Nana Kwame: "Uma história completamente feliz é uma mentira" — Gama Revista
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Foto de Alex M Philip com edição de Isabela Durão

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Conversas

Nana Kwame: "Seria estranho contar uma história feliz enquanto seu irmão leva um tiro no rosto"

Autor do livro “Os Superstars da Cadeia” faz críticas ao sistema prisional e reflete sobre nossa capacidade de conviver com o sofrimento alheio

Leonardo Neiva 20 de Outubro de 2024

Nana Kwame: “Seria estranho contar uma história feliz enquanto seu irmão leva um tiro no rosto”

Leonardo Neiva 20 de Outubro de 2024
Foto de Alex M Philip com edição de Isabela Durão

Autor do livro “Os Superstars da Cadeia” faz críticas ao sistema prisional e reflete sobre nossa capacidade de conviver com o sofrimento alheio

Em um futuro não tão distante, as prisões viram o centro de uma indústria de entretenimento televisivo que deixaria até um megassucesso como o Big Brother brasileiro comendo poeira. Com um avanço diabólico de propostas como a privatização do sistema prisional, presos se tornam gladiadores numa tentativa desesperada de alcançar a liberdade, ainda que a imensa maioria acabe mutilada ou morta no meio do caminho. Nessa realidade alternativa assustadoramente próxima, mulheres como Loretta Thurwar e Furacão Staxxx se tornam celebridades, amadas e temidas por seu talento para o derramamento de sangue.

MAIS SOBRE O ASSUNTO

A reedição futurista dos duelos de gladiadores que o escritor norte-americano Nana Kwame Adjei-Brenyah propõe no livro “Os Superstars da Cadeia” (Fósforo, 2024) pode parecer desculpa para promover violência e massacre sem sentido. Porém, a obra, finalista do National Book Award e eleita um dos dez melhores livros de 2023 pelo New York Times, finca raízes muito mais profundas na história, no preconceito e nas injustiças contemporâneas. Numa sociedade em que o crime é punido com requintes de sadismo e crueldade, a culpa acaba se tornando um conceito cada vez mais difícil de definir.

“O que faz a prisão parecer tão distante é o fato de não a vermos, como algo que acontece em outro país e você não presencia. Só porque não viu, não significa que não esteja acontecendo”, afirma Adjei-Brenyah em entrevista a Gama, durante uma visita do autor ao Brasil. O livro é também fruto de uma extensa pesquisa feita pelo escritor sobre o sistema prisional norte-americano e o racismo existente no encarceramento em massa no país, onde funcionam várias prisões privatizadas. Um modelo semelhante, aliás, também vem sendo discutido no Congresso brasileiro.

Na obra, embora o público acompanhe o dia a dia de alguns de seus prisioneiros/gladiadores favoritos, que são até patrocinados por grandes marcas, há um distanciamento reforçado pelas estratégias da mídia para retratar aquelas pessoas como violentas e não humanas — algo que, segundo o escritor, já acontece no mundo real sempre que pensamos na população carcerária.

Filho de um advogado criminal, o escritor considera que o assassinato do jovem negro Trayvor Martin (1995-2012), de apenas 17 anos, num caso marcado pelo preconceito racial, significou um ponto de virada na sua visão sobre justiça e culpa — o responsável pelo crime, George Zimmerman, acabou absolvido. O caso foi uma das principais inspirações para o conto que abre “Friday Black” (Fósforo, 2023), primeiro livro do autor publicado no Brasil. Na história, cinco crianças negras são brutalmente mortas com uma motosserra, crime que a Justiça avalia como “direito de defesa” [leia aqui um trecho do conto].

Formado na Universidade de Nova York e mestre pela Universidade de Syracuse, Adjei-Brenyah também atua como professor de literatura e escrita criativa na Universidade Colgate, em Nova York. Na conversa com Gama, o autor revela que está trabalhando na adaptação de suas duas obras para as telas e está escrevendo um novo livro de contos. Reflete ainda sobre os mecanismos que nos levam a negar a humanidade alheia, explica as precariedades do sistema prisional e relembra os debates que teve sobre o livro com leitores que passaram décadas atrás das grades.

  • G |“Os Superstars da Cadeia” começou como uma ideia para um conto de “Friday Black”. O que te levou a dizer: essa história merece maior desenvolvimento?

