Os melhores filmes de 2023 escolhidos pela redação da Gama — Gama Revista

Os melhores filmes de 2023 escolhidos pela redação da Gama

Um drama familiar sobre verdades, um romance sobre um casal comum, uma investigação sobre racismo e ganancia, uma comédia LGBTQIA+, um novo Godzilla e um documentário sobre o cinema em Recife

Daniel Vila Nova 01 de Janeiro de 2024

Um drama familiar sobre traumas, violência e, acima de tudo, verdade. Um romance maduro entre um casal comum e improvável. Uma investigação sobre a ganância e o racismo do homem branco. Uma comédia LGBTQIA+ tão absurda quanto engraçada. Um novo Godzilla. Um documentário sobre a relação das salas de cinema e a cidade de Recife. Esses foram os filmes do ano para a redação da Gama em 2023.

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    “Monster”

    de Hirokazu Kore-Eda

    Kore-Eda talvez seja meu cineasta preferido a tratar de temas familiares e emocionais num contexto narrativo aparentemente simples. Por isso, “Monster” me gerou estranhamento primeiro por sua complexidade. O roteiro, premiado em Cannes, se desenrola a partir da troca constante de perspectivas a respeito de um mesmo acontecimento. Um garoto que teria ou não sofrido violência, que praticou ou não bullying. Fluindo como uma engenhoca azeitada, em que minhas opiniões foram mudando a cada girar da engrenagem, o diretor nunca perde de vista sua maior força: o retrato delicado que faz de personagens muito mais profundos do que aparentam. Mas é ao subverter o título — afinal, todos podemos parecer monstros uns aos outros — que torna seu filme um dos mais impactantes do ano. (Leonardo Neiva, repórter)

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    “Folhas de Outono”

    de Aki Kaurismäki

    Duas pessoas modestas, solitárias, trabalhadoras braçais, vivendo no tédio e de forma precária na gélida Helsinque nos guiam em “Folhas de Outono”, o meu filme do ano — e vencedor do Prêmio do Júri do Festival de Cannes. Numa noite qualquer, Ansa (Alma Pöysti) e Holappa (Jussi Vatanen) se conhecem no karaokê. Dias depois, saem para um date e se apaixonam, mas nesta comédia romântica um tanto dramática e cheia de críticas sociais, o caminho até o final feliz é repleto de obstáculos: desencontros, mal-entendidos, alcoolismo, desemprego. Com simplicidade e bom humor, o diretor finlandês Aki Kaurismäki apresenta a delicadeza de um amor maduro entre um casal comum e improvável. (Ana Elisa Faria, repórter)

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    “Assassinos da Lua das Flores”

    de Martin Scorsese

    Aos 80 anos de idade, Martin Scorsese não dá sinais de que está cansado. Ver o último filme do diretor norte-americano é como ver Pelé jogando futebol ou Michael Jackson dançando e cantando nos palcos, estamos diante de gênios que exibem o controle absoluto de sua arte. Inspirado em uma história real, o “Assassinos da Lua das Flores” conta a vida de Mollie Burkhart, indigena que viu seu povo ser sistematicamente assassinado e teve sua riqueza extirpada em prol de homens brancos. A tragédia do povo Osage é anunciada logo nos primeiros minutos e Scorsese escolhe desviar do caminho mais fácil — um thriller de mistério barato sobre as mortes —, e opta por uma detalhada investigação sobre a crueldade e a ganância do homem branco. Se a química do casal principal, com Leonardo DiCaprio interpretando o bruto Ernest Burkhart e Lily Gladstone dando um show digno de Oscar como Mollie, é sentida em cada minuto das 3h 26m do longa, Scorsese nos mostra que nem mesmo o mais genuíno amor é capaz de vencer o racismo e a ganância. (Daniel Vila Nova, analista de redes sociais)

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    “Bottoms”

    de Emma Seligman

    Finalmente, uma comédia romântica satirizou os padrões heteronormativos de forma bem sucedida e se tornou um filme com final feliz — algo incomum em obras LGBTQIAP+ — que acolhe a comunidade sáfica. “Bottoms” (2023), dirigido por Emma Seligman, conta com nomes já conhecidos pelo público queer, como Rachel Sennott de “Shiva Baby” (2020) e Nicholas Galitzine de “Vermelho, Branco e Sangue Azul” (2023). Neste longa-metragem, PJ (a personagem de Sennott) e Josie (Ayo Edebiri) são odiadas por não terem nenhum talento — esqueça a LGBTQIAP+fobia, isso já foi superado no universo do longa. Elas montam um clube de luta para poder conquistar suas crushes e perderem a virgindade. O filme conta com várias metalinguagens, como a referência ao “Clube da Luta” (1999), de David Fincher e de centenas de gírias populares entre os jovens usuários do X — antigo Twitter. Para além disso, o filme explora os padrões de roteiro de uma comédia romântica juvenil para criticar o próprio gênero, demonstrando que estereótipos são ultrapassados, sejam eles de mulheres, homens e até mesmo do ensino médio. Um ótimo filme sáfico de 2023 que continuará estampando as telas nas tardes de domingo nos apartamentos de chão de taco. (Emilly Gondim, estagiária de texto)

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    “Godzilla Minus One”

    de Takashi Yamazaki

    É de senso comum que Godzilla vem marcando gerações do cinema e da cultura pop, sendo explorado por diretores ocidentais e Hollywood. Na contramão, “Godzilla Minus One” surpreendeu todos seus espectadores por sua simplicidade, mesmo tratando-se de algo tão grandioso. Nesse longa situado nos primeiros anos após a Segunda Guerra Mundial, acompanhamos a história de Koichi Shikishima, um ex-piloto kamikaze que se sente culpado e assombrado por não ter honrado sua função em batalha. Neste contexto, Godzilla surge das consequências das bombas atômicas em Tóquio. Porém, o foco que o diretor Takashi Yamazaki resolve dar é nos horrores do pós-guerra, quando o protagonista volta para casa e se descobre sem família e sem perspectiva. Apesar de ser figurinha carimbada no cinema, o monstro tem seu impacto nas telas recuperado por Yamazaki e o interesse do público renovado. (Glória Machado, estagiária de arte)

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    “Retratos Fantasmas”

    de Kleber Mendonça Filho

    Uma cidade se transforma e, com ela, vão-se os lugares que marcaram a vida e estão na memória de seus moradores e passantes. O fechamento das salas de cinema de rua Recife é tema central do filme do pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor de “Aquarius” (2016) e de “Bacurau” (2019). Ele visita alguns desses espaços e podemos acompanhar a decadência que relacionamos ao descaso com a cultura e a história do país — mas também encontramos resistência. Caso do Cinema São Luiz, inaugurado em 1952 e que segue atraindo visitantes. Mas o filme é também sobre a trajetória de Mendonça Filho até ele se tornar cineasta. Há imagens da casa da família onde muitos filmes foram gravados e também trechos de curtas metragens do começo de sua carreira. Não se trata, no entanto, de um filme biográfico, mas há ali uma mistura de memórias individuais e de país que termina com um gosto de nostalgia de Brasil. De um futuro que nunca chegou. (Luara Calvi Anic, editora-chefe)

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