35 Perguntas para Craque Daniel, do ‘Falha de Cobertura’
O jogador de futebol aposentado reflete, à sua amarga maneira, sobre autoconhecimento e questões da sociedade
Craque Daniel é um ex-jogador de futebol ranzinza e um tanto quanto selvagem que apresenta o programa “Falha de Cobertura“, maior mesa-redonda esportiva mais ou menos ficcional do país. Interpretado pelo ator e humorista Daniel Furlan, o personagem é uma criação dele com o roteirista Pedro Leite, com quem fez trabalhos na MTV, Cartoon Network e Multishow.
Hoje, os dois fazem parte do coletivo TV Quase, canal no Youtube com 650 mil inscritos, de que você talvez você já tenha ouvido falar por meio do programa “Choque de Cultura”. Foi primeiro grande sucesso da equipe, lançado em 2016, que hoje integra o catálogo da Rede Globo.
A capacidade de elaborar ensinamentos muito específicos sobre a vida por meio dos bastidores do futebol levou o esportista aposentado Craque Daniel a explorar a literatura de autoajuda. O personagem lança, em maio, “Você não Merece ser Feliz: Como Conseguir Mesmo Assim” (Intrínseca, 160 págs., R$ 34,90), em que aponta (alguns dizem que de modo sarcástico) direções aos leitores na edificante busca pela felicidade. Individualismo e comodismo guiam os 26 toques do livro que prometem levar qualquer um ao bem-estar absoluto. Além de outros valores essenciais para o autor, como a indiferença, o pessimismo e o rancor.
Ao contrário do que diz o dito popular, a mentira não tem perna curta. Isso é uma mentira
Entre as dicas, por exemplo, estão divagações sobre a mentira como vantagem evolutiva do ser humano. Nas palavras do craque, ela é parte essencial da felicidade e um dos artifícios mais eficazes para a atingir a plenitude espiritual. Por isso, deve ser exercida em situações estritamente necessárias ou quando for a alternativa menos trabalhosa. “Ao contrário do que diz o dito popular, a mentira não tem perna curta. Isso é uma mentira. Para você ver o potencial destrutivo desta manobra retórica, ela não poupa nem a si mesma.”
A convite da Gama, Daniel Furlan e Pedro Leite compartilham a amarga sabedoria trazida por Craque Daniel por meio de 35 perguntas sobre sociedade, vida e autoconhecimento.
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G |Qual é sua ideia de felicidade perfeita?
Craque Daniel |Um passeio na praia, um tumor diagnosticado como benigno (ou maligno em outra pessoa), uma absolvição de uma acusação complicada quando a outra parte desaparece misteriosamente, uma grande soma em dinheiro. A felicidade pode ter várias formas.
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G |Qual é o seu maior medo?
C.D. |Que o coronavírus afete a distribuição de medicamentos, fazendo com que a escassez de finasterida provoque um surto de calvície pelo mundo, levando pânico e caos à população.
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G |Que característica mais detesta em você?
C.D. |Eu admiro todas as minhas características, especialmente os defeitos, e especialmente os de caráter. Talvez a única coisa que eu deteste seja a falta de mais defeitos de caráter em mim.
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G | Que característica mais detesta nos outros?
C.D. |Sinceridade.
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G |Que pessoa viva você mais admira?
C.D. |Não tenho certeza se a pessoa está viva, então prefiro não dizer pra não cometer uma injustiça. Inclusive a pessoa está aqui do meu lado.
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G |Qual é a sua maior extravagância?
C.D. |A ousadia de ser feliz. E almoçar sorvete, o que é basicamente a mesma coisa.
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G |Qual é o seu estado mental atual?
C.D. |Um estado mental que se auto-desafia constantemente, se questiona de forma tão profunda que às vezes eu coloco em cheque se esses pensamentos são realmente meus ou se estou operando feito um fantoche de grupos internacionais que entram no meu cérebro para descobrir onde eu gostaria de passar as férias para inserir banners virtuais de pacotes de viagens dentro dos meus sonhos, até que eu acordo no meio da noite, suado (e possivelmente ensanguentado) gritando para que me deixem em paz. E no dia seguinte eu acordo com a confirmação de minha reserva em hotéis do Caribe que eu fiz, ou alguém fez em meu nome, enquanto eu dormia.
