O que é uma festa boa?
O segredo para um festão inesquecível está em reunir pessoas diferentes, pensar no conforto e aproveitar o momento. Confira depoimentos de festeiros profissionais ouvidos por Gama
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Foto: Divulgação “É sempre bom ser surpreendida por pessoas diferentes, um pouquinho fora do nosso eixo”
Luiza Brasil, 36, jornalista, pesquisadora de moda e comportamento e autora de “Caixa Preta” (Globo Livros, 2022)
“Uma boa festa é aquela que é abundante! Não só abundante e farta em comida e bebida, mas também em pessoas. E aí, quando falo de pessoas, não é sobre quantidade, mas sim sobre a energia delas, a sintonia delas e também a pluralidade, né? Porque chega de ficar só naquela microbolha. É sempre bom ser surpreendida por pessoas diferentes, um pouquinho fora do nosso eixo.” (depoimento a Sarah Kelly)
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Fotos: Arquivo pessoal “É o encontro com o inesperado, onde tudo pode acontecer”
Erika Palomino, 57, jornalista, curadora e autora de “Babado Forte” (Ubu Editora, 2024)
“Festa boa é o encontro com o inesperado, onde tudo pode acontecer. Onde a gente não pensa no dia de amanhã e vive o presente em sua máxima e descompromissada potência. Amizades, novidades, música (boa também), ferveção e beijo na boca.” (depoimento a Luara Calvi Anic)
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Fotos: Arquivo pessoal “O melhor mesmo são as festas onde tem uma mistura de pessoas. Festa onde todo mundo se parece é chato demais”
Camilo Rocha, 56, DJ, jornalista e autor de “Bate-Estaca: Como DJs, drag queens e clubbers salvaram a noite de São Paulo” (Veneta, 2024)
“O que faz uma festa ser boa são as pessoas, e eu não tô falando necessariamente de amigos. Uma festa pode ser ótima apenas com estranhos legais (e que, por isso, provavelmente vão acabar virando seus amigos no decorrer da festa). Mas o melhor mesmo são as festas onde tem uma mistura de pessoas: amigas e desconhecidas, exuberantes e discretas, fúteis e profundas, com diversidade sexual, de idades, de origens e de vivências. Festa onde todo mundo se parece é chato demais. Uma festa inesquecível foi meu aniversário de 40 anos, em 2008. Foi lá numa área reservada no Vegas, clube que ficava na rua Augusta, e eu consegui reunir amigos e conhecidos de várias fases da vida. Foi doido.” (depoimento a Isabelle Moreira Lima)
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Foto: Divulgação “É pensar numa experiência certa que vai fazer com que a comunidade se sinta confortável”
Peroli, 30, DJ, curadora e produtora cultural
“Comecei a frequentar festas muito cedo, antes de começar a tocar e de pensar em ser DJ, pelo simples fato de que eu queria estar perto dos meus amigos. Depois, quando eu virei DJ, automaticamente passei a fazer parte da Periferia no Toque. E aí eu comecei a produzir festas também. Então, pensar no que era uma festa boa era muito além do que era bom pra mim. A gente pensava muito numa experiência pro público da nossa comunidade. Queríamos criar um ambiente seguro para pessoas periféricas no centro e por isso havia um cuidado muito especial de pensar desde a entrada da pessoa na casa até a saída dela. Uma preocupação era escolher bem os lugares das festa. Era importante ter um lugar que tivesse segurança em volta da casa, que fosse perto do metrô. Além disso, era fundamental pensar numa ordem de DJs que fizesse sentido pra festa também. Como era uma festa de funk, as pessoas já vinham esperando funk. Por isso, não começava direto com o funk. Sempre tinha um esquenta com alguém tocando um hip hop ou alguma outra coisa, meio que pra ‘amaciar’ a pista. E depois vinha o funk e todas as outras vertentes. Então, é pensar numa experiência certa que vai fazer com que a comunidade se sinta confortável, mas que também faça com que eles entendam a construção do que faz sentido pra gente enquanto organizadores da festa. E enquanto espectadora, observo muito a experiência de eventos no geral. Hoje em dia eu raramente saio pra curtir porque trabalho muito e, quando saio, é sempre pra trabalhar. Recentemente, fui numa festa e não tinha nenhum lugar pra sentar. Fiquei uma hora e fui embora porque eu achei isso um absurdo. Eu falei: ‘Gente, não tem um lugar pra sentar. Como que as pessoas vão se recuperar?’ Era uma festa que tinha muita gente, tinha espaço pra comer, tinha ativações de marca, eles pensaram em muita coisa e não pensaram no mínimo, que era o conforto dos convidados. Acho que quem organiza festas tem a responsabilidade de pensar e zelar pelo conforto das pessoas. Outra coisa que a gente se preocupa muito também é em conhecer quem trabalha na casa de festas, desde a pessoa que tá limpando até o segurança e o gerente. É muito importante porque se acontece alguma cena estranha, precisamos ter um diálogo. Além disso, tento sempre conscientizar a galera na redução de danos. Aconselho usar protetor auricular, beber mais água… Isso tudo faz parte de uma festa boa no final.” (depoimento a Sarah Kelly)
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Fotos: Adson Ramalho e Pedro Pinho “Boas atrações, um público diverso, preço acessível e qualidade técnica no som”
Mirands, 31, DJ e um dos fundadores da Batekoo, plataforma de cultura da juventude negra
“Pra mim, tem muitos [fatores] que fazem uma festa boa. O principal, e o que realmente me faz decidir ir, são as atrações: um line-up coeso, com show e DJs que conversem entre si. Eu me animo muito mais quando percebo que a festa tem alguma preocupação com o público que vai estar lá, especialmente em relação à diversidade. Quando sei que vou encontrar pessoas pretas, trans, não-binárias, travestis, pessoas com corpos diversos, isso enriquece muito a festa e me faz querer ficar. Dificilmente eu piso em um lugar onde o público é completamente diferente de mim, isso me afasta bastante. Quando o público é mais diverso, eu sinto que a festa é melhor. Além disso, a parte técnica também pesa muito. A qualidade do som, pra mim, é indispensável. Não adianta trazer uma atração incrível se o som está ruim, baixo ou com ruídos e falhas. Outro ponto importante é o preço. Acho que isso está muito ligado à diversidade, porque festas muito caras acabam atraindo um público mais elitizado e higienizado, o que eu não gosto muito. Então, resumindo, pra eu considerar uma festa boa, ela precisa ter boas atrações, um público diverso, preço acessível e qualidade técnica no som.” (depoimento a Amauri Terto)
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Foto: Arquivo pessoal “Tem que ter gente de todos os lugares, de todos os jeitos, com alegria, com sede, com emoção”
Léo Galvão, 35, relações públicas e sócio na PBPR
“Para uma festa ser boa de verdade tem que ter todo tipo de gente. Ali, agora, misturada e reunida. Gente de todos os lugares, de todos os jeitos, com alegria, com sede, com emoção. Depois de dez anos fazendo festa, ainda não me acostumei, faço a próxima como se fosse a primeira, fico nervoso, acho que ninguém vem e que vai ser um fiasco. Minha festa inesquecível? São duas! A primeira festa que eu trabalhei como RP, que foi a chegada da exposição In Your Face, do Mario Testino, no Brasil. E meu aniversário de 33 anos, no Exit Bar, um spekeasy para 80 pessoas e foram 250 amigos. Drinks, banda de música, bolo e polícia tentando acabar com a festa — um pouco de carisma pra contornar a situação e fomos até às 05h! Tenho fé na festa!” (depoimento a Isabelle Moreira Lima)
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CAPA Qual foi a melhor festa da sua vida?
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1Depoimento O que é uma festa boa?
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2Reportagem Como evitar brigas familiares nestas festas de fim de ano
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3Podcast da semana Léo Galvão: "Eu gosto de fazer gente feliz"
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4Comida e bebida Como calcular e organizar as bebidas para a sua festa
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5Bloco de notas 10 dicas de Martha Stewart para uma bela recepção em casa