    Nana Kwame |

    Quando comecei a pesquisar sobre o sistema prisional, percebi que era um assunto maior. Era como uma hidra com vários rostos e ângulos diferentes. Tinha escrito umas 40 páginas e ainda não estava entediado, continuava interessado nesses personagens. Sinto que o conto é uma das minhas formas naturais de escrita, mas com este livro consegui me aproximar dele por causa dos diversos pontos de vista. Pude massagear meu desejo por multiplicidade. Então a história acabou crescendo a partir de um interesse no assunto, que se ampliou através da pesquisa. E os personagens me mostraram que talvez fosse um romance.

  • G |“Friday Black” começa como ficção especulativa, ou uma tentativa de imaginar cenários alternativos. Mas aquelas realidades horríveis são muito próximas da nossa, o que torna a coisa assustadora. Você busca de fato borrar esses limites na sua escrita?

    NK |

    Faço isso de forma natural, mas é porque nem penso neles inicialmente. Nos EUA usam muito o termo ficção especulativa, e provavelmente é o que melhor representa meu trabalho, mas nunca tinha ouvido falar dele até escrever o primeiro livro. Tento escrever o que parece honesto e verdadeiro para mim, sem muita preocupação com a categoria. Por isso acabo ignorando esses limites. Quando você se aprofunda no mundo literário, é forçado a encontrar aspectos específicos do gênero, mas não faz parte do meu processo. Enquanto crescia, eu lia qualquer coisa. Não prefiro ficção científica ou “literatura”, especulação ou sátira. Para mim, basta o trabalho de tentar fazer algo. Me sinto conectado a tudo isso.

  • G |O livro abre com o conto que talvez seja o mais aterrorizante, sobre o violento assassinato de cinco jovens negros. Por mais absurdas que algumas coisas pareçam ali, são também assustadoramente realistas. Quais foram suas inspirações?

    NK |

    Eu estava na faculdade quando Trayvon Martin [jovem negro morto a tiros na Flórida em 2012] foi assassinado. Isso teve um grande efeito em mim e na minha apreciação do sistema de justiça. Eu tinha 20 e poucos anos. Lembro de assistir aqueles processos judiciais se desenrolarem e perceber que era quase certo que George Zimmerman, o homem que matou Trayvon, seria libertado. E lembro de assistir a Trayvon, que era uma criança, ser demonizado. Lutei com essa ideia por um longo tempo. Eu também estava me desenvolvendo como escritor, então não sei se isso inspirou o livro ou se me inspirou como ser humano. Foi um dos muitos pontos de inflexão, um despertar de consciência. Isso foi importante, porque pela primeira vez escrevi de uma forma que tinha um significado fora de Nana Kwame Adjei-Brenyah. Era algo que eu queria que existisse no mundo, mesmo que meu nome não estivesse ali. Uma vez que senti isso, percebi que poderia alcançar esse sentimento: estou escrevendo para receber algum tipo de atenção ou glória ou porque acho que aquilo deveria existir no mundo? Foi a história que me fez ver isso claramente, e agora esse é sempre meu guia, meu objetivo.

  • G |O fato de seu pai ser advogado impactou sua visão de mundo e as tramas dos seus livros?

    NK |

    Afetou muito. É mais óbvio em “Os Superstars da Cadeia” porque é um livro sobre justiça criminal. Sendo filho de um advogado, você aprende a questionar as coisas. Se fazia algo, ele dizia que precisava haver uma razão. Quando eu era muito jovem, meu pai me contou que estava defendendo alguém que cometeu um assassinato. Acho que isso abriu minhas perspectivas. Ele me disse que não era tão simples dividir tudo entre bem e mal. Foi muito importante ouvir isso, porque meu trabalho está mais focado ​​nos sistemas que nos fazem reduzir nossa humanidade, em vez de discutir se tal pessoa é uma vilã. Estou interessado em implicar os mecanismos que nos fazem sentir confortáveis em machucar uns aos outros.

  • G |Ainda sobre o conto, uma coisa que chama atenção é o fato de o protagonista tentar reduzir seu “nível de negritude”. É algo que está presente no inconsciente da população negra, evitar ser visto como uma ameaça?

