Com apenas cinco ingredientes, tempo e paciência, você vai conseguir fazer o famoso “pão da capa”
Especialista em panificação caseira, o padeiro e sócio da naJanela Luiz Américo Camargo ensina o passo a passo de uma das suas principais receitas
A pandemia de covid-19 acabou, mas a pãodemia — aquela onda de fazer o próprio pão que fez sucesso em tempos de isolamento social — veio para ficar, com muita gente que continuou a colocar a mão na massa de farinha e fermento para produzir pãezinhos caseiros. Além disso, padeiros conhecidos não pararam de abrir pequenos negócios por aí desde então.
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É o caso de Luiz Américo Camargo, consultor gastronômico e autor dos livros “Pão Nosso” e “Direto ao Pão” (Editora Panelinha/Senac, 2013 e 2019), que acaba de inaugurar sua quarta unidade da padaria naJanela, no bairro dos Jardins, em São Paulo, apenas um ano depois de ter aberto a primeira, em Higienópolis. As outras duas estão na Bela Vista e em Perdizes.
Um dos mais pedidos nos endereços e recorde de execução dos leitores de “Pão Nosso” é o pão que estampa a capa da publicação, uma receita que, segundo Camargo, é básica, gostosa, versátil e durável. “Você pode conservá-lo enrolando bem em um pano, fatiando dia a dia, dourando as fatias na chapa, ou mesmo congelá-lo, inteiro ou porcionado”, sugere.
O especialista em panificação caseira também dá uma dica de ouro para quem está iniciando no mundo da fermentação natural: “O tempo é um ingrediente”, diz. Ele lembra que os processos levam horas. “A gente começa uma receita num dia, para assar e comer só no outro. Atenção ao tempo de cada etapa. A paciência é essencial.”
Camargo pontua, no entanto, que mesmo o relógio sendo fundamental ao processo, não significa que o resultado final sai em horas exatas, calculadas. O tempo é uma referência. “A massa nos ‘avisa’, ela vai mostrando seu crescimento, seu desenvolvimento; com a repetição, vamos treinando o olhar e o tato para perceber a evolução de cada passo”, comenta.
Para ele, utilizar uma boa farinha também é importante, porém, pode ser aquela que cabe no bolso e seja fácil de encontrar. “Usamos produtos de ótimos fornecedores, como a Le 5 Stagioni e a Irati. Mas há muitas marcas boas nos mercados, como Anaconda, Nita, Mirella e Caputo.”
Alguns instrumentos simples, conforme cita Camargo, ajudam a fazer a receita com mais precisão. Dois deles são baratinhos, uma balança de cozinha e um termômetro para colocar no forno e aferir a temperatura real. Mesmo cestos de fermentação, os bannetons, estão mais acessíveis hoje em dia. “E, no mundo ideal, uma boa panela de ferro seria uma aquisição bem-vinda”, indica o sócio da naJanela.
“O erro ensina, ajuda. Não tenha vergonha, não sinta desânimo ao errar. Tendo atenção e persistência, as fornadas vão evoluir, degrau por degrau”, incentiva. E aí, vai um pão da capa?
O erro ensina, ajuda. Tendo atenção e persistência, as fornadas vão evoluir, degrau por degrau
Pão da capa
Rendimento: 1 pão, com cerca de 900 gramas
Ingredientes:
350 g de farinha branca (pode ser uma boa farinha tipo 1 nacional; se quiser usar uma farinha mais forte, inclusive importada, também vale)
150 g de farinha integral
330 g de água (bem fresca, quase gelada, se estiver calor)
125 g de fermento natural (refrescado, ativo)
10 g de sal
Modo de preparo:
- Numa tigela grande, misture a água ao fermento já refrescado (ativo). Dilua um pouco, para facilitar a mistura. Adicione as farinhas já somadas e siga misturando. Mexa com uma espátula tipo pão-duro, até que tudo esteja bem agregado. Não deixe resíduos nas laterais e no fundo da tigela, raspe tudo mesmo.
- O sal vai entrar depois. Se tiver receio de esquecê-lo, deixe-o já pesado, ao lado. Ou espalhe-o por cima da mistura, sem mexer.
- Cubra a tigela com um plástico e deixe descansar por 30 minutos. Esse processo chama-se autólise, e é o que vai permitir que a farinha absorva melhor a água e vai ajudar a formar a rede de glúten. Observação: Se quiser fazer uma autólise mais longa, de 1 hora, misture só água (320 g, guarde 10 g) e farinha; depois, acrescente o fermento e as 10 g restantes de água, mais o sal.
