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5 dicasAprenda a contar uma boa história
Uma seleção de escritores, editores, roteiristas, podcasters dão dicas para quem tem uma boa história para dividir, mas não sabe a maneira mais envolvente de fazê-lo
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5 dicasAprenda a contar uma boa história
Uma seleção de escritores, editores, roteiristas, podcasters dão dicas para quem tem uma boa história para dividir, mas não sabe a maneira mais envolvente de fazê-lo
Seja uma história para contar na mesa do bar, na roda de amigos, no jantar em família. Em formato de podcast, vídeo para as redes sociais, texto para um livro. Sobre as aventuras da infância do avô, a fofoca do amor não correspondido da vizinha ou o assassinato violento numa cidade do interior. Não importa a ocasião, o formato, o conteúdo – relatar uma boa narrativa não é um dom inato, é algo que se aprende e pratica. Por isso, Gama convidou especialistas em escrita e contação de histórias a darem dicas de como contar ou escrever uma história de maneira envolvente.
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Conheça sua audiência –
“Num jantar em família, por exemplo, não vou falar de suruba”, aconselha a escritora e roteirista Tati Bernardi. Não só ela, como o editor de podcasts e fundador da Trovão Mídia, José Orenstein, o autor e tradutor Reinaldo Moraes e o apresentador, roteirista, e diretor M.M. Izidoro falam a Gama da importância de entender e conhecer a audiência que vai ler ou ouvir determinada história. Moraes relembra o lançamento de um de seus livros de maior sucesso, “A Órbita dos Caracóis”, publicado em 2003 pela Companhia das Letras. A editora na época, Heloisa Jahn, gostou da história, mas como literatura juvenil, mesmo que o autor tivesse pensado o título, inicialmente, como um romance adulto. “Por isso, sugeriu que eu tirasse o que lhe parecia um excesso de palavrões desnecessários e alguns detalhes pornogrotescos que impediriam a adoção do livro por escolas, público fundamental desse segmento do mercado editorial”, explica. Logo de cara, Moraes não curtiu a ideia de adaptação, confessa. Mas hoje, vê como uma lição: “Foi meu livro que mais vendeu até agora. Não me faltou oportunidade, nos anos seguintes, de escrever e publicar romances, contos e crônicas recheados de muita putaria gráfica e palavrões arreganhados”. Conhecer o público é realmente a chave para o sucesso, já que pode também evitar intrigas na mesa do bar e desvios de foco, como aponta Orenstein: “Talvez seja prudente entender se a moral da sua história bate com a moral que você supõe ser a do seu público”. “Contar uma história que tira uma lasquinha do Bolsonaro para um público bolsonarista pode não ser uma boa ideia”, exemplifica. -
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Não deixe o melhor pro final e abra espaço pro diálogo –
Depois de analisar a plateia e perceber o ritmo e a energia dos leitores ou ouvintes, pesque na sua história um elemento escandaloso, terrível ou muito engraçado, como sugere Tati Bernardi, e comece a narrativa por aí. “Mas sem entregar tudo. Lanço o tema mas demoro até concluir o desfecho, tipo ‘você sabe a história da mulher que tinha orgasmos em lugares estranhos?’. Todo mundo para pra ouvir.” Com a atenção do público em mãos, ela continua: “Daí conto como conheci a mulher, o que ela faz, quem ela é, e deixo a parte que ela gozava dentro do carro quando passava numa lombada pro final. Mas desde o início já anunciei a história de alguma forma.” Mais do que jogar uma informação inusitada na roda de amigos, o importante é que a história desempenhe uma função maior, a de começar um diálogo. “Quanto mais convidamos o interlocutor para participar e se identificar, maior a chance de se envolver e se engajar na história”, explica a jornalista e sócia da plataforma Contente.vc, Daniela Arrais. “A partir do momento que você coloca o interlocutor no texto, mesmo que de forma oculta, você gera maior identificação. Isso vale pra conversa no bar, jantar em família, justamente pra sair desse lugar de falar só de mim, e abrir espaço pro diálogo.” -
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Escreva e reescreva, conte e reconte –
