Claudia Rankine: “Em todas as sociedades, incluindo o Brasil, a cor da pele faz diferença”
Autora best-seller, que acaba de lançar o livro ‘Só Nós’, fala sobre branquitude, privilégio branco e por que é tão difícil combater o racismo na sociedade
“Você nunca sabe quem eles estão admitindo na primeira classe atualmente.” Foi dessa forma que um passageiro branco reagiu ao ser impedido de furar a fila do aeroporto por uma atônita Claudia Rankine. Embora o incidente tenha parado por aí, o acontecimento permaneceu na mente da poeta negra e jamaicana de 57 anos — 50 dos quais viveu em solo americano — não só ao longo da viagem, mas nos dias seguintes.
Em seu novo livro, “Só Nós”, que sai no Brasil em julho pela editora Todavia, ela conta que chegou a comentar o que aconteceu com sua terapeuta. Para a psicanalista, o constrangimento do homem tinha mais a ver com o companheiro também branco a quem fez o comentário do que propriamente com Claudia. O que não serviu de consolo. “Minha invisibilidade completa deveria ser preferível a um insulto direcionado?”, questiona nas primeiras páginas da obra.
Professora de escrita criativa na Universidade de Nova York, a poeta, ensaísta e dramaturga é atualmente uma das principais vozes da literatura e do pensamento negro nos Estados Unidos. Seu livro “Cidadã” (Jabuticaba, 2020), em que investiga as relação raciais nos EUA atual, se tornou o primeiro e único de poesia a entrar na lista de best-sellers de não-ficção do New York Times. Em 2016, ela recebeu a célebre “bolsa para gênios”, distribuída anualmente pela Fundação MacArthur.
Há algum tempo dedicada ao estudo do que compõe e mantém a branquitude na sociedade americana, Claudia faz em “Só Nós” uma pesquisa que bate muito perto de casa. Em uma série de ensaios, entremeados por trechos de poesia, imagens e fatos relacionados ao racismo, ela reconta conversas do dia a dia com amigos, conhecidos e desconhecidos, em geral brancos. O título vem de um jogo de palavras intraduzível entre “justice” (justiça) e a expressão “just us” (só nós), trocadilho que ficou célebre em uma apresentação do comediante negro Richard Pryor (“Você vai até lá procurando justiça, e o que você encontra: só nós.”)
Em determinada passagem, uma amiga de faculdade relembra a vez em que supremacistas queimaram uma cruz em frente a uma festa voltada para alunos negros. Outra se recusa a deixar o assento ao ser chamada para o palco durante a peça de uma dramaturga negra. A ideia da autora é explorar seus próprios sentimentos em situações atípicas, mostrando como o racismo e a noção da superioridade branca dão as caras em brechas até no discurso de pessoas supostamente esclarecidas. E, para garantir estar sendo o mais justa possível, abre espaço no livro para uma resposta de seus interlocutores.
Ao pensar sobre o racismo que sofreu naquele aeroporto, Claudia acredita ter ferido o privilégio do outro passageiro. “Em algum nível, pensei, devo ter conspurcado sua narrativa de que o privilégio branco garantia espaços seguros para brancos.” Em entrevista a Gama, a escritora fala mais sobre branquitude, o que significa ser negro nos Estados Unidos e por que evitamos pensar na parte que tomamos dentro de um sistema estruturalmente racista.
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G |Você dedica boa parte dos seus estudos e escrita à branquitude. O que ela representa? Por que é importante estudá-la?
Claudia Rankine |Temos visto a importância de estudar a branquitude especialmente nos Estados Unidos. Em todo o mundo, há um comprometimento com a supremacia brancia, que depende da supressão de pessoas de cor, desde a extinção da população indígena até a escravidão de afrodescendentes e a violência contra a cultura asiática. Em todo o globo, e certamente neste país, também há o tratamento dado aos latinoamericanos, que funciona em conjunto com o tratamento dos afroamericanos. Um linchamento histórico similar, a exclusão das moradias e de trabalho. É importante observarmos a branquitude porque geralmente olhamos para a questão pelo ponto de vista das vítimas. Ninguém pergunta por que aquilo acontece. Por que há um investimento cultural, governamental, até global, em estruturas que colocam pessoas brancas à frente das outras e a cultura branca à frente das outras culturas. Tenho um interesse particular nisso.
