Sofra menos para tomar decisões
Fazer escolhas não é fácil para a maior parte das pessoas. Mas há como deixar o processo menos enroscado
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Busque uma boa fundamentação e ouça a voz da experiência –
O primeiro passo para tomar decisões é estudar os caminhos possíveis. Parece óbvio, mas dois grandes obstáculos para fazer escolhas assertivas são incerteza e medo, que diminuem quando estamos munidos de informações de qualidade sobre o cenário e as possibilidades relacionadas à decisão. Nem sempre há tempo hábil para pesquisar e refletir por horas, e quantidade não é qualidade, sobretudo no quesito informação — por isso uma boa curadoria é importante. Para o empreendedor Matheus Moraes, ex-presidente da 99 e fundador da healthtech Alice, é fundamental ter fontes e dados confiáveis. Também vale recorrer a quem, eventualmente, já passou pela mesma situação. Embora a decisão diga respeito somente a você e à sua experiência, é muito possível que alguém no seu entorno já tenha vivenciado algo semelhante, e uma boa conversa pode ser meio caminho andado. “Estar bem informado ajuda também na sensação de dever cumprido”, diz Moraes. Caso algo não saia como planejado, pelo menos você tem a tranquilidade de que fez o seu melhor. -
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Abra mão do perfeccionismo –
Segundo a psicóloga e economista canadense Sheena Iyengar, autora de “The Art of Choosing” (a arte de escolher, em tradução livre), quanto mais opções para comparar, mais confuso e frustrante pode ser o processo de decisão. “Em vez de fazermos melhores escolhas, somos dominados por elas. Não é uma marca de libertação, mas uma asfixia de detalhes insignificantes“. Isso acontece porque, diante de tantas opções que temos hoje em dia — seja para comprar uma calça jeans ou decidir o que jantar — ficamos preocupados em examinar todas as possibilidades. Quando a decisão em si está tomada, a dúvida sobre se fizemos a melhor escolha nos corrói por dentro. O remédio para isso é simplificar o processo. Se você busca um aspirador, preocupe-se com seu objetivo original: averiguar se ele é capaz de aspirar. Nada de sofrer com os detalhes, se uma opção oferece bluetooth, ou se a outra tem comando por voz. É o que o psicólogo americano Barry Schwartz chama de substituir a mentalidade maximizadora, ou seja, “apenas o melhor servirá para mim” por “algo suficientemente bom é bom o suficiente”. Claro, para escolhas materiais, vale estabelecer parâmetros de qualidade. Mas, às vezes, uma escolha que te satisfaz sem tanto desgaste pode ser muito melhor do que sofrer até chegar à melhor escolha. -
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Não tenha pressa e descanse –
Dedique tempo para pensar sobre a sua pesquisa e as possibilidades. Vale refletir sobre prós e contras, riscos envolvidos, quais são os cenários realistas, bons e ruins, que podem se desenhar como consequência da sua decisão — e também levantar possíveis estratégias para os problemas hipotéticos que surgem com os cenários. Se a decisão for mais complicada, tão importante quanto dedicar um tempo para pensar sobre as escolhas é ter uma hora para se desligar delas também. A saída pode aparecer justamente quando você sai do olho do furacão. “Trabalhar sob pressão exige tempo para esvaziar. Para acomodar tudo o que você recebeu, o que está pairando. Por isso é importante esvaziar a mente e o corpo. E aí, quando você desliga e, depois, religa, o que vem à tona costuma ser o mais importante”, diz Ana Kuroki, da Mesa Company. Tanto ela quanto Matheus Moraes ressaltam a relevância de estar bem fisicamente e ter uma boa noite de sono antes de dar um passo importante. Cansaço prejudica a capacidade de fazer escolhas. -
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Tente deixar o medo de lado –
Não adianta: nunca teremos todas as informações para acertar o melhor caminho. Também não é proveitoso tentar pautar uma escolha só num apanhado de informações disponíveis — segundo a psicóloga Renata Marmelsztejn, há uma dimensão subjetiva das nossas experiências que precisa ser considerada. “É um lado irracional, do desejo, de coisas que motivam”, explica. No final das contas, tirar os planos do papel vai depender da sua coragem: “Em vez de tomar a decisão pensando no mundo ideal ou definitivo, entenda ela como um primeiro impulso. Isso tira um pouco a pressão da decisão”, diz Ana. “Muitas vezes o que a gente precisa é se movimentar. Colocando o bonde para andar, outras escolhas aparecem, e você vai entendendo melhor o caminho que está tomando”, acrescenta. Às vezes é preciso fazer o contrário do que parece o ideal — em vez de esperar o cenário perfeito, escolher com o que se tem para ver melhor como o horizonte se constitui. Nada de parar no estágio da análise infinita ou postergar uma decisão quando já é tempo de tomá-la. Na pior das hipóteses, se você não escolher, a vida vai fazer isso por você. -
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Acolha sua decisão, mesmo se ela não for acertada –
Tomar uma decisão é estar ciente de que ela pode estar errada. Por isso um passo importante é aprender a aceitar sua escolha e ter a tranquilidade de que você fez o melhor que podia nas condições que tinha. Decisões não costumam ser atos isolados e permanentes — você poderá tomar outras decisões na sequência e eventualmente corrigir o que não saiu como previsto. “É importante tomar a decisão, aprender rápido se ela for errada e conseguir aplicar o que foi aprendido na nova decisão para tentar acertar”, diz Matheus Moraes. Olhe para frente e não duvide da possibilidade de reescolher: “Há muitas decisões que fazem sentido em um momento, mas depois não fazem em outro, e às vezes precisamos mudar de rota. Isso não deve ser visto como um fracasso, mas como parte da vida, em que a gente aprende a cada passo dado e que pode nos levar a novas escolhas”, diz Renata.