Toda a magia e a beleza de uma história bem contada é diretamente proporcional ao trabalho e ao esforço minucioso de seu autor. O ofício pode não ser tão glamoroso como você imaginava – um lapso de criatividade divino é enviado à mente do autor, que, do dia para a noite, compreende qual narrativa vai escrever ou contar, e como. “Não existe inspiração. Escrever uma história é uma questão de muito treino, trabalho e principalmente de reescrita. Escrever, na minha opinião, é reescrever”, atesta Noemi Jaffe, que é escritora e professora, além de sócia diretora da escola de cursos e oficinas Escrevedeira. Reinaldo Moraes indica um passo extra no processo de elaboração da história: “Depois de escrita, tome um pileque, acorde no dia seguinte com uma ressaca atroz e um mal-humor de urso com dor de dente, e releia o que escreveu cortando impiedosamente as partes que te parecem chatas”. A bebedeira e a ressaca são opcionais, mas o bordão do “menos é mais” faz todo o sentido na hora de contar ou escrever uma história. E para excluir o que não funciona e reescrever o que ainda não te parece tão bom naquele texto – haja trabalho e prática, como afirma M.M Izidoro. “Se quer encontrar a versão mais envolvente daquela narrativa, precisa trabalhá-la, editá-la, até contá-la algumas vezes e ver como as pessoas reagem. A história não nasce perfeita, precisa ser lapidada.” -
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Respeite os formatos e traga uma dose de criatividade –
Como jornalista e produtor de podcast, José Orenstein “reza na igreja do Ira Glass”, em suas palavras, cujo grande trabalho é o clássico programa This American Life. Em uma entrevista que deu, Glass explica que uma boa história é feita de duas partes: a primeira é a anedota, que é “a sequência de eventos encadeados, a linha de ação, o que faz o ouvinte ou o leitor sentir que tem uma cena se desenrolando e cria um suspense”, como explica Orenstein; e segunda é a reflexão, “o momento em que o ouvinte ou o leitor entende a questão de fundo da anedota: o porquê da história, ou até a moral da história”. Uma boa narrativa, segundo ele, equilibra esses dois elementos. “Ter uma anedota envolvente depende muito de quem está contando conseguir encadear a sequência de eventos com clareza e graça, ou seja, saber mais ou menos onde se quer chegar, ter um destino, ligar lé com cré.” Tendo em mente essa possível fórmula, o próximo passo é colocar na mistura uma dose de criatividade, algum elemento novo, como sugere M.M Izidoro. “Depois de entender o formato, o que eu faço é testar em cima do que já existe e funciona. Os Beatles, por exemplo, não criaram quase nada de novo, só que quando colocam uma cítara numa música pop, sem sair dos três acordes, refrão e tudo que já conhecemos, é onde nos fisga.” Para Izidoro, o formato é o ponto de partida. Uma vez que foi estudado e destrinchado, pode servir como trampolim para trazer novos elementos e engajar o público com as novidades. Já Reinaldo Moraes indica um título que acaba de ler: “O Castiçal Florentino” (Cia das Letras, 2021), um livro de contos de Paulo Henriques Britto que, ele diz, “é uma verdadeira aula magna sobre como contar boas histórias”. -
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Dá-lhe referências, pesquisa e observação atenta –
Tão importante quanto exercitar a imaginação é buscar referências. Na verdade, talvez a primeira seja, justamente, consequência da segunda. Nem tudo que o autor vai escrever ou contar sai direto da própria cabeça – é bem mais provável, ainda mais se for o caso de escrever um título de ficção, por exemplo, que a pessoa precise se basear em experiências vividas ou numa pesquisa apurada. “Se vai situar uma cena num restaurante francês chiquérrimo, mas nunca frequentou nada além do McDonalds ou um boteco da esquina, é bom fazer muita pesquisa e, se possível, ter acesso físico a um ambiente desse tipo, mesmo que apenas como observador”, afirma Moraes. As referências para a elaboração de uma boa história estão em todos os cantos, basta enxergá-las. “Assistiu o programa do Fabio Porchat e curtiu a maneira como alguém contou uma narrativa? Estuda aquilo, e pode roubar, e digo roubar mesmo, as técnicas e os jeitos de contar”, orienta Izidoro. “Contar histórias é a coisa mais ancestral que fazemos como civilização, só começou porque alguém, algum dia, contou uma e começamos a compartilhar.” Já Noemi Jaffe fala na leitura como aliada, principalmente para quem quer escrever: “Precisa ser um bom leitor e muito atento. Ler tanto a literatura antiga do seu país e do exterior, como também a literatura contemporânea”. Para ela, mais do que prestar atenção no conteúdo, é preciso investir na maneira de contar aquela história, daí a relevância das referências, leitura assídua de diferentes obras, observação e pesquisa caprichadas. “Na literatura, o que mais importa é a forma como você escreve, a linguagem. Um fato totalmente desinteressante pode se transformar numa história interessante só por causa das palavras usadas. E uma história interessantíssima pode ser contada de um jeito bastante desinteressante”, finaliza.
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