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G |Pessoas brancas costumam refletir sobre a branquitude ou sobre de onde vêm seus privilégios e o que os mantém?
CR |Quatro ou cinco anos atrás, quando comecei o livro “Só Nós”, as pessoas não tinham o hábito de pensar sobre isso. Agora muita coisa mudou. As cartas estão sobre a mesa. O que ocorre é uma resistência à ideia de branquitude ou uma compreensão de que se trata de uma forma válida de investigação.
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G |Quando você entrou em contato com a escrita pela primeira vez?
CR |Comecei no colégio, inspirada por escritores como Adrienne Rich, César Vallejo e W.B. Yeats. Os três foram autores que entenderam que o privado e o público se misturavam. Isso foi para mim uma forma revolucionária de considerar como o lírico pode funcionar. Você pode falar de uma posição de intimidade e sentimento pessoal a respeito de grandes questões públicas. Cheguei a ir até a Irlanda para estudar Yeats. Isso fez sentido como uma maneira de responder às questões que eu estava experimentando e observando em todos os níveis, em termos de ser americana.
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G |Você tem um processo específico?
CR |Passo por longos períodos em que não escrevo muita poesia. Embora ainda faça artigos e coisas assim, não consigo entrar na poesia enquanto não for catapultada para dentro de um momento próprio. Aí um poema acaba levando ao outro, o que me faz entender como aquilo pode se transformar num livro. Então eu me comprometo, e é como geralmente começa. Hoje estou num período ocioso. Terminei o livro “Só Nós”, a pandemia começou e estou tentando viver um momento em que só leio e assisto coisas, porque não quero soar repetitiva em relação ao que escrevo.
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G |O título do livro “Só Nós” faz referência a uma frase do comediante Richard Pryor, que traz implícita a injustiça dentro do conceito de justiça nos EUA. Como você encara essa expressão?
CR |Na verdade, o nome do livro já era esse antes mesmo de eu ficar sabendo da frase de Pryor. Eu estava interessada no casamento entre a intimidade, o só nós, e seu valor sonoro, a relação com a palavra justiça. Essa é a razão para o título. Depois que terminei o livro, a artista visual Alexandra Bell me perguntou se eu conhecia a apresentação de Pryor. Depois que a assisti, acrescentei um trecho como epígrafe. O sentido do título é mais sobre a intimidade que existe entre duas pessoas conversando e a relação disso com a ideia de justiça, que foi explorada por poetas como Adrienne Rich e César Vallejo.
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G |Ao ler o livro, tive a impressão de que você busca um senso de abertura às suas próprias dúvidas e inseguranças, que aparece durante as interações com amigos brancos ou pessoas com quem se encontra casualmente. Essa era a sua intenção? Foi difícil falar de algumas dessas interações?
CR |A ênfase na ideia da conversação é o aspecto mais importante do livro. Mais do que o conteúdo, eu queria criar uma estrutura em que nossos sentimentos, pensamentos e a própria narrativa estivessem presentes no momento do discurso. Como isso parece? No que estamos pensando? Quais são nossas inseguranças? Em que momentos nos tornamos tão comprometidos com uma ideia que já não escutamos mais nada nem ninguém? Os ensaios foram uma tentativa de dissecar essa dinâmica dentro das próprias conversas. Ou seja, estou conversando com você, mas também estou pensando e sentindo algo sobre o que você está dizendo.
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G |Como você compararia a experiência de escrever “Só Nós” com a que teve em “Cidadão”?
