Maurício Pereira — Gama Revista
Questionário Proust

Maurício Pereira

Músico, compositor e produtor

25 de Junho de 2022

“Afluente” da Vanguarda Paulista, nas palavras de Carlos Calado, e integrante do grupo Os Mulheres Negras com André Abujamra, nos anos 1980, o paulistano acaba de lançar novas versões de “Um Teco-Teco Amarelo em Chamas” e “Pan y Leche”. Os singles pertencem ao álbum ”Micro”, previsto para julho, com participação do guitarrista Tonho Penhasco e produção de Gustavo Ruiz. A obra traz 12 canções de diferentes momentos de sua carreira, com toque minimalista.

  • 1

    Qual é sua ideia de felicidade perfeita?

    Um mundo mais justo, menos violento, menos consumista. Vida boa pra todos.

  • 2

    Qual é o seu maior medo?

    Ditadura, tortura, intolerância.

  • 3

    Que característica mais detesta em você?

    Levo tudo muito a sério, começando por mim mesmo.

  • 4

    Que característica mais detesta nos outros?

    Intolerância.

  • 5

    Que pessoa viva você mais admira?

    Nesse tempo de desamparo gelado, o padre Julio Lancelotti e a meninada do SP Invisível.

  • 6

    Qual é a sua maior extravagância?

    De vez em quando, quando me chamam pra fazer show fora de SP, pedir pra me darem o valor da passagem de avião em dinheiro, encher o tanque do carro e viajar sozinho, por vários dias, parando nas cidades pequenas do meio do caminho. Um easy riding anônimo.

  • 7

    Qual é o seu estado mental atual?

    Coração apertado.

  • 8

    Que virtude considera superestimada?

    Sinceridade.

  • 9

    Em que ocasião você mente?

    Quando a verdade mata em vez de salvar.

  • 10

    O que menos gosta sobre sua aparência?

    Não sou nenhum Marlon Brando, mas não tem nada que me desgoste. Tá tudo mais ou menos no lugar.

  • 11

    Que pessoa viva você mais despreza?

    O governo juntou um time de oportunista, maluco, incompetente, mentiroso, criminoso, fascista que é de tirar o fôlego. O presidente é a cereja do bolo (envenenado), mas a cada dia aparece um desprezível novo, pessoas vão se revelando. Ninguém, hoje, despreza mais uma pessoa viva que o governo brasileiro.

  • 12

    Que qualidade mais admira em um homem?

    Leveza.

  • 13

    Que qualidade mais admira em uma mulher?

    Independência.

  • 14

    De que palavras ou frases você abusa?

    Vamo que vamo. Meu. Eita. Bora. E, escrevendo, uso muito as reticências; e o ponto e vírgula…

  • 15

    O que ou quem é o maior amor da sua vida?

    A Lucila, minha mulher.

  • 16

    Quando e onde você foi mais feliz na vida?

    Contando história pra criança dormir, em algum lugar do passado.

  • 17

    Que talento você mais gostaria de ter?

    Queria saber dançar. Não pelo talento, mas pelo desfrute.

  • 18

    Se você pudesse mudar uma coisa sobre você, o que seria?

    Queria ser mais corajoso, medir menos, explodir mais.

  • 19

    O que considera sua maior conquista?

    Criar três filhos sendo artista.

  • 20

    Se você morresse e voltasse como uma coisa ou uma pessoa, o que você gostaria de ser?

    Ferroviário. Ou o Lamartine Babo.

  • 21

    Onde você mais gostaria de morar?

    Uma cidade pequena do interior de São Paulo. Com calor, secura, leseira, trem, pôr-do-sol, descampado, garapa, sotaque.

  • 22

    Qual é o seu pertence mais estimado?

    Meu rádio.

  • 23

    O que você considera o nível mais baixo da desgraça?

    Política feita com mentira. Isso mata gente: numa enchente, numa pandemia, numa ação policial, no trânsito, na desigualdade, na escolha da prioridade.

  • 24

    Qual sua ocupação favorita?

    Andar a pé debaixo do pôr-do-sol.

  • 25

    Qual sua característica mais marcante?

    A cabeça que processa tudo o que vê pela frente. Socorro…

  • 26

    O que você mais valoriza em seus amigos?

    A liberdade e o carinho pra chegar e me dar uma dura ou um abraço, conforme o necessário.

  • 27

    Quais os seus escritores favoritos?

    Paulo Leminski, Dalton Trevisan, Clarice Lispector, Nelson Rodrigues, Kurt Vonnegut Jr., muita gente. Já os meus colegas letristas brasileiros são craques, é uma lista que não tem fim: Caetano e Gil, Roberto e Erasmo, Caymmi, um monte de gente desses últimos anos da dita “cena indie”… Não tem fim, o Brasil é um manancial.

  • 28

    Quem é seu herói na ficção?

    De pequeno, era o Batman. Mas ele carrega muita tristeza, e isso sempre me partiu o coração. Tem o Recruta Zero e a indisciplina absoluta dele. E o Chapolin Colorado, e a força do deboche e da simplicidade.

  • 29

    Com qual figura histórica você mais se identifica?

    O Luís Gama sempre é impressionante, a cidade amava ele. Santa Teresa de Ávila também, indomável. Figuras peculiares, não eram exatamente o mainstream da história, pensavam pela própria cabeça. Não sei se eu exatamente me identifico, mas com certeza mexem muito comigo.

  • 30

    Quem são seus heróis na vida real?

    Doutor Sócrates é um. E os compositores muito populares, gente que leva energia e pensamento pra milhares de pessoas, pra fora da bolha. Como a Marília Mendonça, o Adoniran Barbosa, o Mano Brown, por exemplo. Por sinal, o Doutor também levava energia e ideias pra milhares de pessoas…

  • 31

    Quais são seus nomes favoritos?

    Nunca pensei muito nisso, acho que a pessoa é que bota significado num nome. E aí os nomes vão ficando bonitos ou feios.

  • 32

    O que você mais detesta?

    Não é exatamente uma coisa, mas é esse combo que faz um país gigante, rico, bonito e com um povo interessante como o Brasil ter (e manter) tanta injustiça e desigualdade.

  • 33

    Qual seu grande arrependimento?

    Nenhum em especial. Um erro e um vacilo abrem outras portas, as decisões e o acaso vão fabricando a história da gente. Aí, como diriam os jogadores de futebol, tem que levantar a cabeça e partir pra próxima. E – adendo meu – (tentar) aguentar o tranco.

  • 34

    Como gostaria de morrer?

    Sem sofrimento.

  • 35

    Qual é o seu lema?

    'Rapaiss'… nunca pensei nisso. Mas pela velocidade estonteante da vida (que parece que só aumenta), “devagar e sempre” me parece bom.

Divulgação/Biel Basile