Aprenda a escrever melhor
Se você vive uma luta constante contra palavras e frases, veja algumas dicas de profissionais para escrever textos melhores no dia a dia
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Escreva sobre o que você gosta e domina –
Assim como existem momentos na vida em que você vai precisar ler algo que não te interessa tanto, é bem provável que também acabe escrevendo sobre um tema que te dá o mais profundo tédio, especialmente na universidade ou no trabalho. Mas a dica da escritora e especialista em criação literária Leila de Souza Teixeira é que, se tiver a oportunidade, você deve sempre escrever sobre algo de que gosta. “E às vezes o ‘gostar’ pode até significar sentir raiva de algum assunto ou objeto, mas, de qualquer forma, tem que ser uma coisa que te move”, esclarece. Até no meio acadêmico, segundo a escritora, teses e dissertações sobre tópicos com os quais a pessoa tem alguma conexão tendem a sair melhores. Além disso, como aponta o escritor e professor de escrita criativa americano Stephen Koch em seu livro “Oficina de Escritores” (WMF Martins Fontes, 2008), quanto mais se lê, mais se enxerga as técnicas de escrita e se tem ideias para novos textos. Nesse caso, Teixeira sugere, se possível, ler principalmente aquilo que pode ajudar no desenvolvimento do texto que você está escrevendo. “É outra grande ferramenta para melhorar a escrita.” -
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Evite enrolação, seja conciso e direto –
Para quem é adepto de alguns floreios na hora de escrever, o escritor e jornalista Roberto Taddei recomenda a leitura do clássico “Como Escrever Bem” (Fósforo, 2021), do autor e crítico literário William Zinsser (1922-2015). Isso porque um dos principais mandamentos do célebre manual de escrita é prezar pela concisão e objetividade. Ou seja, resista ao impulso de enrolar demais. “Temos uma tendência no português brasileiro de usar a voz passiva, tirar o sujeito das orações da posição de protagonista e escondê-lo no meio ou no final da frase”, explica Taddei, que também é diretor do programa de escrita criativa do Instituto Vera Cruz. Isso, segundo ele, seria um contraponto à língua inglesa, na qual há uma tendência maior da ordem direta, da voz ativa e um controle maior das orações. O escritor esclarece que a dica não precisa ser levada a ferro e fogo — quando houver necessidade da voz passiva, não precisa se conter –, mas recomenda prestar atenção na forma como você está construindo suas frases. “Seja sempre claro e, quando puder, recorra à voz ativa e à objetividade na sentença.” -
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Descubra seu horário de escrita –
Falar em autoconhecimento pode parecer clichê, mas a verdade é que ele é essencial para quem quer tirar o melhor da própria escrita. Depois de anos trabalhando com escrita criativa, Teixeira já sabe que o período em que escreve bem é aquele que vai das 11h às 14h. “Eu também consigo escrever em outros horários, mas para a frase sair da maneira que quero, para que eu tenha paciência e inspiração para escrever e reescrever várias vezes, só nesse período mesmo.” A profissional recomenda então aguçar os poderes de observação e fazer testes para entender, dentro da rotina diária, em que momento sua escrita melhor se encaixa. E isso vale não só para o tempo, mas também para o ambiente ao redor. Por exemplo, você sabe se seu trabalho flui melhor numa sala silenciosa ou num café cheio de gente? “Isso é uma coisa muito individual. Tem que ir testando e descobrindo, para só depois estabelecer uma rotina fixa.” -
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Guarde um tempinho para refletir sobre seu estilo –
Não é nada incomum aderir a uma súbita inspiração e escrever longos parágrafos de uma só vez, sem pensar muito no que está fazendo. Taddei não condena o método. Aliás, ele incentiva que a pessoa primeiro escreva aquilo que quer, para só depois refletir. Aí é hora de reler frase a frase, buscar entender o que te fez construí-la daquela maneira e analisar como as coisas se conectam dentro de tudo aquilo que escreveu. “À medida que a pessoa vai avançando, escrevendo e redescobrindo o que pode fazer com sua própria linguagem, naturalmente se estabelece uma relação desse sujeito com os textos escritos por ele”, diz. Mas, para começar, ele reforça, basta saber escrever. Na hora de fazer sua análise, também é importante tentar ir além do enredo e procurar entender como aquela mensagem está sendo expressada. A ideia é que você em algum momento se sinta representado por aquilo que está escrevendo. “Não como uma receita, porque a receita não funciona. O objetivo de fazer esse exercício é entender onde eu me entusiasmo e onde me entedio com meu próprio texto, o que me move dentro daquilo que escrevi.” De acordo com Taddei, conseguir estabelecer essa relação com seu texto mais tarde vira uma chave para criar vínculos mais profundos com textos alheios, sejam eles técnicos, jornalísticos ou literários. -
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Tenha paciência: escrever bem é reescrever –
Já aconteceu de uma ideia genial, clara e cristalina, surgir de repente na sua cabeça? Só que, quando foi tentar colocá-la em palavras, ela se dissolveu, ficou confusa ou simplesmente perdeu o impacto inicial? Pois é, você não está sozinho. Segundo Teixeira, esse é um problema comum para qualquer escritor. “Quando vai colocar algo em palavras, existe esse abismo entre o que você quer dizer e o que consegue dizer.” O diferencial reside na forma como você lida com a questão. A maioria das pessoas, segundo a escritora, acaba se decepcionando ou desistindo de continuar, em vez de simplesmente tentar reescrever ou melhorar aquilo que está no papel. Para conseguir persistir é preciso deixar a pressa de lado e ter paciência com você mesmo. “É costume achar que um texto lindo e maravilhoso foi escrito em 30 segundos. Talvez devêssemos falar mais sobre o tempo e o trabalho realmente necessários para um texto ficar bom”, aponta. Portanto, se dê a oportunidade de editar, reescrever, buscar novas inspirações, mudar de ponto de vista, buscar palavras e frases mais impactantes e que descrevam melhor o que quer expressar. Quanto mais esforço colocar num texto, provavelmente mais próximo ele vai estar do que você queria passar quando teve aquela epifania.