Objeto de Análise: Bandeirinhas de festa junina — Gama Revista

Bandeirinhas de festa junina

Nascidas de um ritual católico de purificação, as tradicionais bandeirinhas decoram das quermesses às pinturas de Volpi

Leonardo Neiva 23 de Junho de 2023
  • O que é

    Não tem coisa mais simples de explicar. Basta elas aparecerem para enfeitar o céu da sua rua, o pátio da igreja do bairro ou o teto da quadra onde os filhos praticam educação física, que a gente já começa a pensar em pular fogueira, dançar quadrilha e se entupir de paçoca e pé-de-moleque. E o melhor é que também não há decoração mais simples de fazer. Você pega um fio de barbante e vai colando a intervalos regulares as bandeirinhas em cores variadas, mais ou menos com as mesmas dimensões — fica a seu cargo comprar prontas ou fazer você mesmo. Embora a versão mais conhecida das bandeiras de festa junina seja em papel de seda, dá para usar diferentes tipos de materiais, incluindo plástico e tecidos como feltro. E há sim espaço para a criatividade. Ainda assim, a encarnação mais tradicional da peça decorativa é com cinco lados, podendo usar apenas a versão com duas pontas ou intercalar estas com as que têm uma única ponta no centro. Não importa se prefere ser mais econômico e “clean” ou chutar o balde, preenchendo cada centímetro vazio do teto com varais de bandeirinhas multicoloridas, a partir do momento em que você as pendura no ar, qualquer cômodo ou quintal se transforma num respeitável “arraiá”.

  • Quem fez

    Assim como praticamente toda tradição popular que vai passando de geração para geração, é impossível apontar quem inventou o item, hoje indispensável em qualquer festa junina, ao lado da fogueira. O próprio festejo nasceu bem longe do Brasil, em países europeus de tradição católica, com o nome de “joaninas”, em homenagem a São João — a princípio, o único santo celebrado no período. Foi na época colonial que os portugueses importaram a tradição para terras brasileiras, onde ela acabou criando ninho ao longo dos séculos em meio à nossa cultura popular, incorporando elementos diferentes em cada região. Com o tempo, aproveitando que os dias de São Pedro e Santo Antônio eram celebrados no mesmo mês, eles acabaram sendo incorporados, ampliando a comemoração. Muitos anos atrás, também era comum que as imagens dos três ícones fossem gravadas em grandes bandeiras coloridas, colocadas na água num evento conhecido como lavagem dos santos, espécie de ritual de purificação da água e de quem se banhasse nela. Esse costume acabou se perdendo e hoje acontece em raras festas pelo país. Mas ele deixou um herdeiro muito mais famoso e difundido, já que bandeirinhas menores foram sendo acrescentadas a quermesses e arraiais em alusão ao ritual.

  • Por que é tão desejado

    Mesmo sem muito valor por si mesma, a bandeirinha de festa junina esbanja um capital sentimental muito grande. Em vida, o célebre pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988) até já rejeitou o rótulo de “pintor de bandeirinhas” — e, é claro, sua arte era muito mais que isso. No entanto, ninguém compreendeu como ele a importância que os objetos tinham para representar nossa cultura, tradições e a alegria das comemorações brasileiras. É quase impossível olhar para o alto, visualizar cordões e mais cordões repletos de bandeirolas multicoloridas e não sentir uma explosão de felicidade. Afinal, é festa junina. Um mês inteiro — isso se sua celebração não se estender até julho ou agosto — para ouvir músicas, dançar, celebrar a cultura popular brasileira, brincar, comer e beber bem, reencontrando amigos e familiares. Mesmo que, no final de tudo isso, os varais repletos de bandeirolas acabem tristemente caídos no chão, simbolizando o fim dos festejos, ainda dá para enxergar o copo meio cheio. Afinal de contas, é só o início da espera pelo ano que vem, quando bandeirinhas hão de tremular mais uma vez ao longo de um novo mês de junho, ao som do forró, pairando sobre a luz da fogueira e o odor de milho, pinhão, quentão e tantas receitas e ingredientes típicos mais.

  • Vale?

    Ainda que o metro do varal de bandeirinhas custasse mais do que alguns poucos reais, dá para dizer que o sacrifício valeria a pena. Já quem prefere aderir ao processo manual gasta sim algumas boas horas e esforços numa tarefa um tanto repetitiva. Se feita coletivamente, é provável que a jornada acabe se tornando tão divertida quanto o destino, como diz o clichê. Mas, mesmo que não seja o caso, difícil não achar recompensador depois de ver tanta gente apreciar e comemorar à sombra do resultado final de um árduo trabalho.

  • Onde comprar

    Barbante dá para encontrar em qualquer bazar ou papelaria, com cem metros de extensão saindo por pouco mais de R$ 3. O papel de seda também costuma vir no tamanho certinho e em várias cores, por preços relativamente baixos, restando mesmo só cortar do jeito que preferir. Agora, se quiser poupar trabalho, você consegue comprar varais de bandeirinhas prontos em papelarias ou sites como Mercado Livre, Magazine Luiza e Amazon, a partir de 30 e poucos centavos o metro, dependendo dos materiais.

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