Comunique-se melhor com os pequenos
O diálogo com as crianças é um poderoso mecanismo de educação e desenvolvimento. Saiba como ouví-las e acolhê-las
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Escute mais, fale menos –
Um trajeto de carro, um banho ou a preparação de uma refeição são ótimos momentos para dialogar com os pequenos. O importante é sempre manter as portas abertas para a troca, como explica a psicóloga Rita Calegari. Para estimular a comunicação, ela ressalta o valor dos ouvidos. “O ideal é que os pais ou cuidadores perguntem, conversem, e acima de tudo, estejam ali para ouvir. É um exercício, mas não adianta perguntar e ter pressa para escutar a resposta.” Ela diz que, para iniciar um diálogo interessante com os filhos, é preferível escolher um momento tranquilo, em que seja possível dar atenção plena e demonstrar interesse no que o pequeno diz – ou seja, nada de distrações ou demandas de trabalho para interromper a fala da criança. Também atenta para os discursos dos adultos: “Nada afasta mais do que o adulto fazer um longo monólogo. A questão é parar e ouvir a criança, e não ficar falando”. -
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Fale no mesmo nível (de altura) –
Se até o príncipe William e sua esposa Kate, ambos integrantes da família real britânica, se agacham para conversar com os filhos, todos nós também deveríamos. O hábito de se colocar na mesma altura que as crianças e nivelar o olhar é uma técnica de comunicação conhecida como escuta ativa, desenvolvida pelos psicólogos americanos Carl Rogers e Richard E. Farson, em 1957. William leva o método tão a sério que chegou a quebrar protocolos durante eventos reais para conversar com seus filhos. O ato de se abaixar para dialogar com a criança pode parecer ínfimo, mas é de extrema importância. De acordo com especialistas, permite uma comunicação horizontal e linear, o que aumenta a capacidade de ouvir e de ter empatia. -
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Atente-se à linguagem não verbal –
Com o cognitivo ainda em desenvolvimento, os pequenos se apoiam muito na linguagem não verbal dos pais ou cuidadores. Por isso, a psicóloga Rita Calegari indica “alinhar o que você diz com o que seu corpo diz”. “Para estabelecer a confiança com a criança, o mais importante é não julgar o que ela conta. Pode parecer simples, mas às vezes o julgamento vem na forma de exclamação, num olhar, e a criança percebe.” Segundo ela, é preciso tentar tratar a fala dos filhos com a maior naturalidade possível, mesmo que o tema não pareça natural para os adultos. “É fazer uma linha mais blasé mesmo.” -
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Crie um espaço seguro de troca –
É como um porto seguro das emoções, em que a criança pode se abrir, dizer como se sente, e buscar apoio, se necessário. Para isso, o jornal norte-americano New York Times indica fazer um check-up diário dos sentimentos – pode ser em um espaço físico, ou emocional, em que, não importa onde você esteja, seja possível estabelecer uma conexão. O ritual pode começar com um abraço e uma respiração profunda, e aí a criança tem a palavra. Com esse mecanismo, o pequeno desenvolve inteligência emocional, autoconsciência e entende melhor sobre as próprias emoções, podendo comunicá-las mais facilmente para os adultos. Nesse espaço seguro, há limites – agressão, roubo, mentiras ou falta de responsabilidade não serão tolerados –, mas fora isso, a criança deve poder se expressar livremente. -
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Estabeleça limites, mas saiba a hora de acolher –
Toda criança precisa de regras e limites, e muitos deles devem ser desenhados justamente em prol da segurança do pequeno. Mas todos precisam ser coerentes. “O limite deve ser necessário e fazer sentido. Se tem horário para dormir, não pode mudar de um dia para o outro sem motivo, se não fica difícil para a criança entender qual é o limite”, explica a psicóloga Rita Calegari. “Também precisamos combinar o jogo antes: primeiro orientar, educar, combinar o limite e só depois cobrá-lo.” Ela explica que é uma espécie de promessa: se ameaçar uma imposição, os pais ou cuidadores devem estar prontos para colocá-la em prática. Além das regras, é necessário sensibilidade para entender qual o momento de acolher o pequeno, e ter em mente que gritar jamais é uma solução. “A criança chora porque não tem repertório de palavras e uma maturidade cognitiva para transformar essa frustração em diálogo. Quando ela chora, não é um bom momento para ficar conversando, e o ideal é mostrar que entende seu sofrimento e tentar confortá-la”, finaliza a psicóloga.
Este conteúdo é parte de uma série especial sobre violência e maus-tratos contra crianças e adolescentes, produzida com apoio da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, instituição que atua em iniciativas sociais dedicadas à melhoria da qualidade de vida na infância, ao conhecimento científico sobre a saúde infantil e à assistência médica infanto-juvenil.