Como estimular o paladar do seu filho
À medida que vão crescendo os pequenos podem começar a restringir o cardápio. Aqui há dicas para evitar o embate à mesa e incentivar que seus filhos provem de tudo
-
1
Aproveite as janelas de sabor –
Quanto mais cedo se pensar na ampliação do paladar, melhor. E cedo quer dizer muito cedo, ainda na barriga da mãe. Uma das poucas certezas, diz Bee Wilson em seu livro “Como Aprendemos a Comer” (Zahar, 2017), “é que o paladar é consequência da familiaridade”. E pesquisas mostram que os sabores do que a mãe come permeiam o líquido amniótico e o leite – e tendem a ser os mais aceitos pela criança após nascer. Quando a grávida toma suco de cenoura, a chance de o bebê gostar do vegetal aumenta. Quando come só besteira, idem. Não precisa passar vontade, dá para comer pudim — mas guarde o desejo para sobremesa e, na refeição, capriche no brócolis. Na mesma toada, o ideal é aproveitar o que os pediatras chamam de “janela de sabor”, que ocorre entre quatro e sete meses. Um estudo mostrou que crianças alimentadas com uma fórmula de proteína para dietas com intolerância ao leite, que era azeda, tinham mais interesse por sabores avinagrados aos quatro anos. Por isso, é importante amamentar nesse período, mas também introduzir novos sabores: quando pararem de mamar e passarem a comer alimentos sólidos, ficará mais fácil acostumá-los ao que foi experimentado antes. -
2
Ignore os menus para criança. Inclusive para você –
Boa parte dos restaurantes tem um menu kids, com nuggets, batatas fritas, cachorros-quentes e doces mil. Tente vencer seu poder de atração e oferecer o que um adulto saudável comeria. Hoje, é recomendado que se oferece às crianças o chamado “pfinho”, como apresenta Rita Lobo no livro “Comida de Bebê” (Editora Panelinha, 2018). Na Índia, há uma tradição hindu chamada Annaprasana. É uma cerimônia em que os pais, cercados por amigos e família, introduzem ao bebê os primeiros sabores da comida sólida. A degustação é seguida por uma bênção. A criança deve comer o mesmo que os pais assim que se acostumar aos alimentos sólidos e largar o leite materno. Para isso, os parentes precisam ser um modelo de nutrição – não adianta comer pizza no jantar e esperar que seu filho coma legumes. Coma bem na frente da criança, sempre. -
3
Continue tentando –
Existe uma razão evolutiva para a chatice gastronômica do seu filho. As papilas gustativas das crianças são biologicamente adaptadas para sentir mais o doce, o que evita que eles se interessem por sabores amargos e azedos, ligados na natureza ao que é venenoso e perigoso. A chance de ele ingerir comida e não veneno, assim, aumenta. Cabe aos pais mudar esse quadro de negação evolutiva, ou “neofobia”, desconstruindo a reação natural dos bebês. “Se você expuser as crianças a sabores diferentes, incluindo o azedo, o amargo e até o apimentado”, diz a psicóloga Leann Birch, especialista em paladar infantil, “eles tendem a aprender a comer muitas coisas novas”. Mas não será na primeira, nem na décima tentativa. Tenha sempre um vegetal ou uma fruta na mesa. Eventualmente a criança vai provar, sozinha. -
4
O poder da lista –
Todo pai e mãe sabe do que o filho não gosta e do que gosta. Então faça uma lista extensiva de absolutamente tudo o que ele provou e gostou (ou pelo menos não detestou) e busque alimentos similares. Anote tudo em duas colunas: uma dos “OKs”, outra dos “talvez”. Ele gosta de maçã? Ponha pera na lista do “talvez”. Não rejeita batata? Mandioquinha e mandioca entram na lista. E assim por diante. A ideia é ter um arsenal de certezas, possibilidades e desafios e brincar com as três categorias. Vá por tentativa e erro. Como o importante é fazer as sugestões de forma lenta e gradual, não adianta pôr um prato de vegetais coloridos na frente da criança e esperar que ela aceite. -
5
Mais que comida, poder –
É preciso entender o que está fazendo a criança rejeitar o alimento. Pode ser medo da nova textura, do sabor desconhecido – ou demonstração de poder. Crianças tendem a demonstrar personalidade, desejo de controle e autonomia de formas diversas e a comida é uma delas. A neurologista pediátrica Ena Andrews aconselha a não barganhar ou lutar (o que aumenta o poder infantil), e sim transformar a chatice em desejo de aventura. Desafie a criança a tentar coisas novas. Convença-a de que é ela uma corajosa aventureira da cozinha. David Ludwig, autor de “Você Precisa Comer Melhor” (Ed. Bestseller, 2009), aconselha a trazer a criança para o centro das decisões – de forma esperta, claro. Vale conversar sobre os alimentos pesquisando juntos na internet, explicando o que é saudável e por quê e desafiando o pequeno a encontrar as tais comidas na geladeira e na despensa; vale convidar a criança para cozinhar junto, como um mini “Master Chef”. Transformar o embate numa aventura pode ser a melhor saída.