- Passe a trabalhar com as mãos dentro da tigela. Mas, antes, não esqueça de colocar o sal. Vamos manipulá-la um pouco, até a massa ficar mais uniforme. Aperte, puxe, estique, até que ela comece a ficar homogênea e com uma boa liga. Quando a massa ficar mais elástica, mais lisa, menos grudenta, macia, faça uma bola, acomode na tigela, cubra e aguarde meia hora.
- Vamos fazer dobras, a cada 30 minutos. Pegue a massa por baixo, com a mão um pouquinho umedecida, levante-a, deixe que as pontas “entrem” sob a massa. Vá mudando de direção (norte, sul, leste, oeste), são quatro vezes. Com a mão levemente umedecida ou usando o pão-duro, pegue uma ponta da massa e dobre-a sobre ela mesma, também virando a tigela, em quatro direções. Feitos os quatro movimentos, deixe descansar mais 30 minutos. Repita essa operação de dobras por mais duas ou três vezes (se a massa se mostrar mais firme, mais estruturada, podem ser duas vezes).
- Cubra a massa. Vamos deixá-la descansar, sem mexê-la por 2 a 3 horas (ou menos, se estiver muito quente, ou mais, se estiver frio; observe, até que a massa se transforme e dobre de tamanho).
- Depois que a massa estiver crescida, com ajuda de um pão-duro, ou de uma espátula, despeje-a delicadamente sobre uma bancada ou mesa já coberta por uma camada de farinha.
- Aproveite e prepare um banneton coberto por bastante farinha. Ou improvise um cesto de descanso, como um escorredor de macarrão ou um recipiente oval, coberto por um pano (e com farinha, também).
- Vamos modelar uma bâtard, aquele formato oblongo, levemente ovalado. Os movimentos são ágeis (mas sem serem apressados e ansiosos). Contando a partir da borda que está mais longe de seu corpo, puxe um pedaço da massa em direção ao centro, usando a ponta dos dedos das duas mãos. Repita com o pedaço que está mais perto de você, de modo que as duas partes se encontrem. Feche bem a emenda, beliscando e pressionando de leve, com a almofadinha das mãos. Puxe também as duas extremidades, deixando as pontas arredondadas, unindo-as à costura central.
- Vire a massa modelada de cabeça para baixo. Com uma espátula, ou mesmo com as mãos, vá tensionando a massa pelas laterais, como se estivesse boleando, para que fique bem esticadinha. Pegue com as mãos, e passe para o cesto enfarinhado. A emenda ficará para cima.
- Vede bem o cesto com um plástico. Vamos deixar que a massa cresça lentamente. Há dois caminhos, à temperatura ambiente ou no frio. Ela pode descansar por 1 a 2 horas, fora da geladeira, num lugar bem fresco. Ou pode ir para dentro da geladeira, esperando 8 a 12 horas, ou até um pouco mais (se for usar geladeira, deixe à temperatura ambiente na primeira meia hora, depois coloque no refrigerador).
- A melhor opção é assar dentro da panela (de ferro, preferivelmente). Coloque a panela dentro do forno, em fogo alto, preaquecido por 30 minutos. (Aproveite e tire a massa da geladeira, caso tenha feito a segunda fermentação a frio). Se não for usar a panela, asse numa assadeira, com forno bem quente, e simulando vapor — com um borrifador ou colocando água em outra assadeira, por baixo. O vapor é importante no começo.
- Com cuidado, meia hora depois, tire a panela do forno e retire a tampa.
- Para transportar a massar para a panela (e não se queimar na hora do corte), uma dica é usar papel próprio para assar (papel antiaderente), cortado em tamanho um pouco maior do que o filão. Vire o cesto com a massa sobre o papel e, imediatamente, faça o corte: trace a pestana com movimento rápido, de ponta a ponta, com lâmina levemente em ângulo.
- Erga o papel pelas laterais, e transporte para a panela quente (não precisa jogar; vá com calma, mas com agilidade). Feche-a com a tampa e leve ao forno.
- Asse por 40 a 45 minutos, ou até dourar muito bem. Na metade desse tempo, e com cuidado para não se queimar, abra o forno, pegue a panela e retire a tampa. Volte a panela destampada par o forno, para ganhar cor. Deixe terminar a cocção. Se quiser uma casca um pouco mais fina, asse direto, sem tirar a tampa.
- Retire o pão, com uma pinça, e coloque sobre uma grade para tomar ar por todos os lados. Espere esfriar.
Observação: Caso você queira pães menores, de peso entre 400 g e 450 g, divida a massa por dois, no momento que antecede a modelagem.
- Pão Nosso
- Luiz Américo Camargo
- Panelinha/Senac
- 178 páginas
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