CR |O processo foi bem diferente. Para “Cidadão”, eu entrevistei pessoas. Aquele livro tinha um interesse na linguagem, em como as pessoas falam sobre momentos de racismo que as afetaram. Estava interessada em colocar aquilo no papel de uma maneira que fosse verdadeira, mas também permitisse que a linguagem tomasse as rédeas em toda a sua ressonância emocional. Em “Só Nós”, eu sou o tema do livro, é minha consciência contra a consciência de pessoas cujos pensamentos eu não tenho como saber. Foi um livro mais difícil de escrever porque, pela primeira vez, decidi me mostrar como eu sou. Essa é a minha vida, é assim que ela parece. Então, se tornou o livro mais experimental que já escrevi porque tive de encontrar uma maneira de trazer de volta a história, o saber presumido, a defensividade, a emoção que estava naquelas conversas. Também entendi que as pessoas com quem conversei leriam o livro e saberiam que estava falando delas. Procurei ser justa e responsável com a humanidade dessas pessoas, com o que elas tinham a dizer. Foi o que me fez pedir que elas respondessem a esses ensaios. O convite não foi sempre aceito, mas, quando foi, pudemos escutar a versão dessas pessoas, depois de um momento de reflexão, sobre a conversa que tivemos.
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G |Uma questão que você explora no livro é como pessoas brancas podem reagir de forma violenta ao ser confrontadas com a noção do seu privilégio. Por que isso acontece?
CR |As pessoas não estão acostumadas a se enxergar como uma construção, a ver que a branquitude foi uma coisa que lhes foi dada e da qual se beneficiam. O mito da branquitude cria uma invisibilidade em torno das estruturas que colocaram pessoas brancas em lugares de privilégio. Essas coisas não são ditas. Ninguém aponta, por exemplo, que concessões bancárias e de moradia foram feitas para elas ou mesmo a habilidade de ter acesso a vários espaços. Elas podem andar pelos corredores de lojas sem que sejam seguidas ou que ninguém pense que vão roubar algo. Assume-se que o próprio espaço pertence a elas. A coisa é tão invisível que muitos tomam como uma certeza que a vida é assim, não que foi criada dessa forma. Quando você aponta que pessoas brancas são tratadas de forma diferente simplesmente por serem brancas, elas negam. Querem acreditar que o que têm é porque trabalharam para conseguir, porque merecem. Ninguém quer compartilhar, ter que admitir que aquilo que conseguiu está atrelado à cor de sua pele. Então preferem criminalizar outras pessoas e criar uma narrativa de que o outro é menos inteligente, menos bonito, menos produtivo, para justificar um sistema racial.
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G |No livro, você fala de uma amiga branca que relembra um evento racista e acaba dando o benefício da dúvida aos responsáveis. Em vários momentos você se demonstra surpresa por algumas atitudes de amigos. Mesmo pessoas que se dizem conscientes de seus privilégios acabam reproduzindo visões racistas?
CR |Elas reproduzem isso de forma inevitável. O que vi com meus amigos, e eles viram em si mesmos, foi que eram incapazes, como pessoas brancas, de se separar do mito da benevolência da branquitude. Se acreditam que são bons, creem que a branquitude também é boa. Por isso estão sempre criando desculpas para não entender que o ponto principal é justamente a crueldade. O extermínio dos aborígenes, a escravidão dos negros, a falta de direito para as mulheres é o ponto. O poder do homem branco, do qual só muito depois as mulheres brancas também puderam se beneficiar. É impossível enxergar o sistema sem entender que você mesmo está implicado nele. Essa é a dificuldade, é o que os impede de ver, porque simplesmente não aguentam a ideia de que estão reproduzindo essa estrutura. E é exatamente por isso que ela continua. Fala-se muito que a estrutura é o problema, mas quem está dentro das instituições, do governo, quem cria as leis, quem determina o que é ensinado nas escolas? Tudo isso pode ser traçado até o plano individual. São simplesmente pessoas. E elas têm inconsciente ou conscientemente — porque em alguns casos é uma escolha consciente — investido em manter uma estrutura que privilegia a branquitude acima de todo o resto.
