Nascida para segurar o mundo sob sua língua, “You, at the End” (você, no final) é a peça central de “The Fifth Season”, novo álbum de Lafawndah, lançado no início de setembro. Trombone, tuba, ambiência e uma espacialidade surreal permeiam o disco, inserindo-o numa genealogia de músicos de vanguarda como Brigitte Fontaine e Scott Walker. A iminência cinematográfica de que algo pode acontecer a qualquer segundo é aguda ao longo de todo o disco, mas ainda mais urgente nesta faixa, que lembra a Bjork da era “Volta”, ao mesmo tempo em que conversa com a cantora britânica FKA Twigs e recorda alguma trilha sonora de um filme exibido na madrugada. Lafawndah (née Yasmin Dubois), metade egípcia, metade iraniana, cresceu em Paris, morou no México, passou parte da infância em Teerã e hoje costura referências do jazz de vanguarda, da música de câmara, do folk, da literatura (a canção é um poema da performer Kate Tempest musicado). Para os dias em que o isolamento bater mais forte.
Neste fim de semana, de sexta (18) a domingo (20), uma maratona de arte e cultura permite que se conheça a efervescente produção cultural das periferias pela plataforma do Sesc. O Festival Favela em Casa SP reúne artistas independentes -- pretos e periféricos, como lembra a organização -- que estão fora da bolha do mainstream. A curadoria de Andressa Oliveira, moradora do Campo Limpo, extremo sul de São Paulo, e de Marcelo Rocha, da cidade de Mauá, no ABC Paulista, reuniu 35 atrações de música, teatro, dança, cinema, literatura e artes visuais. As transmissões revezam-se entre performances ao vivo e gravações realizadas no Estúdio Curva, na capital paulista, e incluem, além de apresentações artísticas, uma série de bate-papos com convidados; entre eles, a escritora Helena Silvestre, a curadora, poeta, escritora e ativista Abigail Santos Leal e o educador social Mestre Gildásio.