O que são os superapps e quais já existem no Brasil — Gama Revista
Sociedade

A chegada dos superapps

Aplicativos prometem reunir diversas funções para “resolver a vida” do usuário; no Brasil, Rappi, Magazine Luiza e Banco Inter já entraram na corrida

Mariana Payno 16 de Janeiro de 2021
Guilherme Falcão

Não é nenhuma novidade que para muita gente a pandemia de covid-19 trouxe para o online — e principalmente para o celular — atividades básicas, como compras de supermercado e transações financeiras +. Mesmo com a retomada gradual da vida lá fora, a praticidade dos serviços remotos e de delivery pode ter criado de vez o hábito de resolver pequenas pendências da rotina a um toque do dedo. “Essa herança vai ficar”, avalia Maurício Morgado, coordenador do Centro de Estudos em Varejo da FGV.

E quanto mais atividades for possível fazer dentro de um mesmo aplicativo, melhor — pelo menos essa é a ideia por trás dos chamados superapps. Plataformas desse tipo prometem integrar diferentes serviços em um único ecossistema, que daria conta de grande parte da rotina: trocas de mensagens e agendamento de consultas, pagamentos e transporte, compras e entregas. Assim, um superaplicativo seria aquele inevitavelmente utilizado muitas vezes ao dia, porque, afinal, “resolveria a vida” do usuário em várias frentes.

Quanto mais atividades for possível fazer dentro de um mesmo aplicativo, melhor — essa é a ideia por trás dos chamados superapps

É fácil imaginar as vantagens: além da comodidade de acessar tudo em um único lugar fazendo apenas um login — o que significa menos instalações e mais espaço no celular —, os superapps supostamente oferecem uma experiência melhor para o consumidor ao detectar padrões de uso e fazer sugestões mais acertadas para cada indivíduo. “Ele conversa com o cliente, sabe seus comportamentos, seus interesses”, diz Morgado. Como contrapartida, há uma imensa coleta de informações pessoais. “A intersecção de dados ali é gigantesca, e claro que há a necessidade de uma legislação em cima disso, mas no balanço geral é bacana porque teremos uma experiência mais direcionada.”

Como nasce um superapp e o caso da Rappi

Para as empresas, os benefícios também são evidentes — imagine a quantidade de horas gastas e transações feitas em um aplicativo que congrega todos os afazeres do dia a dia. Não à toa, em várias partes do mundo, muitas já tentam tomar esse rumo, influenciadas sobretudo pelo case de sucesso da plataforma chinesa WeChat. Criado pela gigante da internet na China, a Tencent, em 2011, o WeChat começou como uma espécie de WhatsApp e hoje, com mais de 1 bilhão de usuários em 45 países, abriga redes sociais e permite contratar serviços, comprar produtos e fazer pagamentos.

Seguindo essa onda, empresas como a também chinesa Alipay, do grupo Alibaba, a indiana Tata, a indonésia Gojek e a espanhola Glovo passaram a apostar em plataformas multisserviços. Começando pelos EUA, a Uber tenta se estabelecer como o grande superapp do ocidente e, no Brasil, a Magazine Luiza e o Banco Inter (veja mais abaixo) já deram a largada nesse sentido. No entanto, é a colombiana Rappi que tem corrido a passos largos, por aqui e em outros países da América Latina, em direção ao objetivo de se transformar no “superapp mais completo da região”.

Diferentemente do WeChat — que surgiu como plataforma de troca de mensagens e, depois de se fortalecer, passou a desempenhar outras funções —, a Rappi já nasceu com o objetivo de reunir diferentes tipos de serviço. Parte das startups que promovem a uberização das relações de trabalho, com milhares de entregadores mal remunerados, a empresa se consolidou no delivery de restaurantes, encomendas e compras de mercado e farmácia e logo agregou outros trabalhadores autônomos, disponibilizando a contratação de atividades em geral, como manicure, limpeza, massagem e manutenção doméstica.

Faz parte do conceito do superapp que ele seja aberto com frequência, várias vezes ao dia

A mais recente cartada da Rappi é a entrada nas finanças, a partir do lançamento de um banco digital, com linha de crédito para empresas parceiras e um cartão para pessoas físicas, com duas modalidades generosas de cashback. Antes disso, o aplicativo começou oferecendo meios de pagamento pelo Rappi Pay.Em expansão vigorosa, o app também já tinha criado uma área de compras e outra dedicada ao entretenimento, com lives e música por streaming. Em outubro, anunciou a iniciativa Travel, para a reserva de passagens aéreas, ônibus e hotéis — a ambição é acrescentar aluguel de carros, passeios e seguros de viagem.