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G |Você destaca na obra uma frase de Lincoln, um dos maiores símbolos de benevolência e da luta contra a escravidão, em que ele afirma a superioridade branca…
CR |Da forma como a história é ensinada neste país, tudo que é contrário à ideia de que certas figuras lutaram pela justiça e democracia é deixado de fora. No caso de Lincoln, ele era contra a escravidão e perdeu a vida por isso. Mas não quer dizer que ele não fosse racista, que não fazia parte e não investia em uma sociedade que era contra os negros. E essa distinção é muito importante. O comprometimento com o combate à negritude nunca acaba. As próprias pessoas que queriam extinguir a escravidão ainda estavam comprometidas com essa causa e é por isso que ela continua no poder. A escravidão se transformou nas leis Jim Crow, depois no encarceramento em massa e na aceitação de mortes causadas pelo sistema policial. Essa carta branca assassina que a polícia tem é algo que vem sendo tolerado pelos americanos, especialmente os brancos, como algo que só existe. O combate à negritude faz parte da benevolência branca, de certa forma.
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G |Há uma sensação de perda de espaço ou poder na forma como a branquitude hoje reage a movimentos como o Black Lives Matter?
CR |Não acredito que haja de fato uma perda de poder. Há muitas formas de ver como a estrutura de poder ajuda a supremacia branca. Tivemos supremacistas brancos invadindo uma instituição de governo, e eles simplesmente saíram impunes. Em protestos pacíficos do Black Lives Matter, a Guarda Nacional apareceu para prender manifestantes. São dois pesos e duas medidas, isso é bem aparente. E o fato de que o governo decidiu contra investigar a insurreição é outra prova de que, apesar de toda a discussão sobre comprometimento com um sistema democrático, a branquitude continua a se apoiar. Então essas pessoas continuam em posições de poder, protegendo umas às outras. A razão porque aquelas pessoas tiveram acesso ao Congresso é porque alguém de dentro as deixou entrar.
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G |Numa nota mais pessoal, você tinha sete anos quando imigrou da Jamaica. Quais são suas primeiras memórias dos EUA?
CR |Isso foi há muito tempo. Éramos a única família negra na nossa rua. Como uma pessoa muito jovem, presenciei momentos de racismo sendo negociados na minha frente. Meu irmão se apoiando sobre um carro estacionado em frente à nossa casa, e o proprietário branco gritando todos os tipos de coisas para ele. Se você é uma criança negra neste país, está desde o início negociando com o racismo. Você entende que a gestão do ódio branco é algo que faz parte do gerenciamento da vida em si. Minha mãe chegou aqui três anos antes de mim, e ela era bastante explícita ao dizer que não podíamos confiar nos brancos. Ela não falava em racismo, mas sim em confiança, e eles não eram confiáveis. Isso permaneceu comigo desde criança. Foi positivo, porque não internalizei esse problema como pessoal, direcionado a mim. Eu entendia esse comportamento como algo já esperado. Não importa quem você é, a única coisa importante é que você é negro. Entendíamos que seríamos seguidos, que nos tornaríamos alvos. Não chegou a ser opressivo, porque foi algo com o que cresci e que se tornou parte de como vivia a minha vida. Com sorte, se transforma em um aspecto negociável da vida e permite que você não se sinta desencorajado por certas experiências.
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G |Você compartilha no livro uma preocupação com a educação da sua filha, o medo de que não tenha professores diversos o suficiente. Quais são os maiores medos de se criar um filho nesse contexto?
CR |No caso de crianças negras, aborígenes, indígenas e até asiáticas, embora as dinâmicas sejam diferentes, o racismo deve ser considerado como uma certeza. As crianças são incrivelmente resilientes, mas também incrivelmente sensíveis. Elas entendem quando as coisas não são justas. Você só espera que o amor, o apoio e o encorajamento que seu filho recebe em casa sejam suficientes para permitir que ele negocie e gerencie aquilo que encontra no mundo lá fora. Espera que esse amor consiga impedir que levem a sério certos comportamentos problemáticos no encontro com pessoas brancas. Quando minha filha era mais nova, fui com ela a um evento em que um cara branco fazia perguntas às crianças. Ela levantava as mãos todas as vezes, mas ele invariavelmente chamava uma criança loira para responder. Isso partiu meu coração. Como ela se sentia depois que aquilo acontecia uma, duas, três vezes, e nunca era escolhida? Coisas assim se tornam parte de um processo de aculturação na sociedade americana, e por isso é importante estar perto de outras pessoas de cor. Entre elas, talvez em algum momento você tenha a oportunidade de responder.
