O que os podcasters estão ouvindo?
Chico Felitti, Déia Freitas, Cris Bartis e outros podcasters brasileiros indicam seus programas favoritos
Seja diante de uma pia com louça suja, durante o treino na academia ou enquanto você volta para casa, o podcast pode ser alívio de momentos que outrora eram o puro e modorrento tédio. Os programas de áudio podem ser a salvação do público, mas será que eles também fazem bater o coração de quem vive de podcast?
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Gama conversou com cinco podcasters brasileiros e pediu indicações de boas séries em áudio a cada um deles. Chico Felitti, Déia Freitas, Tiago Rogero, Letícia Arcoverde e Cris Bartis abriram o player do celular e mostraram o que de melhor têm consumido nos últimos meses. Da história dos videogames no Brasil, passando pelo cuidado de plantas e chegando às maiores festas ao redor do país, há um podcast para cada gosto.
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Divulgação “Primeiro Contato”
Indicação de Chico Felitti do “Além do Meme”
“É um podcast documental que conta a história muito doida de como os computadores de uso pessoal (sabe esse, que você provavelmente está usando?) entraram no Brasil. É uma história dos anos 1990, que passa por abertura econômica, CDs de jogos vendidos em banca e um menino de 11 anos trabalhando na assistência técnica. O que me chamou a atenção é o nível de surrealismo da história. Hoje em dia, parece que computador é uma coisa que vem embutida na família brasileira, né? Ver a batalha cheia de idas e vindas que foi para a tecnologia chegar ao país foi uma das coisas mais fascinantes que ouvi nos últimos anos. Eu sou louco por histórias malucas, bem na pegada ‘Tiger King’, e esse podcast apresenta uma história dessas. É tão inacreditável que só poderia ter vindo da realidade, jamais inventado.”
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Divulgação “Entre Cactos & Suculentas”
Indicação de Déia Freitas do “Não Inviabilize”
“É um podcast que fala só sobre plantas, é uma coisa bem diferente. O apresentador nunca teve plantas e, um belo dia, ele ganhou uma suculenta. E aí, para não matar aquela plantinha, ele começou a estudar sobre o assunto. Agora, ele sabe tudo sobre cactos e suculentas, então ele explica os pormenores de cada planta. Eu não tenho planta nenhuma, mas eu acho muito interessante ouvir alguém falando sobre plantas. Não é um podcast tirando sarro, é um podcast sério. Para mim, é muito bom ouvir um cara falando de uma maneira séria sobre cactos e suculentas. Sabe, quem é que fala de cactos e suculentas? Ninguém. O que você sabe sobre um cacto? Quase nada. Eu também não sabia quase nada, mas tem mil tipos de cactos e suculentas e cada um tem o seu cuidado próprio. Você pode pensar que é só uma plantinha, mas tem todo um universo por trás.”
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Divulgação “The Shrink Next Door”
Indicação de Tiago Rogero do “Vidas Negras”
“Apesar de ser um programa ‘antigo’, ao menos pra velocidade das coisas hoje em dia, eu só ouvi recentemente. Sou fã de Will Ferrell e Paul Rudd, os protagonistas da série homônima do Apple TV+, e depois que terminei a história, fiquei intrigado e fui atrás do podcast, que também é uma história real, que deu origem a tudo. Fiz o caminho contrário do que costumo fazer em casos de podcasts adaptados para a TV: vi primeiro a série e depois ouvi o material original. Maratonei tudo em um único sábado. Além da possibilidade de, antes ou depois, complementar a experiência assistindo à série de TV, é um podcast muito bem feito, com uma história, impressionante, insólita e muito bem contada. Ainda que, depois de ter visto a série, eu já não esperasse mais nenhuma “surpresa” ao ouvir o podcast, emendei um episódio no outro graças a boa construção narrativa do roteiro, sempre instigando para o que estava por vir. Afinal, em casos assim o podcast costuma sempre dar uma visão mais detalhista e aprofundada da história, o que foi o caso.”
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Divulgação “Our Opinions are Correct”
Indicação de Letícia Arcoverde do “Durma Com Essa”
“O ‘Our Opinions are Correct‘ é um programa quinzenal americano apresentado por Annalee Newitz e Charlie Jane Anders, autoras de ficção científica e fundadoras do site io9, em que elas conversam sobre livros, séries, filmes e quadrinhos de ficção científica e fantasia, ciência em geral e outros temas que ocupam a mente delas. Eu já acompanhava o trabalho das duas, que têm uma dinâmica ótima e conhecem muito sobre o gênero da ficção científica e cultura pop, mas também adoram encontrar novas obsessões aleatórias e destrinchá-las. O programa se sustenta na conversa entre as apresentadoras e, muitas vezes, um convidado, mas inclui bastante pesquisa e informação sobre os temas discutidos. Cada episódio faz um mergulho na história de um assunto (alguns recentes são nacionalismo na ficção científica, narrativas de viagem no tempo, o jornalismo em obras de super-herói), mas trazendo junto a empolgação e as opiniões (declaradamente corretas como diz o nome irônico do podcast) das apresentadoras, que têm uma curiosidade natural muito gostosa de ouvir. Para quem gosta do assunto, é uma ótima fonte de conversas ricas e divertidas. Para quem se interessa por podcasts no geral, acho um bom exemplo de programa independente que combina espontaneidade, pesquisa e informação, feito com menos recursos que grandes produções, mas muito conhecimento e capricho.”
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Divulgação “Alegria Agora, Agora e Amanhã”
Indicação de Cris Bartis do “Mamilos Podcast”
“Vou fazer um autojabá porque fiquei encantada com o conteúdo que o Mamilos produziu. É uma minissérie que fala sobre cinco festas populares no Brasil no período que não existiram por conta da pandemia. É um conteúdo contado por pessoas que trabalham nessas festas – no Festival de Parintins, no Congado de Uberlândia, no Círio de Nazaré de Belém, no Carnaval de Olinda e no São João de Campina Grande. Por que a festa faz tanta falta pro Brasil? Como ela cria a nossa identidade? E como ela funciona enquanto instrumento de democracia e direitos humanos. O podcast responde tudo isso. Escutar as pessoas que fazem esse movimento de festa de rua, um movimento político, é entender porque o Brasil está de pé. Esse país tem muita gente boa, ele não tem como dar errado enquanto essas festas tão preciosas acontecem nas ruas de diferentes estados. Depois de mais um ano sem festas, o podcast é um quentinho no coração.”
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