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G |Que virtude considera superestimada?
C.D. |Sem dúvida o bom senso.
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G |Em que ocasião você mente?
C.D. |A mentira é sempre o melhor caminho, prova diária de civilidade e boas maneiras.
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G |O que menos gosta sobre sua aparência?
C.D. |A tatuagem tribal que eu fiz quando o tribal já estava fora de moda, mas o tatuador me convenceu de que em cerca de 15 anos voltaria a ser tendência, e eu seria aclamado como um visionário. Esse tempo passou as promessas vazias do tatuador não se concretizaram, então estou pensando em fazer uma mandala por cima. Ou uma carpa. O esqueleto de uma carpa, na verdade. Com o rosto do Che Guevara. Pegando fogo. Com alguma coisa escrito em japonês do lado. Pode ser “Che Guevara” mesmo. Ou “fé”.
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G | Que pessoa viva você mais despreza?
C.D. |Os atletas David Luiz e Willian, e o técnico Sebastião Lazaroni.
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G |Que qualidade mais admira em um homem?
C.D. |A ambição de ser feliz acima de qualquer empecilho imposto pela ética ou estética, além da vontade de me dar somas em dinheiro, de preferência em notas pequenas e não sequenciais, sem nenhuma contrapartida.
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G |Que qualidade mais admira em uma mulher?
C.D. |A mesma coisa.
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G |De que palavras ou frases você abusa?
C.D. |“Se você quiser; se você se esforçar; se você treinar; se você entrar de cabeça; se você se concentrar; nada garante que você vai conseguir”, por ser de minha autoria.
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G |O que ou quem é o maior amor da sua vida?
C.D. |Ainda estou aguardando a confirmação de alguns testes de paternidade para poder responder a essa pergunta junto ao meu advogado.
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G |Quando e onde você foi mais feliz na vida?
C.D. |A felicidade envelhece muito rápido, é impossível identificar esses momentos
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G |Que talento você mais gostaria de ter?
C.D. |O de disparar raios infravermelhos pelos olhos, claro. Eu usaria esse superpoder para o bem, e iria deter criminosos e realizar operações de catarata em bairros carentes a preços populares.
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G |. Se você pudesse mudar uma coisa sobre você, o que seria?
C.D. |Eu gostaria de ter a capacidade de dormir no meio de conversas. E gostaria que isso fosse mais aceito pela sociedade.
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G |O que considera sua maior conquista?
C.D. |Ter resgatado meu companheiro de programa, Cerginho, da cadeia onde ele comentava torneios de detentos, e moldado sua mente selvagem para que ele se tornasse o profissional da crônica esportiva que ele é hoje.
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G |Se você morresse e voltasse como uma coisa ou uma pessoa, o que você gostaria de ser?
C.D. |Quando eu era criança, ganhei um helicóptero dos Comandos em Ação, mas não tinha nenhum boneco dos Comandos em Ação para pilotá-lo, só tinha o He-Man, cuja hipertrofia muscular extrema o impedia de entrar na cabine. Então se Papai do Céu permitir, gostaria de voltar como um boneco de Comandos em Ação para finalmente pilotar esse helicóptero. Mas provavelmente me decepcionaria quando percebesse que o helicóptero não voava de verdade, e era apenas um brinquedo. Triste, frustrado, e feito de plástico, eu vagaria pela vida esperando que alguma criança particularmente psicopata me adotasse e me derretesse com uma lupa num dia de sol. Então, pensando melhor, acho que gostaria de voltar como o atleta Daniel Alves, cuja humildade rivaliza a de Jesus e até mesmo a minha. E é milionário.
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G |Onde você mais gostaria de morar?