    NK |

    Estamos sempre negociando a forma como somos percebidos. Todo mundo faz isso, negros, brancos, pessoas de sexualidades e gêneros diferentes. O específico para a experiência negra é que você tem uma consciência aguda sobre isso. É aceito que, se você se apresenta de certa maneira como uma pessoa negra, é uma ameaça física e talvez precise ser removido com violência simplesmente pela forma como se porta. Estamos cientes de que a percepção da nossa capacidade de violência aumenta e diminui o tempo todo. Significa que você pode estar ameaçado, porque é sempre visto como uma ameaça. Muitos de nós sabemos disso porque precisamos saber. E é uma lição ensinada pela experiência. Se não aprender, sua chance de progredir será limitada. Mas também é triste, significa que sua capacidade de ser você mesmo está comprometida. Como pessoas negras, em qualquer lugar do mundo sabemos que estamos sendo observados ou examinados de forma mais severa. Então há uma consciência sobre isso.

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  • G |Em “Friday Black”, alguns contos se passam no dia a dia de uma loja de departamento. Qual o seu interesse nesse universo?

    NK |

    Foi meu único trabalho real, além de ensinar e escrever. Trabalhei em uma loja de materiais de construção, numa empresa de artigos esportivos e numa loja de roupas urbanas. Então várias experiências me inspiraram. Além dos aspectos físicos, há uma certa dureza em trabalhar nesses lugares. Parecia um beco sem saída na época. Não acho que o varejo seja isso, só era muito limitante. Tive que aprender a usar minha imaginação para ver como, mesmo naquele contexto, você pode ajudar alguém ou tornar o dia de uma pessoa mais fácil. Somos todos vendedores em muitos contextos diferentes. E eu fui capaz de encontrar alguma alegria ali. Não exatamente realização, mas algo próximo disso.

  • G |Quais as descobertas mais preocupantes que você fez quando pesquisou o sistema prisional para “Os Superstars da Cadeia”?

    NK |

    Quanto tempo você tem? Quase metade das pessoas encarceradas nos EUA sofrem de dependência. Mais de 40% são diagnosticadas com alguma condição de saúde mental. São estatísticas norte-americanas, mas provavelmente ecoam no Brasil e em outros países. Se você é queer, tem mais do que o dobro de probabilidade de ser encarcerado. Se se identifica como bissexual ou lésbica, tem quatro vezes mais chances de ir para a prisão do que mulheres héteros. E a porcentagem de indivíduos trans é ainda maior. Todos sabemos que pessoas negras são super-representadas nas prisões. Nos EUA, a renda média de um preso, antes de ir para a cadeia, é 41% menor do que a população geral — outra maneira de dizer que a prisão mira explicitamente os desfavorecidos. Há muitos dados sobre a caçada a comunidades já vulneráveis, que é desenfreada em todo o sistema prisional. Não sei se algo que eu acabo de dizer é chocante. Acho que o mais impressionante é o quanto não nos importamos, a aceitação geral do racismo, homofobia, da perpetuação do vício e dos estigmas sobre saúde mental.

  • G |Ainda não transformamos prisioneiros em gladiadores, mas os EUA têm cadeias privadas, sistema que alguns gestores têm interesse em reproduzir no Brasil, onde 70% da população carcerária é negra. Onde estão os problemas nesse modelo?

    NK |

    O governo contrata pessoas, que operam com fins lucrativos. Então você paga por isso como contribuinte, e eles podem lucrar o dobro, o que é duplamente ruim. Há tantos problemas, mas um dos mais gritantes é que as prisões são supostamente lugares de reabilitação, para diminuir a criminalidade. Mas, se elas são empresas de capital aberto ou se uma companhia investe nos lucros de uma prisão, como conseguem esses contratos governamentais para obter mais dinheiro? Elas dependem do número de pessoas encarceradas. Então há incentivo financeiro para que mais pessoas sejam presas. O que significa que as prisões não são incentivadas a reabilitar, e sim a prender mais. Numa escala maior, esses grupos fazem lobby por decisões duras e injustas que possam sustentar essas finanças. Basicamente, se você lucra com o crime, é incentivado a gerar mais crime. Outra coisa é que, se está num modelo que visa o lucro, você elimina custos. Mesmo dentro da prisão, vários custos que beneficiariam o bem-estar e a reabilitação dos presidiários são cortados. É uma espada de dois gumes em que, dentro e fora, todos sofrem mais — exceto os acionistas, que faturam com o sistema.

