Acolha um amigo com problemas
Seja em um término de relacionamento, dificuldades financeiras ou questões familiares — saiba como ouvir e dar suporte emocional para um amigo
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Pergunte e pratique a escuta ativa –
Perguntar é a única maneira de fazer com que uma pessoa entenda de fato como a outra está se sentindo, concluiu um estudo da Universidade Ben-Gurion. Mais do que tentar imaginar como você se sentiria no lugar de um amigo com problemas, é preciso perguntar como ele está lidando. E claro: ouvir a resposta. Essa parte também é desafiadora, mas há táticas para ser mais eficiente. Primeiro, esteja sempre atento ao outro, acene e se expresse com sinais não verbais durante a fala dele. Também concorde ou faça comentários breves que estimulem o desabafo, como por exemplo: “E o que aconteceu depois?”, “como você se sentiu?”, etc. A escuta ativa, uma estratégia usada em salas de terapia, é uma boa pedida – basta parafrasear aquilo que foi dito com suas próprias palavras, o que dá uma nova perspectiva para os fatos, e faz com que o amigo se sinta ouvido e compreendido. Há, entretanto, um passo anterior: “Existe um timing para falar com seu amigo sobre as questões que ele está passando. Tem vezes que ajuda mais não falar nada, só ficar ao lado, estar de alguma forma presente, seja mandando mensagem ou saindo com a pessoa”, afirma a psicóloga clínica Bettina Schaefer. -
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Primeiro, dê suporte emocional. Depois, soluções –
De nada adianta ouvir um amigo passando por dificuldades e logo assumir uma posição julgadora: “Como assim você ainda está com fulano? Como assim ainda não entregou sua tese? Como assim não foi na academia de novo? Tenho a impressão que as pessoas se afastam desse tipo de amigo, que diz o que você deveria fazer ou não”, conta Schaefer. “É uma amizade que não vai se sustentar. Normalmente, escolhemos amigos que nos acolhem e nos aceitam, não o contrário.” Ela explica que é preciso dar espaço para que a pessoa tome decisões por conta própria, ou o amigo pode acabar repetindo padrões de comportamento que não são saudáveis. “Pensando em uma amiga que há anos se envolve com um cara e sabe que o melhor a fazer é terminar, mas não consegue – nessas horas, é ficar do lado e apoiar.” Claro que, além do suporte emocional, trazer soluções e pensar em saídas para os problemas de um amigo é importante, e vai ajudá-lo a longo prazo, como explica a especialista Elise Kalokerinos, em um artigo para a plataforma Psyche. Mas tudo tem seu tempo. -
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Tente diferentes perguntas para investigar como está o outro –
A pergunta “você está bem?” já ficou um pouco ultrapassada. No geral, respondemos no automático: “Sim, tudo bem”, ou no máximo, se não for possível camuflar a expressão corporal cabisbaixa, damos um “sim, só estou cansado”. Então, mude a pergunta. “Tente usar um outro adjetivo, uma expressão que puxe a pessoa para fora desse automático. Do contrário a resposta fica viciada, não saímos do lugar, e você não consegue ajudar”, diz a psicóloga. “A mudança na pergunta mostra que você está ali para uma conversa mais autêntica, e não para ficar na rotina do ‘você está bem?’. Tente uma nova pergunta, como: ‘Você está feliz?’.” -
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Seja insistente –
Se seu amigo está em um ciclo de tristeza por conta dos problemas que vem enfrentando e não quer sair de casa para quase nada, além de buscar ajuda psicológica nos casos em que seja necessária, é preciso estar presente, motivar saídas e ser insistente quanto a isso. “Sair para tomar um café, dar uma volta no quarteirão. Isso já ajuda. Se a pessoa mesmo assim não quiser sair, passe na casa dela, diga que quer vê-la e por isso vai até lá. Vale ser mais insistente”, afirma Bettina Schaefer. É preciso encontrar tempo para os amigos – um movimento importante tanto para ele quanto para você. Algumas dicas para isso, elencadas em um especial do jornal The New York Times, são: agendar encontros com amigos regularmente, mandar uma mensagem ou fazer uma ligação de poucos minutos para dizer que está pensando naquela pessoa, presenteá-la com um doce ou refeição surpresa, compartilhar uma música nova. São gestos pequenos mas que podem fazer toda a diferença para um amigo que está passando por problemas e precisa de uma atenção e carinho extras. -
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Não fuja das brigas –
Muitas vezes, podemos pisar em ovos quando vamos falar de um assunto delicado com amigos, seja sobre seu casamento conturbado, dificuldades financeiras, questões familiares. São temas muito pessoais e que podem gerar desconforto e até desentendimentos. A autenticidade é uma premissa: “Se é dada a oportunidade de se falar algo, a sinceridade sempre vale. Pode até ser uma coisa muito grave, desde que seja sincero”, diz Schaefer. “Uma das características que torna a amizade tão maravilhosa é que ela comporta ambivalência. Você pode ficar com muita raiva de alguém, mas continuar amiga dela.” Segundo a psicóloga, grandes amizades conseguem sustentar momentos de frustração e decepção. “Acho que as amigas que mais valorizo hoje são as que consigo brigar, porque sei que o vínculo é forte o suficiente para isso. E só brigamos porque queremos manter aquela amizade.” É importante, entretanto, saber discutir de maneira construtiva. O especial do NYT também dá alguns caminhos: praticar a aceitação (afinal, amigos também têm defeitos e dificuldades), cuidar da linguagem corporal durante a briga e procurar sempre a raiz do desentendimento, e não a crítica supérflua.