Quando descobriu que você vale muito?
Taís Araújo, Zezé Motta, Larissa Manoela, Daiane dos Santos e outras mulheres inspiradoras falam sobre autoestima e descoberta do próprio valor
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“Quando a gente toma consciência, parece que as coisas se realizam”
Taís Araújo, atriz
“Demorou muito para isso acontecer. Fui criada em lugares muito brancos e tive que desenvolver uma estratégia para sobreviver naquele meio elitista, que me dizia que eu não merecia estar lá. Com 13 anos, comecei a trabalhar como modelo, estava nas capas das revistas, a moda me dava um carimbo de mulher bonita, mas minha autoestima não conseguia se elevar. Porque à minha volta era um fracasso. Para mim, de nada adiantava estar na capa da “Capricho” se na escola ninguém olhava na minha cara, ninguém queria me beijar na boca. Eu tive que ir para a Bahia beijar na boca, porque no Rio ninguém me queria. Lá pelos meus 30 anos, quando eu fazia a Helena, personagem do Manoel Carlos, senti algo estranho. A coisa estranha é que eu decidi transformar o que eu passei em um trunfo. Chegou um momento em que eu pensei: o que eu tenho de diferente das minhas colegas não negras? O meu histórico. Então eu preciso botar isso para o palco, dar voz e corpo a esse silenciamento. E quando a gente toma consciência, parece que as coisas se realizam. Depois daquilo, a minha vida, a minha carreira, os meus estudos… tudo mudou. Porque o meu olhar para o mundo, o meu olhar para mim, mudou.”
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“No ‘Black is Beautiful’, percebi que os negros lá eram altivos, andavam de cabeça erguida”
Zezé Motta , atriz e cantora
“Eu passei por um processo de embranquecimento muito grave na adolescência. Eu já alisava o cabelo, pensei em fazer uma plástica no nariz, cheguei a investigar a possibilidade de diminuir o bumbum, ou seja, total negação das minhas origens. Mas a gente faz isso porque a gente quer ser amado, a gente quer pertencer. Felizmente, eu tive o privilégio de conhecer [a intelectual e ativista] Lélia Gonzalez, de fazer um curso de cultura negra, e esses traumas foram ficando para trás. Em 1969, viajei para os EUA com o Teatro de Arena, do Augusto Boal, para encenar “Arena conta Zumbi”. Fui em pleno movimento “Black is Beautiful”, e percebi que os negros lá eram altivos, andavam de cabeça erguida. O que era isso? A autoestima bem resolvida. Pensei: por que a gente anda assim, meio encolhido? Fiquei encantada com aqueles homens e mulheres de cabelão black power. Mas eu usava uma peruca chanel. O Boal veio conversar comigo, eu fiquei muito constrangida e fui tomar um banho que eu considero que foi um batismo. Eu fazia um alisamento e com qualquer chuvisquinho, o cabelo voltava ao natural. Eu me enfiei embaixo do chuveiro e aquilo foi um alívio.”
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“Uma vez que nasce uma mulher, nasce um poder”
Larissa Manoela, atriz
“Nosso valor é gigantesco: uma vez que nasce uma mulher, nasce um poder, uma força, uma garra, uma persistência. Mas não é um entendimento que a gente tem logo de cara. Conforme a gente vai evoluindo, crescendo, amadurecendo, a gente vai entendendo esse lugar. Eu fico feliz de entender, finalmente, o valor que eu tenho — para mim, para o mundo e para a nova geração. Fico feliz de carregar um público que me acompanha desde muito cedo, de ter crescido com esse apoio, carregando essa responsabilidade e fazendo disso minha missão de vida. Vem aí uma geração muito mais forte, feita de mulheres que ouvem cada vez mais o quanto são capazes e merecem estar onde estão.”
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“O esporte ajuda muitas causas, e uma delas é entender o nosso real valor, a nossa força”
Daiane dos Santos, campeã mundial de ginástica artística
“O meu valor sempre foi algo construído pela minha família, tanto pelos meus pais quanto pelas mulheres incríveis que passaram na minha vida e que sempre me lembraram dessa importância de saber o meu real valor. Acho que o esporte é uma bandeira que ajuda muitas causas, e uma das causas é essa: a gente entender o nosso real valor, como a gente é forte, como a gente resiliente. E como o passo de uma mulher pode fazer a transformação na vida de muitas outras.”
