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SemanaDe transplante na Turquia ao "Calvão de Cria": a batalha milenar dos homens contra a calvície
Terror estético masculino, a alopécia androgenética não tem cura. Mas alguns tratamentos podem dar bons resultados em até seis meses, garantem especialistas
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SemanaDe transplante na Turquia ao “Calvão de Cria”: a batalha milenar dos homens contra a calvície
Terror estético masculino, a alopécia androgenética não tem cura. Mas alguns tratamentos podem dar bons resultados em até seis meses, garantem especialistas
A piada começou em uma barbearia de Três Passos, cidade com pouco mais de 24 mil moradores no Rio Grande do Sul. Um grupo de adolescentes pediu ao cabeleireiro Marcio Campos um corte que até então nenhum cliente havia proposto: raspar os fios do topo da cabeça, com o objetivo de reproduzir aquelas entradas aprofundadas, próprias da calvície. “A gurizada viu na internet a imagem de um cara calvo com um degradê nas laterais e quis fazer igual. Então passei a máquina zero neles, filmei e postei no meu Instagram”, recorda Campos. Nascia assim, em fevereiro de 2022, o meme “calvão de cria”, que viralizou nas redes sociais e inspirou até letra de funk.
Na época, quem não achou a menor graça na brincadeira foi o empresário mineiro Lucas, 38 anos, esse sim, um calvo raiz, mas nada orgulhoso disso como os “crias” de Três Passos. Desde a adolescência, ele vinha travando uma luta inglória contra a queda de cabelo e, naquele momento, se preparava para um confronto definitivo. Encararia uma viagem até Istambul, na Turquia, considerada a meca dos transplantes capilares.
Reprodução/Marcio Campos
“Ver aqueles meninos se transformando em carecas por pura zoeira me irritou de início. Na idade deles, sofri muito bullying e vivia assombrado com a possibilidade de ficar com a cabeça lisa, como meu pai e tios”, recorda o empresário. “Mas ver os moleques desapegados de tudo, rindo deles mesmos, acabou sendo uma inspiração. Desisti de ir para Istambul e economizei uma fortuna”, completa Lucas, que hoje, menos angustiado, segue investindo em produtos e medicamentos para tentar brecar a perda de cabelo.
Embora as pesquisas na área tenham avançado, a calvície ainda é o maior pesadelo estético masculino
Embora as pesquisas na área tenham avançado, a calvície ainda é o maior pesadelo estético masculino. Não há cura para a doença, cujo nome é alopécia androgenética – que pode atingir mulheres também, mas é bem mais comum nos rapazes. “O homem começa a produzir hormônios sexuais na glândula suprarrenal aos 7, 8 anos, em pequenas quantidades. Mas, quando se entra na puberdade, os hormônios aumentam muito e aí, se há uma predisposição genética, a calvície começa a dar os primeiros sinais”, explica a dermatologista Aline Donati, coordenadora do curso de Tricologia no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo.
Segundo a especialista, enquanto se dá essa produção hormonal, até os 35 anos em média, a queda dos fios pode acontecer de forma mais ou menos severa, dependendo do DNA de cada um. “Nem adianta ficar tranquilo se pai, tios ou avós não são calvos. Muitas vezes se herda essa tendência de um parente mais distante e desconhecido. Um tataravô, por exemplo”, diz Aline. “Existe também um mito de que esse gene venha do cromossomo X, com maior probabilidade de ter sido passado pela mãe. Nada comprovado.”
A calvície na história
A noção da origem genética da calvície existe pelo menos desde Hipócrates. O pai da Medicina foi um dos primeiros a notar que os eunucos – jovens castrados na adolescência – não perdiam o cabelo. Essa interrupção da produção de hormônios sexuais, portanto, evitava que os genes relacionados à calvície fossem “ativados”.
Mas foi na década de 1950 que o cientista americano James Hamilton comprovou a hipótese a partir de estudos realizados em uma instituição psiquiátrica. “Naquele tempo, a castração fazia parte de alguns tipos de tratamentos contra a loucura. Hamilton observou o caso de um interno que tinha um irmão gêmeo levando a vida fora da instituição”, explica a dermatologista. “Quando eles ficaram mais velhos, o paciente, que havia sido castrado, seguia com cabelos, enquanto o irmão, havia ficado careca.”
Hoje, alguns dos medicamentos mais populares no combate à calvície são justamente os antiandrógenos inibidores da enzima 5-alfa redutase, diretamente envolvida no metabolismo da testosterona. A finasterida – administrada de forma oral – é uma dessas substâncias, como explica a dermatologista Priscila Kakizaki, coordenadora do grupo de experts em cabelos da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Há bons resultados, mas também há os efeitos colaterais. Entre eles, pode haver redução da libido, diminuição da contagem de espermatozoides, disfunção erétil, alterações de humor, entre outros”, diz Priscila.
O minoxidil é outra substância conhecida, que pode ser consumida via oral ou tópica. O medicamento auxilia no crescimento dos fios por ser um vasodilatador, contribuindo para o aumento de fluxo de sangue na região e fortalecendo os folículos capilares. “A resposta ao tratamento para os homens é muito boa tanto no caso da finasterida, quanto na do minoxidil. Em geral, os pacientes com alopécia androgenética podem ter boa resposta já nos primeiros seis meses de tratamento”, explica a dermatologista.
Pechincha turca
Há quem apele para medidas mais radicais em busca da cabeleira perdida. Os enxertos capilares, por exemplo, se encaixam na categoria “procedimento cirúrgico” e consistem em transplantar folículos capilares da nuca para o topo da cabeça, com anestesia local. No Brasil, a cirurgia custa em torno de R$ 30 mil, segundo a dermatologista Aline Donati – mas pode ser realizada por até metade do preço na Turquia. Um barato que pode sair caro, como alerta a dermatologista. “Por que lá o preço é tão em conta? Principalmente porque não são médicos que operam, são técnicos. Houve uma banalização do transplante capilar na Turquia, clínicas proliferaram com pouca fiscalização”, explica.
Há alguns anos a Turquia vem se tornando um ponto atraente para o chamado “turismo médico”, em especial para as cirurgias estéticas. No caso dos transplantes capilares, o país vem se firmando como líder mundial. Levantamento do Ministério da Saúde turco, realizado em 2016, apontou que pelo menos 65 mil estrangeiros buscaram as clínicas do país naquele ano.
No entanto, Aline destaca o resultado pouco natural do procedimento realizado ali. “O transplante também depende muito do dom artístico do transplantador. Para refazer o desenho da linha de implantação, por exemplo, os turcos costumam colocar o cabelo para frente e, com o crescimento, cria-se um topete, mesmo que seja de poucos fiozinhos.”
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