“Queremos resolver 100% da vida do usuário dentro do aplicativo”, disse Sérgio Saraiva, presidente da empresa no Brasil, em entrevista à revista Exame. O país, onde a startup atua desde 2017, é o maior mercado da Rappi, que coleciona mais de 7 milhões de usuários em 205 cidades de nove países latino-americanos. Por aqui, com um empurrãozinho da quarentena, a cobertura saltou de 20 para 119 cidades em 2020. Um dos desafios para se tornar realmente um superapp, porém, é conquistar uma enorme e fiel clientela — afinal, faz parte do conceito que o aplicativo seja aberto com frequência, várias vezes ao dia, para diferentes tipos de funcionalidade.

Os superapps no mercado brasileiro

Para Maurício Morgado, da FGV, a tarefa não é impossível. Embora 83% dos brasileiros ainda desconheçam a utilidade e o significado dos superapps, segundo pesquisa realizada pela MindMiners a pedido do Meio & Mensagem, ele acredita que o país tem um mercado promissor para a chegada dessas plataformas. “O Brasil é muito atento e receptivo a novidades no celular”, defende.

Além da massificação do smartphone, um dos fatores decisivos para o sucesso do WeChat na China foi a preferência por compras e transações online + — nesse sentido, apesar de estarmos distantes do padrão do gigante asiático, a pandemia ajudou: no primeiro semestre de 2020, as vendas pela internet cresceram 47%. “O consumidor está aprendendo a usar e a se familiarizar [com o e-commerce], e isso vai ficar como hábito”, diz Morgado. “O varejo já estava se preparando para atuar em diferentes canais e os superapps podem ser mais um.”

O grande trunfo dos superaplicativos não está só nas compras, mas também na possibilidade de hospedar serviços financeiros

O grande trunfo dos superaplicativos não está só nas compras, mas também na possibilidade de hospedar serviços financeiros, como uma espécie de casa lotérica da era digital, disponibilizando saques, pagamentos, transferências e até empréstimos e investimentos. Com parte da população desbancarizada, o Brasil é atraente nesse sentido. “Os superapps ajudariam muito as pessoas que não têm contas em bancos nos micropagamentos”, diz o pesquisador da FGV. “Além disso, como um pedaço grande da nossa economia é informal, esse mercado pode utilizar serviços de pagamento e transferência via app.”

No entanto, o uso disseminado de cartões de crédito no Brasil pode atrapalhar essas aspirações de fintech. Especialistas avaliam que a adesão ao WeChat e ao Alipay na China deve muito à substituição das transações em dinheiro vivo, que eram maioria no país até a década passada. Aqui, os cartões já são vistos como uma coisa prática. “Mas tem taxas”, avalia Morgado. “O consumidor quase sempre não percebe, além da anuidade, mas do lado do varejo as taxas são pesadas. O varejista pode querer estimular alternativas mais econômicas para receber. Vai ser uma briga de taxas.”

Quem quer ser superapp no Brasil

A Rappi tem pressa, mas compete com outras gigantes do mercado para se tornar um superapp; saiba quem já está nessa corrida

  • Magalu

    O aplicativo da Magazine Luiza começou como plataforma de compras online da rede e gradualmente expandiu as categorias disponíveis, oferecendo produtos de alimentação, moda, higiene, esporte e eletrônicos. Em 2020, o Magalu criou seu próprio meio de pagamento, que permite não só comprar pelo app, mas realizar outras transações financeiras, como saques, pagamentos de contas e transferências.

  • Banco Inter

    Além de operar como banco digital, a startup mineira adicionou serviços não-financeiros ao aplicativo. Os clientes podem, por exemplo, comprar produtos, reservar hotéis e passagens de avião, pedir comida e inserir créditos para o Uber — e tudo isso gera cashback.

  • PicPay

    O app que funciona como carteira digital acaba de abrir o leque dos serviços financeiros para o e-commerce e o mercado de seguros. Com 35 milhões de usuários, a fintech também anunciou uma plataforma de mensagens no aplicativo para o primeiro semestre de 2021.

  • Uber

    A nova interface do app reúne todas as funções disponíveis em uma tela só: as viagens de carro e os restaurantes do UberEats ganharam a companhia do delivery de supermercado e de um serviço de retirada e entrega de encomendas.

  • Mercado Livre

    Os serviços financeiros são a aposta do Mercado Livre, que tem potencial para expandir as atividades. Muito mais do que um lugar para venda de objetos novos e usados, a empresa hoje oferece meios de pagamento e gestão financeira pelo Mercado Pago e até criou a própria maquininha de cartão.

  • Whatsapp

    Um dos aplicativos mais utilizado pelos brasileiros — são 120 milhões de usuários por aqui, número inferior apenas ao da Índia — o Whatsapp tem poder para ser o grande superapp do país, mas as investidas são tímidas. Até agora, a plataforma apenas anunciou que teria um meio de pagamento, porém o projeto foi suspenso para análise regulatória. O processo antitruste contra o Facebook também poderia minar a hegemonia do zap.

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