Adolescentes que são agentes de transformação — Gama Revista
Mateus Morbeck / Divulgação / Acervo Pessoal

A novíssima geração de ativistas que quer mudar o mundo

Eles começaram cedo a se inquietar com temas como meio ambiente, racismo e inclusão e fazem a diferença entre outros jovens e em suas comunidades    

Andressa Algave e Daniel Vila Nova 12 de Outubro de 2021

De Greta Thunberg à Malala Yousafzai, jovens ativistas se tornaram importantes atores políticos internacionais na última década. No Brasil não é diferente.

Mas se Greta e Malala já não são mais adolescentes, há uma nova geração que se inspira e segue o caminho das duas, lutando por questões sociais e debatendo temas como meio ambiente, racismo e inclusão social.

Gama se uniu à Alana, organização que promove o desenvolvimento integral da criança, para mostrar a história de seis jovens que são protagonistas em grandes questões do mundo e fazem a diferença entre outros jovens e junto às suas comunidades. De uma ativista ambiental que discursou na ONU a uma rapper, ouvimos os relatos de pequenos grandes protagonistas que estão mudando o mundo.

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    Acervo Pessoal

    “A minha luta é para salvar a minha geração e as próximas”

    Catarina Lorenzo, 14 anos, ativista ambiental

    Catarina Lorenzo não lembra ao certo quando começou seu ativismo em defesa do meio ambiente. Natural de Salvador, ela cresceu acompanhando a luta da família pela proteção do Vale Encantado, refúgio de Mata Atlântica na capital baiana. A mãe, grávida, já militava pela preservação do meio ambiente com Catarina no ventre. Os pais e os avós a criaram em um ambiente de luta pela natureza. “Cresci correndo descalça no mato, subindo em árvores e nadando no mar. Tudo isso criou em mim uma grande conexão com a natureza.”

    Aos poucos, a garota começou a sentir as consequências das mudanças climáticas no local onde vivia. A temperatura das águas foi ficando cada vez mais elevada, prejudicando corais, a vegetação e a vida marinha. Ela sabia que precisava agir e entrou em contato com um grupo de ativistas da Califórnia chamado “Heirs To Our Oceans” (Herdeiros de nossos oceanos, em português) e se candidatou a uma vaga. “Era a oportunidade que eu queria de transformar a minha luta local em uma luta global.”

    Aos 12 anos, Catarina assinou uma petição, acompanhada por mais 15 jovens, chamada “Children vs Climate Crisis” (Crianças x Crise Climática). No Comitê dos Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas, ela discursou para líderes mundiais, cobrando ações climáticas e lembrando que serão eles, os jovens, que pagarão o preço das ações ou omissões dos governantes.

    “Desde pequena, fui instruída pelos meus pais a pensar no meio ambiente e sinto que devo compartilhar esse conhecimento com os outros”, afirma. A jovem entende que é impossível viver sem a natureza e deseja, por meio de seu ativismo, criar uma relação de equilíbrio e respeito com o meio ambiente. “A minha luta é para salvar a minha geração e as próximas.”

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    “Quero que as garotas que me escutam se entendam, assim como eu me aceitei”

    MC Soffia, 17 anos. Rapper, cantora e compositora

    MC Soffia sempre cantou. Quando era bebê, sequer entendia o que estava cantando, mas isso jamais a impediu de soltar a voz. Nos encontros familiares, o karaokê era dominado por ela. Aos 6 anos de idade, a garota fez parte da oficina “Futuro do Hip Hop” e ali entendeu que queria ser cantora profissional. Com o tempo, e o apadrinhamento dos responsáveis pela oficina, Soffia ingressou no mundo da música. Suas letras abordavam a questão racial e celebravam a autoestima feminina e negra.

    “Foi natural abordar essa temática na minha música, minha família é uma família de pessoas pretas fortes. Esses assuntos sempre estiveram presentes na minha criação”, ela conta. A família, composta por militantes do movimento negro, é motivo de inspiração para a rapper. Soffia conta que os pais sempre a incentivaram a ser livre e fazer as próprias escolhas. “Não tinha essa de não conseguir fazer algo por ser menina ou por ser preta. O que eu quisesse ser, eu seria.”

    A vontade de Soffia, então, se tornou passar a mensagem que ela recebeu da família para outras garotas, que talvez não tivessem o mesmo apoio em casa. “Quero que elas se entendessem e se aceitassem assim como eu me entendi e aceitei. Várias mães, tias e avós já falaram para mim que a minha música ajudou as filhas, sobrinhas e netas delas a amarem o próprio cabelo e a cor.” Para a garota, a música tem um poder muito forte e a mensagem de força e apoio que ela recebeu da família pode ser repassada para outras pessoas que estão nesse processo de autoconhecimento e aceitação.

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    “Foi muito importante ver que eu podia promover uma mudança, por pequena que seja”

    Ana Gabriela Santana, 17 anos. Co-fundadora e líder do projeto Access, iniciado em 2020 e que leva acessibilidade em plataformas online para pessoas surdas

    A trajetória de Ana Gabriela Santana com a acessibilidade começou pelo interesse de aprender a língua brasileira de sinais, em 2020. Após encontrar o vídeo de uma aluna da Universidade Estadual de Goiás (UEG) narrando suas tribulações diárias com o acesso à plataforma de aulas online durante a pandemia, o interesse se transformou em empatia.

