Verônica Hipólito fala dos preparativos para os Jogos Paralímpicos — Gama Revista
Já pensou em sair correndo?
Icone para abrir
Daniel Zappe

1

Conversas

Verônica Hipólito: "Quando está dentro da pista, não existe deficiência, e sim muito treinamento"

Esperança de medalha nos Jogos Paralímpicos de Paris, corredora chegou a pensar em abandonar as pistas após sofrer AVC e retirar mais de 200 tumores

Leonardo Neiva 02 de Junho de 2024

Verônica Hipólito: “Quando está dentro da pista, não existe deficiência, e sim muito treinamento”

Leonardo Neiva 02 de Junho de 2024
Daniel Zappe

Esperança de medalha nos Jogos Paralímpicos de Paris, corredora chegou a pensar em abandonar as pistas após sofrer AVC e retirar mais de 200 tumores

“Quando terminei a corrida, senti que o mundo tinha parado e, ao mesmo tempo, tudo acontecia absurdamente rápido”, lembra Verônica Hipólito, 28, corredora campeã mundial e multimedalhista nos Jogos Paralímpicos e Parapan-Americanos. Presença confirmada nos Jogos Paralímpicos de Paris, que acontecem entre agosto e setembro, a primeira corrida competitiva da atleta, ainda na adolescência, não foi exatamente um case de sucesso. “Fiquei lá atrás, tomei um couro absurdo.” Mas a tentativa no esporte despertou ao menos uma determinação: “Falei: quero ser a melhor corredora da minha cidade.”

MAIS SOBRE O ASSUNTO
A voz do atleta brasileiro
A inclusão é um processo

O desafio da saúde mental dos atletas

Em 2024, Hipólito está de volta aos Jogos Paralímpicos após um hiato de oito anos. A corredora faturou nada menos que uma medalha de prata e um bronze na Rio-2016. Porém, devido ao retorno de um tumor no cérebro em 2021, acabou não alcançando o índice necessário para participar da competição em Tóquio no mesmo ano.

A ausência, porém, lhe rendeu a oportunidade de trabalhar como comentarista do evento no SporTV, onde se tornou um dos destaques da transmissão, com bordões como “Solta o Pix”, para celebrar vitórias brasileiras, e ao colocar em pauta o capacitismo, inclusive na perspectiva de atletas paralímpicos como “pessoas especiais” ou “exemplos de superação”. “A pessoa não vai usar termos errados porque quer ser chata, é porque realmente não sabe. Então é mais fácil ensinar de forma bem-humorada”, afirma

Arquivo pessoal

Questões de saúde são constantes ao longo da vida da atleta, impactando sua carreira praticamente desde a infância. Foi um tumor no cérebro que a impediu de continuar competindo como judoca aos 13 anos de idade. Aos 14, um AVC acabou paralisando o lado direito do seu corpo. Embora na época não tivesse nenhum interesse especial pelo atletismo, a corrida serviu no início como método de reabilitação; mais tarde, como paixão; e, finalmente, carreira profissional.

A atleta chegou a ter mais de 200 tumores espalhados pelo corpo, precisando remover 90% do intestino grosso. Em 2019, a menor mobilidade do lado direito a fez passar da categoria T38 para a T37, voltada a atletas com maior comprometimento físico. Hoje, ela compete na T36 — para atletas com transtorno do movimento e falta de coordenação motora em todos os quatro membros —, na qual acaba de conquistar medalhas de bronze no Grand Prix de Dubai, em fevereiro, e no Mundial de Atletismo agora em maio.

Isso tudo apenas um ano após ter cogitado deixar o esporte, em meio a problemas de saúde e à dificuldade para avançar nas pistas. “Ano passado virei para meu treinador e meus pais e falei: acho que não dá mais”, conta Hipólito. Mas foi justamente o apoio deles que motivou a atleta a continuar, especialmente na busca pelo lugar mais alto no pódio paralímpico. “Sonho ser campeã paralímpica e sei que existe muita possibilidade.”

Desde 2019, Hipólito está à frente do Time Naurú, equipe de esportes que atende atletas com e sem deficiência, e vem abrindo portas para novos competidores em torneios nacionais e internacionais. Ela também vem equilibrando os muitos desafios como atleta com uma faculdade de economia, que, após as broncas de amigos e familiares, pretende concluir em breve.