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“Não estou aqui para ser aceita; estou aqui para ser respeitada”
Gabriela Loran, atriz
“Eu sempre soube do meu valor. Só que, obviamente, é preciso que a gente veja isso refletido na sociedade. E onde a gente vê isso? Quando uma garota-propaganda como a Taís Araújo diz ‘Você vale muito’. Eu via isso na minha infância e isso me inspirou. O movimento das mulheres trans veio paralelo ao das mulheres pretas, que nos puxaram e fizeram com que a gente conseguisse ecoar nossas vozes. Nós sempre soubemos o nosso valor. Mas o nosso valor foi apagado historicamente em detrimento de menores salários, de não ocupar espaços. Sou uma mulher trans, mas trans não define a mulher que eu sou. Eu não estou aqui para ser aceita; estou aqui para ser respeitada pelo que eu sou e valorizada pela profissional que eu sou. Depois que a gente entende o valor que a gente tem, o mundo fica pequeno pra gente.
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“Quando entendi que as mulheres não conseguiriam parir com dignidade e respeito, acordei”
Marcela Mc Gowan, ginecologista, especialista em sexualidade e ex-BBB
“Demorei muitos anos para descobrir o meu valor. Foi acontecendo conforme eu fui entendendo quem eu queria ser, o que eu podia ser, os lugares que poderia ocupar. É um processo de desconstrução para depois reconstruir uma nova narrativa. De se libertar desses padrões que a sociedade impõe, de protagonizar nossa vida. Como ginecologista, a humanização do parto foi a primeira vez que eu me dei conta da opressão que as mulheres viviam. Eu estava em um plantão e quando eu entendi que as mulheres não conseguiriam parir com dignidade e respeito, foi o momento em que eu acordei. Naquela noite, abri o computador, comecei a digitar e apareceu a Chimamanda [Adichie, escritora nigeriana]. E ela é maravilhosa, né? Foi a primeira vez que eu ouvi sobre feminismo e isso mudou completamente minha vida.”
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“Pensadoras abriram meu olhar e me fizeram pensar: com que olhos eu me vejo?”
Larissa Luz, cantora e atriz
“Sou de uma geração de referências que não contemplavam a gente em nada. Eu, quando era pequena, sonhava que ia vir uma fadinha e transformar meu cabelo. Na escola, eu era a mais bonita de corpo. Ficava encucada: por que o meu rosto não era o mais bonito? Até minha mãe, que é educadora, uma mulher que sempre esteve à frente do seu tempo, fazia aquelas coisas de botar o ferro no fogo para poder passar o cabelo. Para mim, é muito recente essa virada de chave, e ela começou pela literatura. Pensadoras como bell hooks, Sueli Carneiro, Carolina de Jesus, Chimamanda, elas abriram meu olhar. Essas mulheres me fizeram pensar: com que olhos eu me vejo? Elas me fizeram me ver com outros olhos, olhar para dentro e tirar palavras que colocaram em algum momento e que eu deixei entrar por fragilidade, vulnerabilidade. Essas mulheres pensadoras construíram o meu poder de ver outras imagens para além do que me era mostrado.”
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“Quando a mulher duvida do seu valor, não é um questionamento individual”
Ana Carolina Querino, representante interina da ONU Mulheres no Brasil
“A informação pode ajudar a mulher a identificar que quando ela duvida do seu valor, aquele não é um questionamento individual. Que quando ela sofre algum tipo de violência psicológica, aquela que só dá aquele arrepio, mas que ela não entende bem o que está acontecendo, que aquilo é violência, que não é uma questão dela, é uma questão do outro que está agindo de uma forma equivocada. Precisamos tornar cada vez mais natural que todas nós, na nossa diversidade, possamos ser quem somos e ter oportunidades iguais de sermos valorizadas.”
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“Eu me descobri mulher escutando outras mulheres”
Bia Diniz, fundadora da ONG Cruzando Histórias
“Eu me descobri mulher escutando outras mulheres. E me conectar com mulheres tão diversas, de realidades tão diferentes, foi me trazendo uma conexão comigo mesma, com o que eu tinha de potência dentro de mim. Sem dúvida, todas as mulheres que me cercam resultam em quem eu sou hoje. Eu olho para minha jornada no mercado de trabalho e penso: quantas violências eu perpetuei com outras mulheres, quanto de machismo eu trouxe em mim por tanto tempo e que hoje está no processo de desconstrução? A sociedade nos imputa isso. E esse processo de desconstrução faz com que a gente perceba que não tem que passar por isso. Eu tenho valor, esse espaço é meu, eu lutei por ele, eu estudei, eu trabalhei, eu construí. Eu não posso simplesmente deixar que uma violência, seja moral, seja sexual, me tire daqui e me atrapalhe de prosperar na carreira.”
Este conteúdo foi desenvolvido em uma parceria comercial entre Gama e L’Oreal Paris, como parte da campanha #VoceValeMuito