  • G |Você chegou a entrar em contato com leitores que estavam presos para falar sobre “Os Superstars da Cadeia”?

    NK |

    Foram as respostas mais significativas que já tive na vida. Fui à prisão de Green Haven, em Nova York, onde um grupo de 30 homens leu o livro. Já conversei com estudantes dos EUA e de outros países, ontem falei com um grupo de advogados, mas as conversas mais profundas, significativas e reflexivas que tive sobre o livro foram nas prisões. São intelectuais enjaulados. Fiquei muito, muito satisfeito com a disposição deles de serem generosos comigo. Descobri que prestam atenção até em personagens muito pequenos. Tem um cara chamado Barry “Urso” Harris, que morre logo no começo. Passei 20 minutos falando com eles sobre o personagem. Acho isso tão comovente. Eles querem falar sobre Barry porque são como ele, a pessoa que foi desconsiderada, que cometeu um erro de um minuto e está pagando durante anos por ele. Fiz isso em três prisões até agora. Falei com homens que vão morrer na cadeia, pessoas que passaram 30 anos presas ou sete numa solitária. Foi muito tocante. E também um lembrete, embora eu já saiba disso, de que são seres humanos colocados em gaiolas. Quase esquecemos disso, porque criamos pessoas teóricas na nossa mente. São seres humanos com famílias. Eu sou muito grato, eles me ensinaram muito.

  • G |Você contou a história desse personagem numa nota de rodapé. O livro é cheio delas, que ajudam a contar histórias extras e situar a narrativa na realidade. Foi uma decisão consciente?

    NK |

    Vejo muitos filmes de ação em que algo ruim acontece com o mocinho no começo e ele sai matando todo mundo, como “John Wick”. No último filme, cada dublê teve que morrer quatro vezes porque ele matou umas 400 pessoas. Nos EUA, enfrentamos grandes problemas com armas. Há uma espécie de insanidade e acho que esses filmes, apesar de visualmente bons, têm algo que quero evitar. Ali, uma pessoa morre e ninguém se importa. Eu me importo. Quero que cada personagem importe, porque toda pessoa importa. Ter essa atitude desdenhosa em relação à vida é exatamente o que permite que as prisões existam. As notas fazem muitas coisas, mas uma delas é dar a esses personagens que seriam ignorados um momento de atenção. Eles ainda são literalmente marginalizados em termos de páginas. Foi uma maneira de conseguir as duas coisas, representar o que está sempre lá mas nem sempre à vista. Espero que os leitores não pulem as notas. Costumamos pensar em nossas vidas como o texto principal e naqueles desconsiderados como estando à margem. Eu queria representar algo assim.

  • G |Aqui no Brasil o Big Brother é um verdadeiro evento social, e o livro retrata um pouco disso. Hoje atingimos o ápice no voyeurismo da nossa cultura de entretenimento?

    NK |

    Fiquei sabendo disso. Lembro de assistir ao primeiro Big Brother com minha família uns 20 anos atrás. Já namorei uma brasileira e era algo gigante, um dos programas favoritos dela. Estou interessado em como, à medida que os realities se tornam a TV oficial, passamos a usar nossa habilidade de perceber os outros como algo que pode ser vendido. Os realities nos treinaram, e agora fazemos isso por nós mesmos constantemente. Era algo que eu queria explorar.

  • G |Dá para sentir no livro essa dualidade de ame ou odeie em relação aos participantes que a gente vê nesses programas…

    NK |

    Com certeza, eles são projetados para isso. Não há objetivo. Há um editor e histórias criadas pelas mãos de vários produtores.

  • G |As pessoas levam uma frase de um dos seus contos (“Nada é mais chato do que um final feliz”) como uma declaração pessoal. De fato você é contra finais felizes?

