Como negar o sexo dentro do relacionamento

Entenda a importância de dizer não –
“Uma parceria fixa não impõe consentimento constante.” A frase da psicóloga e sexóloga Michelle Sampaio resume um pouco um dilema de muita gente que está numa relação e que, por motivos diversos, pode não estar com disposição para o sexo. Ela relembra que, mesmo dentro de relacionamentos estáveis (em tese consensuais), existem situações de abuso. “Deve haver consentimento em todo momento de intimidade.” É essencial entender que negar uma oportunidade de sexo com o parceiro ou parceira por falta de desejo não é errado — é, aliás, o certo a se fazer. “Passar por cima desse ‘não’ traz consequências. Seu corpo pode associar o sexo por obrigação à invasão, desprazer, e causar efeitos psicológicos e físicos negativos”, explica a terapeuta sexual Lua Menezes. Ela exemplifica: no caso das mulheres, o vaginismo, uma contração involuntária dos músculos da vagina que causa dor intensa durante a penetração (em certos casos, até impossibilita o ato), pode ser completamente psicossomática. Sentimentos como o ressentimento com o companheiro ou companheira também podem ser causados por uma relação sexual que aconteceu sem vontade ou desejo. Por isso, não tenha medo: se não quiser transar, diga não.

Não esconda o que sente –
É sempre mais fácil arranjar uma boa desculpa — “estou sem tempo”, “estou cansado ou cansada” ou qualquer outro bordão — do que contar qual é o real motivo por trás do “não quero transar”. Mas a sinceridade é o melhor caminho para o relacionamento. “Se não explicamos o que está acontecendo para a outra pessoa, o motivo do não desejo pelo sexo, abre-se um espaço para o pensamento fantasioso, e para a insegurança”, alerta Michelle Sampaio. De acordo com a sexóloga, mentir e arranjar desculpas para evitar a transa é mais destrutivo, e pode magoar mais o outro do que efetivamente explicitar as razões para não querer. “São nesses casos que, muitas vezes, um começa a fuçar o celular do outro, justamente em busca de respostas, porque está inseguro ou insegura.”

Evite abrir o jogo durante discussões –
As famosas DRs (discussões de relacionamento) são uma péssima ocasião para falar sobre insatisfação em relação à rotina sexual, desejo, consentimento. Lua Menezes indica momentos tranquilos e de conexão entre o casal: “Não espere algo explodir e ocasionar uma briga para decidir falar de algo que tem te incomodado no sexo. A receptividade vai ser muito pior”. Além disso, ela explica que deve-se usar a comunicação não violenta, ter cuidado na hora de conversar, mas reitera que não magoar o companheiro ou companheira está, de certa forma, fora do nosso controle. “Como a pessoa vai receber aquele ‘não’ é responsabilidade dela. Se ela for do tipo que leva tudo para o pessoal, não sabe escutar uma negativa, talvez se magoe. Nesse caso, não há muito que possa ser feito.”

Investigue se a falta de vontade tem origem no formato do sexo –
É normal que, em relacionamentos mais longos, o sexo acabe caindo na rotina e siga sempre o mesmo roteiro. Sair da mesmice não é fácil, ainda mais quando existe o estereótipo de que parceiros são abertos e íntimos sobre desejos e fantasias. “Em geral, sobre sexo, os casais não falam”, aponta Michelle Sampaio. Por isso, vale ponderar se a falta de vontade tem relação direta com alguma insatisfação na cama. Se for esse o caso, a dica da sexóloga é aconselhar o outro, procurar juntos por alternativas que despertem desejo em ambos. “Muitas vezes, tão importante quanto dizer ‘não”, é explicitar como gostaria que fosse, como o sexo pode ser melhor.” Se a timidez for um obstáculo para falar dessas questões, existe tecnologia de sobra para ajudar, como é o caso do aplicativo XConfessions, criado pela cinegrafista de filmes pornô Erika Lust. Disponível para Android e iPhone, ele ajuda casais a se conectarem e conhecerem suas preferências na hora H.

Procure entender se não quer o sexo ou o parceiro –
Se nenhuma dessas dicas sugerir uma solução, a falta de vontade de transar pode ser um sinal da validade do relacionamento. Para ser sincero com o outro, é importante mapear o que sente. Há algumas possibilidades, de acordo com Michelle Sampaio, quando não há vontade de transar. A primeira é a falta de desejo global. “A falta de libido mesmo. A pessoa não pensa em sexo, não se masturba, não sente atração. Pode ser uma disfunção, que precise de tratamento, ainda mais se esse desejo já existiu antes.” Outra possibilidade é existir o desejo, isto é, a pessoa pensa em sexo, se masturba, mas falta desejo pelo companheiro ou companheira. “Aí vale pensar porque isso está acontecendo. O motivo pode ser a mesmice no sexo, algo que possa ser mudado para apetecer mais.” Por fim, a não vontade pelo sexo pode ser estritamente reservada ao relacionamento e haver desejo por outras pessoas. Independentemente de qual seja a situação, Lua Menezes reitera: “As pessoas idealizam como a vida sexual deve ser, e transar o máximo possível não significa uma vida sexual ideal. Vai ser satisfatório se os dois estiverem felizes”.