C.D. |Nas Ilhas Maurício, pelo fascínio que sua cultura, especialmente na área tributária, me proporciona. E eu também gosto muito do nome Maurício.
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G |Qual é o seu pertence mais estimado?
C.D. |Uma flor de lótus na cor branca, esculpida em sabonete, que infelizmente se desfez completamente no primeiro banho.
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G | O que você considera o nível mais baixo da desgraça?
C.D. |A derrota. Ao menos para mim, que sou uma máquina de vitórias. Esse ano mesmo, me sagrei campeão e artilheiro de um torneio de futebol infantil que descobri que estava acontecendo no meu bairro, mas infelizmente acabei sendo expulso por indisciplina após uma mãe denunciar que eu não estava inscrito em nenhuma equipe e simplesmente apareci no gramado dando chutes a gol e carrinhos desleais nas crianças.
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G |Qual sua ocupação favorita?
C.D. |Explicar a humanidade através dos meus comentários futebolísticos. E totó.
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G |Qual sua característica mais marcante?
C.D. |A velocidade dos meus pensamentos e a coragem (diante do bom senso) dos meus comentários.
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G |O que você mais valoriza em seus amigos?
C.D. |Disponibilidade para testemunharem a meu favor sem muitas perguntas e disponibilidade para serem fiadores em contratos de aluguel.
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G |Quais os seus escritores favoritos?
C.D. |Jon Bon Jovi.
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G |Quem é seu herói na ficção?
C.D. |Vanderlei Luxemburgo.
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G |Com qual figura histórica você mais se identifica?
C.D. |Jaspion.
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G |Quem são seus heróis na vida real?
C.D. |Minha equipe, que está ao meu lado no dia a dia: Cerginho da Pereira Nunes, por se desafiar constantemente pelo seu próprio raciocínio confuso. É ao mesmo tempo desesperador e inspirador ver uma pessoa afundando em suas próprias contradições a cada minuto, num eterno afogamento nas ondas da falta de lógica e incoerência. E o repórter Edvaldo, que permanece atrás da notícia mesmo quando as luzes se apagam, até porque muitas vezes ele não tem como voltar pra casa.
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G |Quais são seus nomes favoritos?
C.D. |Thomas Brolin, Wesley Snipes e Maurício.
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G |O que você mais detesta?
C.D. |O ódio. Eu odeio ódio. Mas aí me dou conta da contradição e passo a amar o ódio. Mas aí me dou conta da contradição novamente e vou dormi
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G |Qual seu grande arrependimento?
C.D. |Não ter sido convocado para nenhuma Copa do Mundo. Na verdade quem tem que se arrepender é o Brasil, é o futebol.
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G |Como gostaria de morrer?
C.D. |Seja como for, com um grande desfile em carro de corpo de bombeiros que levará meu corpo sem vida pela cidade (e alguns vilarejos do interior) enquanto pessoas ainda com vida que precisarem da ajuda dos bombeiros serão ignoradas. Esse é o status que eu almejo, qualquer coisa abaixo disso considero fracasso. O ideal na verdade seria morrer durante o desfile no carro do corpo de bombeiros, para que, ainda em vida pudesse testemunhar o carinho dos fãs e pedestres antes de bater a nuca num viaduto e vir a óbito de maneira pacífica.
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G |Qual é o seu lema?
C.D. |“Você não merece ser feliz”, que inclusive coincidentemente é o título do meu novo livro. Na verdade meu lema completo é “você não merece ser feliz está disponível em todas as livrarias e plataformas digitais a um preço bastante acessível, e provavelmente o seu primo comprou uma cópia, mas ele leu comendo um sanduíche e o livro ficou todo engordurado, então é melhor você comprar a sua própria cópia, e pra se certificar, compre duas, caso também esteja planejando comer um sanduíche” Mas pra facilitar pra quem quer imprimir meu lema num quadro, ou tatuá-lo, eu resumo apenas para “você não merece ser feliz”.
- Você não merece ser feliz
- Daniel Furlan e Pedro Leite
- Editora Intrínseca
- 160 páginas
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