    NK |

    Não, não sou. Acho que um final feliz pode ser ótimo. Bom, ruim, feliz, triste, a vida é tudo isso sempre. Não existe felicidade sem final. O preço de qualquer amor é a tristeza. Não quero parecer zen ou algo do tipo, mas isso é fato. Se você ama algo, vai lamentar algo. Para mim, uma história completamente feliz é uma mentira. Como humanos, todos sentimos isso. Além disso, eu me importo com o mundo. Seria estranho contar uma história feliz enquanto seu irmão leva um tiro no rosto ou sua cidade está prestes a ficar submersa. Contar uma história feliz enquanto seres humanos estão enjaulados seria como dizer que todo mundo está feliz, mas há um campo de concentração bem ali, como em “Zona de Interesse”. É um filme útil e inteligente, porque estamos todos na zona de interesse. Todos sabemos da violência que existe, mas não deixamos de ir à praia por isso. Não quero criticar o ser humanos, mas, na melhor das hipóteses, quer dizer que fomos doutrinados e, na pior, que esse é um veículo do verdadeiro mal. Então uma história que tenha qualquer tipo de redenção pode ser feliz. Me sinto feliz quando me emociono com uma história, mesmo que o personagem morra. Há tantas camadas para a experiência de vida, e a felicidade é aquela à qual nos apegamos. Por um lado é bom, porque a alegria é parte da nossa melhor identidade. Mas também há uma artificialidade que pode ser prejudicial.

  • G |No Brasil, tivemos uma grande discussão sobre as pessoas curtirem o show da Madonna enquanto o Sul sofria com enchentes…

    NK |

    Esse caso se destaca pela proximidade, mas é sempre real. Ontem, numa palestra, falei sobre a Palestina, porque sei que meus impostos estão apoiando a morte de crianças. Se quiser fingir que não é verdade, será falso. Parece diferente porque estamos longe ou nos sentimos mais conectados ao nosso próprio país. Mas o país é uma ilusão, são linhas inventadas. Tenho pensado muito nisso. O que faz a prisão parecer tão distante é o fato de não a vermos, como algo que acontece em outro país e você não presencia. Só porque não viu, não significa que não esteja acontecendo. Parece que estou dizendo que deveríamos estar deprimidos o tempo todo. Mas me pergunto como pensar que o seu bem-estar é o meu bem-estar. Como me importar que as pessoas no Brasil estejam sofrendo? Me afeta que os palestinos sofram. Como podemos criar um equilíbrio em vez de lutar constantemente pela felicidade individual? Afinal, ela é uma ilusão.

  • G |“Os Superstars da Cadeia” soa bastante cinematográfico. Quais suas preocupações se for adaptado por Hollywood?

    NK |

    São muitas. Daria para fazer um programa como o descrito no livro, que as pessoas assistiriam por diversão. Ainda que seja violento, busco ser bastante responsável em como retrato essa violência. Mas teria muito menos poder em Hollywood, mesmo escrevendo o roteiro. Ler uma cena de sexo é diferente de assistir a uma cena de sexo na TV, que é diferente de assistir a pessoas fazendo sexo num palco. É tudo diferente. Todos esses meios têm um certo distanciamento, que pode gerar prazer ou violência. Porque eu escrevo ficção, tenho liberdade para criar, mas escrever para a TV seria muito diferente. Teria que ser muito meticuloso em adaptar as cenas, ter uma conversa real com os diretores, produtores e atores para representar essa versão. Acho que Hollywood não se importa com nada disso. As pessoas costumam dizer que o livro é melhor que o filme, e muitas vezes é verdade, mas o livro é sua imaginação cristalizada. No caso de cenas violentas, pessoas que são mais relutantes talvez reduzam essa imagem enquanto a iluminam com algum outro detalhe que as faça se sentir melhor. Sei disso porque não gosto particularmente de assistir a violência física. Então a resposta é sim, Hollywood é o mal e provavelmente tornaria o livro uma porcaria. Por sorte, tenho uma boa equipe ao meu lado que pode fazer um bom trabalho. Estou no meio disso agora, mas tento o meu melhor para me mover com confiança e intencionalidade. Ainda assim, é assustador.

  • G |Então você está trabalhando numa adaptação do livro?

    NK |

    Sim, estou trabalhando em uma adaptação de “Os Superstars da Cadeia” para as telas. E em uma [adaptação] da minha coletânea de contos também. Hoje estou escrevendo outro livro de contos. E talvez um romance… mas não sei. Veremos.

Produto

  • Os Superstars da Cadeia
  • Nana Kwame Adjei-Brenyah (trad. Rogerio Galindo)
  • Fósforo
  • 472 páginas

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