De volta à pista
Segundo especialistas, o primeiro encontro já deve dizer muito do que esperar de uma eventual nova relação
À medida que a vacinação contra covid-19 avança, quem ficou em casa até que casos e mortes pela doença diminuíssem estão retornando às atividades de lazer. E os solteiros (ou recém separados, que são muitos, depois da alta de divórcios na quarentena), estão finalmente voltando à pista. O retorno, entretanto, não tem sido simples. Gringos batizaram o sentimento de F.O.D.A, o fear of dating again, ou o medo de voltar a ter encontros e namorar, em tradução para o português. Mas mesmo que haja insegurança, o contato físico está voltando a ser uma realidade, é só dar uma volta pelas cidades.
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Para os que estão relembrando o que é e como sobreviver a um primeiro encontro, contamos aqui que ele é fundamental para determinar a trajetória de uma futura relação, como explicou a professora e psicóloga Marisa T. Cohen para a publicação Psychology Today. Claro que é um momento cheio de tensões e motivos para ansiedade, e até dividir ou não a comida pode ser um divisor de águas, como atesta o jornal britânico The Guardian. Mas, se tiver repeteco, dá para dizer que a química rolou, o santo bateu e a conversa foi boa — ou o reencontro foi obra de um pequeno milagre.
Se houve um tempo em que o primeiro date foi considerado pouco relevante, um estudo da Universidade McGill, no Canadá, provou o contrário. De acordo com a pesquisa, o ser humano é capaz de elaborar primeiras impressões precisas sobre outra pessoa já logo no primeiro encontro. O reconhecimento certeiro e rápido é uma aptidão instintiva. “Quando pensamos no aspecto da evolução, essa habilidade nos ajudou a reconhecer em quem podemos confiar, com quem precisamos negociar, com quem formamos relações, etc.”, afirma uma das pesquisadoras que assina o estudo e doutoranda em psicologia Lauren Gazzard, em entrevista a Gama. É essencial que essas impressões sejam de fato apuradas e verdadeiras, afinal, é a partir delas que damos a largada e passamos a investir em um pretendente.
Com os apps, ficamos sujeitos a excluir potenciais parceiros mais rapidamente, porque sabemos que existem outras opções a um clique de distância
A pesquisa canadense reuniu 372 pessoas, em que cada uma teve sua personalidade e bem-estar avaliadas por ela mesma, além de um amigo ou familiar próximo. Em seguida, os participantes compareceram a uma série de encontros breves, de mais ou menos três minutos e, após cada interação, classificaram a personalidade de seus pares. O resultado pode parecer bizarro, mas em média, as primeiras impressões dos acompanhantes, baseadas em poucos minutos de conversa, eram muito próximas da descrição feita por amigos e familiares próximos. Claro que, cada caso é um caso e, de acordo com a pesquisadora, enquanto algumas pessoas são como livros abertos, outras são mais difíceis de ler. “As que relatam maior bem-estar, autoestima e satisfação com a vida tendem a tornar essa tarefa mais fácil.”
Na pandemia, muitos primeiros dates aconteceram (ou pelo menos começaram) por vias tecnológicas, com uma mãozinha dos apps de relacionamento. Mesmo nesses casos, há indícios de que somos capazes de elaborar impressões apuradas sobre alguém com base em seu perfil nas redes. Apesar de sermos mais propensos a críticas. “Penso que o primeiro encontro já apresenta um contexto altamente avaliativo, onde as pessoas, motivadas a fazer a escolha correta, esmiúçam a personalidade do outro mais do que normalmente fariam”, explica. “Com os apps, podemos ficar sujeitos a excluir potenciais parceiros mais rapidamente, porque sabemos que existem outras opções a apenas um clique de distância.”
Sir Edward Burne–Jones, “Adam and Eve” – Ilustração Mariana Simonetti
Independentemente do meio de interação do primeiro encontro, seja por videochamada ou ao vivo em um restaurante, é essencial zelar pela impressão deixada após o contato. Há, de fato, muitas variáveis em jogo — e grande parte fora do nosso controle. “Existem muitas nuances, que envolvem você, o outro, os dois juntos. Além do acaso. Acredito verdadeiramente que existe uma certa magia, que simplesmente não pode ser quantificada. Sei que isso pode ser frustrante, mas gosto de pensar que torna tudo mais romântico”, diz a pesquisadora Lauren Gazzard. Por outro lado, não dá para negar: “As primeiras impressões são importantes porque elas ficam, é preciso ter muitas outras interações para conseguir mudá-las. É cruel, mas é verdade”, explica a psicóloga Adriana Nunan.
As primeiras impressões são importantes porque ficam, é preciso ter muitas outras interações para conseguir mudá-las
Por mais que não exista uma métrica para avaliar quão bem sucedido foi um encontro, e que existam muitas variáveis na mistura, com ajuda das duas especialistas, Gama elencou algumas dicas para quebrar o gelo e a tensão do primeiro date depois de meses longe da pista.
Autenticidade é tudo
Parecer misterioso e “se fazer de difícil”, o famoso joguinho (demorar para responder mensagens, não topar um encontro de primeira), pode ser tentador no início da conversa com um pretendente. É importante lutar contra esse impulso. “Se quer que o outro te conheça com precisão, encontre maneiras de comunicar sobre sua personalidade”, indica a psicóloga Lauren Gazzard. “Temos evidências de que pessoas mais felizes consigo mesmas tendem a ser lidas mais facilmente. Provavelmente porque agem como de fato são e sem medo de chamarem atenção.”
A psicóloga Adriana Nunan diz que a autenticidade é essencial inclusive em casos mais difíceis, quando a pessoa já passou por um dia complicado e chega com o ânimo abalado para o date. “Se não quis desmarcar com o pretendente, avise que não está no melhor dia, mas que não quis desmarcar.” Em situações de timidez, indica o mesmo. “Dizer como você está se sentindo não abre espaço para interpretações equivocadas. Ser sincero aumenta a chance do outro gostar de você.” E relembra um fato importante: ambos querem se apresentar bem, e causar boas impressões. Então, relaxe e seja você mesmo.
Quem sabe um café?
O local do primeiro encontro é um ponto crucial. Antes de marcar, considere espaços que te deixam confortável e são agradáveis. “O date em si já é um gerador de ansiedade, então quanto menos estímulos negativos nesse momento, melhor”, explica Adriana Nunan. Sua dica é combinar em um lugar neutro, como um café. Segundo ela, assim o encontro pode durar meia hora, no caso de ser um desastre e você querer dar o fora mais rápido possível, ou pode durar horas, e até se estender para um drink ou restaurante.
As redes sociais são como um espelho
Como a pesquisadora Lauren Gazzard afirmou: há indícios de que conseguimos elaborar impressões apuradas sobre alguém com base em seu perfil nas redes. Por isso, não subestime o papel da tecnologia na hora de se apresentar (na era do Instagram, iniciar uma nova relação quase requer uma estratégia de relações públicas). O ideal é ser fiel à sua personalidade — na imagem, na descrição, ou em relação ao que faz da vida. Isso é importante porque, caso o encontro presencial aconteça, pode gerar uma quebra de expectativa e até de confiança. “Isso já inicia a relação com base na mentira. O outro pode se sentir enganado se vir uma coisa na rede social, e outra completamente diferente na vida real”, explica a psicóloga Adriana Nunan.
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