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G |Quais você acredita que sejam os impactos de movimentos como o Black Lives Matter e os protestos que se seguiram à morte de George Floyd?
CR |Toda vez que alguém é morto pela polícia, é preciso haver um vídeo. Senão, não faz diferença. O que fez a diferença foi que uma jovem desafiou tudo e todos para gravar o que estava acontecendo, e que outras pessoas pararam para tentar convencer o policial a tirar o joelho do pescoço de Floyd. Estou feliz que a justiça tenha sido feita nesse caso, mas não vejo como uma nova tendência. O relatório oficial do departamento de polícia dizia que Floyd morreu no hospital por causas naturais. Se a gravação não existisse, essa acabaria sendo a versão oficial. Basta pensar em todas as vizinhanças e comunidades, em todos os momentos em que ninguém estava filmando. As pessoas que têm a força policial para sustentá-las continuam matando impunemente. Há entrevistas com membros de grupos brancos supremacistas que dizem ter sido convidados a se juntar à polícia, pois seria uma forma de levar a cabo aquilo que querem. Então foi um raro momento de justiça, mas não significa uma tendência de como a polícia americana vai trabalhar daqui para frente. Minha esperança é que tenha atraído bastante atenção para o problema. Mas o mesmo aconteceu na morte de Michael Brown. Parece que, toda vez, basta esperar alguns meses para que surja outra morte absurda.
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G |Historicamente falando, por que continua tão difícil combater o racismo na sociedade?
CR |Em todas as sociedades, incluindo o Brasil, a cor da pele faz diferença. Toda a nossa história se baseou na oposição ao negro. É muito difícil desfazer isso de uma vez. Hoje há gerações de pessoas que acreditam e vão continuar acreditando em suas próprias crenças. Falo de pessoas que ensinam nas escolas, pais e professores que comunicam às crianças brancas que elas são melhores que suas colegas negras. É o mesmo que fazem os programas de TV que elas assistem e os livros que leem. Por mais que falemos sobre isso, a única forma de desfazer essa lenta construção é ao longo da formação do indivíduo. É um processo que vai levar gerações, estamos falando de uma enorme orientação cultural psíquica.
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G |Embora seus estudos sejam especificamente sobre o caso americano, há muitos elementos do racismo que são universais? O que você diz vale também para a América Latina e a Europa, por exemplo?
CR |A valorização da pele branca é uma dinâmica universal. No Caribe, onde nasci, se você vai a um hotel, a grande maioria dos funcionários é negra, mas quem atende o público são quase sempre pessoas brancas ou de pele clara. O mesmo em alguns países africanos, ou mesmo na América Latina. Há um comprometimento com um mito ariano muito semelhante ao que tomou a Alemanha no passado, gerando o Holocausto. Não foi só porque as pessoas odiavam os judeus, mas sim motivado por uma necessidade da pureza de pessoas loiras de olhos azuis. O desejo da branquitude foi a raiz do problema tanto quanto o antissemitismo.
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G |Qual a importância do diálogo dentro desse contexto?
CR |“Só Nós” é um livro que convida pessoas que geralmente não se falariam a conversar. Nós não precisávamos necessariamente concordar, mas devíamos ter vontade de interagir. O que quero dizer nas conversas é que sei que há um investimento daquelas pessoas na branquitude e que é preciso se comprometer. Não significa que você vai mudar a maneira como age, o que seria até positivo, mas pode ao menos admitir a realidade. Se está chovendo, basta dizer que está chovendo, mesmo que você não queira um guarda-chuva. Eu constantemente me forcei a conversar com pessoas com quem não falaria em outras condições porque queria criar um desconforto para mim e para elas. A ideia era chegar a um lugar de compreensão, de estar com pessoas que pensam de forma semelhante. Estamos todos juntos neste mundo. É importante que comecemos a dialogar, ou nada vai mudar.
- Só Nós
- Claudia Rankine
- Todavia
- 352 páginas
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