    “Eu achei um absurdo. Para mim, que sou ouvinte, já estava sendo difícil ter aulas online, imagina para alguém que tem dificuldade pra aprender por causa de limitações da plataforma? Aí eu vi que já havia dois problemas: a falta de conscientização da sociedade com os problemas da comunidade surda e também a tecnologia em si. Fui falar com um amigo que é programador e propus: ‘Tem como a gente desenvolver alguma coisa pra ajudar?’. E foi aí que começou o projeto, a gente quis atacar os problemas reais.”

    O projeto Access, fundado em 2020 por alunos do Colégio Prepara Enem, é focado em promover uma plataforma que simplifique a interação de pessoas com deficiência auditiva com o aprendizado online. A ideia é juntar em um só site ferramentas de transcrição para áudios e vídeos, além de usar as redes sociais para realizar debates e campanhas de conscientização da inclusão digital. O projeto foi um dos vencedores do prêmio Criativos da Escola em 2020, produzido pelo Instituto Alana.

    “Foi muito importante ver que eu podia promover alguma mudança, por pequena que seja. Eu acredito na juventude e no nosso poder de falar e fazer. Muitas vezes a gente ouve dos mais velhos ‘você é muito nova para fazer alguma coisa’, e eu acho que isso é um preconceito que a juventude ouve muito. ‘Espera se formar na faculdade para fazer alguma coisa’. Eu não acredito nisso. Acho que a gente tem tanto potencial, e aguardar para que no futuro algo possa acontecer não faz sentido para mim.”

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    Instagram / @chama_preta

    “Tinha que fazer algo para que a próxima geração não precisasse ter o mesmo medo que eu tive, de ser julgado pela minha cor”

    Aaron Rodrigues Leal, 16 anos, co-fundador do Chama Preta. Iniciado em 2020, o projeto valoriza a presença de pessoas negras no mercado de trabalho e na mídia

    A relação de Aaron com as pautas raciais começou de uma preocupação pessoal. Acompanhar casos de racismo no noticiário e no dia a dia criaram um receio que o jovem não queria levar para as gerações seguintes. “Eu pensei que tinha que fazer algo para que a próxima geração não precisasse ter esse mesmo medo que eu tive, de ser julgado pela minha cor”.

    Foi com a companhia das amigas Nara Emanuelle e Vitória de Jesus que ele criou o Chama Preta, um coletivo de valorização e celebração de profissionais e produções negras, e um dos vencedores do prêmio Criativos da Escola 2020, do Instituto Alana. O projeto surgiu durante a pandemia, então o conteúdo produzido centrou-se nas redes sociais: os amigos produzem quadros de conversa, lives, publicações e pequenos vídeos informativos. Um trabalho que toma tempo, mas conta com a dedicação do ativista. “Eu amo o projeto e trato ele como principal, então sempre trago para o meu dia a dia. Vemos pessoas que não esperávamos falando: ‘que incrível’, ‘essa era a voz que precisamos’, e isso nos dá coragem e força para continuar. Tem gente que fala que estava precisando ouvir aquilo, ver o que postamos, e nos agradecem”.

    O baiano conta que o projeto ajudou a quebrar barreiras invisíveis da percepção que ele tinha de si na sociedade. “O Chama Preta me ajudou a quebrar a visão de que eu não iria conseguir vencer por ser preto. Eu consegui colocar na minha cabeça que a minha cor de pele não vai definir quem eu sou, minhas atitudes, minhas capacidades. Conhecer mais sobre o tema me fez perceber essa realidade, que cor de pele não define caráter, não define capacidade e apenas ajuda a aumentar a diversidade’, diz.

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    Acervo Pessoal

    “Na escola, o continente africano era sempre abordado dentro de uma visão eurocêntrica. Quisemos mudar isso”

    Tamara da Silva dos Reis e Rayane Aguiar dos Santos, 18 anos. Criadoras do projeto “África Novos Olhares”

    O projeto que uniu as amigas Tamara e Rayane começou com uma simples pergunta: por que não estudamos o continente africano com profundidade na escola? “Quase não falávamos da África na escola, mesmo com o continente africano tendo uma conexão tão forte com o Brasil”, lembra Tamara. Para piorar, quando o continente era mencionado, era sempre pelo lado negativo — pobreza, miséria, fome e escravidão.

    Por conta própria, as duas decidiram, então, procurar mais informações sobre a África, e encontraram a Lei 10.639, que versa sobre a obrigatoriedade do ensino da cultura e da história afro-brasileira nas escolas públicas e particulares. A partir daí, as duas passaram a pesquisar sobre cultura africana e criaram o projeto “África Novos Olhares”, uma série de conteúdos audiovisuais com novas perspectivas sobre o continente. Disponível nas redes sociais, blog e canal do projeto no YouTube, o material passou a auxiliar estudantes e professores de todo país a enxergarem o continente a partir de sua riqueza e diversidade –e sua importância na formação cultural brasileira.

    “Na escola, a temática era abordada dentro de uma visão eurocêntrica. Quisemos mudar isso”, diz Rayane. “O continente possui 54 países, uma imensa diversidade cultural, mas reduzimos isso a algo pequeno e básico.” Para as duas, conhecimento é poder. E a partir da pesquisa, Tamara e Rayane redescobriram a história da África e a própria história no processo.

logo Alana

Este conteúdo é parte da série “Crianças e adolescentes têm direito a um futuro no presente”, que tem o apoio da Alana, organização de impacto socioambiental que promove o direito e o desenvolvimento integral da criança e fomenta novas formas de bem viver.

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