em frente a um canal. Tomei uma cerveja, andei de barco e chamei o Carlos. O que era para ser um café virou um longo papo etílico e uma conexão daquelas boas. Rimos, falamos de tudo e até sonhamos em ter um barco na Amazônia. E você acredita que a gente realmente fez isso? Compramos o barco em sociedade! E contrariando todos os ditados populares sobre amizades, sociedade e barcos, seguimos firmes há mais de sete anos, sem um único desentendimento. A Carla entrou naturalmente nesse laço e virou amiga também. Somos amigos até hoje num encontro que nasceu por acaso em um bar holandês.”

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    Arquivo pessoal

    “É impressionante como, mesmo em duas pontas do mundo, uma simples mensagem de reconhecimento pode fidelizar um laço para sempre”

    Ademara, atriz e jornalista

    “Em 2018, fiz um intercâmbio de 45 dias no Canadá, depois de três anos pagando o curso e juntando só mil dólares para viver em Vancouver. Queria destravar o inglês. Lá conheci muitas japonesas, mas uma ficou, a Sayumi. Nos conhecemos num passeio inusitado da escola de inglês: um bar. Achei curioso ver alguém tão tímida e, ao mesmo tempo, interessada no Brasil. Quando perguntei seu nome, ela respondeu em português: ‘meu nome é Sayumi’. Fiquei encantada. O intercâmbio acabou, mas, para minha surpresa, ela continuou me acompanhando. Foi uma das primeiras a me mandar mensagem quando fui anunciada na Netflix, mesmo sem entender que ‘Sem Filtro’ ainda nem existia. A amizade ficou adormecida, mas voltou. Sayumi assistiu à série e me mandou um texto lindo. Agora voltamos a conversar e é impressionante como, mesmo em duas pontas do mundo, uma simples mensagem de reconhecimento pode fidelizar um laço para sempre.”

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    Divulgação

    “Essa amizade improvável de mais de 50 anos já viveu de cartas, telefonemas, SMS e se mantém em whatsapp, vídeos e mesmo silêncios, enquanto a vida acontece. É sorte que chama?””

    Carla Pernambuco, chef do Carlota, em SP

    “Éramos meninas em torno dos 14 anos em um voo retornando de Buenos Aires. Fashionistas de plantão, miramos os looks uma da outra: as duas de tamancos clog e chapeuzinho coco compondo o look. Não podia ser só coincidência. Em algum momento começamos a conversar. Maria Lucia Espíndola é uma amiga que está longe e que encontro eventualmente — ela em Curitiba, envolvida na carreira de desembargadora; eu, em São Paulo, às voltas com os empreendimentos gastronômicos. Mesmo assim, conversamos pelos meios possíveis, atualizamos notícias das carreiras pelas mídias e, quando dá certo, nos abraçamos sobre a mesa em refeições amorosas por lá, por aqui ou acolá. Comi com a família em fantásticos jantares libaneses, nos vimos no Rio de Janeiro na temporada em que ela cursou Direito, ela vem ao Carlota quando passa por São Paulo. Essa amizade improvável de mais de 50 anos já viveu de cartas, telefonemas, SMS e se mantém em whatsapp, vídeos e mesmo silêncios, enquanto a vida acontece. É sorte que chama?”

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