“O esporte não pede para você ganhar ou perder, mas que esteja com ele. Ninguém começa para ganhar, mas porque é divertido”, diz a atleta, para quem correr até hoje é sinônimo de diversão. No papo com Gama, ela aborda ainda o capacitismo estrutural no esporte brasileiro, a importância das políticas públicas para o desenvolvimento dos atletas e o machismo que perdura no meio esportivo.

Há o problema do capacitismo em toda a cadeia, que ainda olha o movimento paralímpico como coitadinho, aquela história de superação

  • G |Como está sendo a preparação para os Jogos? Qual a sua rotina de treinos hoje?

    Verônica Hipólito |

    A rotina de um atleta de altíssimo rendimento já é bem difícil, mas perto dos Jogos tudo muda absurdamente. Ser atleta não é treinar de segunda a sexta das 8h às 12h. Ser atleta é 24 horas por dia, sete dias por semana, sem férias, feriados, aniversário. De alguma forma, em ano de Jogos, isso consegue ser mais intenso. Às vezes acho que tenho 48 horas no dia, acabo vivendo dentro das pistas. Meu treino muda de acordo com a época, mas, de segunda a sábado, das 7h até 17h, você vai me encontrar no centro de treinamento, na pista ou fazendo trabalho de força na academia, trabalho sem impacto na piscina, fisioterapia, psicologia, fisiologia… Estou sempre por lá. Assim como os Jogos Olímpicos são intensos, os Paralímpicos também são.

  • G |Apesar de ter ficado de fora das últimas Paralimpíadas, você retorna este ano após medalhas de bronze no Grand Prix de Dubai e no Mundial de Atletismo em Kobe. Está ansiosa para voltar à competição? Quais as suas expectativas?

    VH |

    Estou muito animada, muito feliz. A última vez que tinha ganhado medalha no Mundial foi em 2013, então fazem 11 anos. Agora tirei um peso enorme das minhas costas. Meus treinadores e meus pais sempre me deram todo o suporte possível. Quando não fui para Tóquio-2021, virei comentarista e acabei gostando muito dessa área. Uma coisa que tenho certeza é de que serão os Jogos mais fortes de todos os tempos, não só no atletismo, mas em todas as modalidades. No atletismo vão cair vários recordes mundiais todos os dias, e recordes fortes, que devem ser marcas beirando uma possível medalha ou final nos Jogos Olímpicos. Claro que tenho que ficar mais forte e veloz, entre muitas outras coisas. Mas estou treinando muito. Faço aniversário domingo, e meu treinador falou de começarmos uns exercícios extra no mesmo dia. Ou seja, o que era intenso ficou ainda mais.

  • G |Os Jogos Paralímpicos ganharam mais cobertura nas últimas décadas, mas ainda falta uma maior visibilidade?

    VH |

    Que as Paralimpíadas têm mais visibilidade, mídia e são vistas de forma melhor e menos capacitista do que antigamente é verdade. Temos mais patrocinadores e apoio. Se você não tem nada e passa a ter um, é uma melhora de 100%, mas não significa que está no patamar ideal. Ainda somos vistos de maneira muito capacitista. Não existe briga entre olímpico e paralímpico, mas a gente precisa fazer a comparação. Os Jogos Olímpicos de Paris têm uma propaganda maravilhosa, de alguns minutos, que arrepia. Os Paralímpicos nada. Já se fala em mais de 50 canais online mostrando as Olimpíadas, programação especial na TV aberta. Se os Paralímpicos conseguirem cinco canais da TV paga mais alguma coisa na aberta, já vai ser incrível. Muito patrocinador de atletas olímpicos começou a patrocinar os paralímpicos só agora, recebendo de três a cinco vezes menos. É um problema do capacitismo em toda a cadeia, que ainda olha o movimento paralímpico como coitadinho, aquela história de superação. Pode existir a superação — eu prefiro resiliência, coragem —, mas quando você está dentro de uma pista, de uma piscina ou quadra, não existe deficiência, e sim muito treinamento para fazer a melhor campanha da história. Em relação a mídia, patrocinadores e parceiros, estamos muito distantes do que é possível. Em grandes corridas de rua no país, atletas cadeirantes ou com deficiência visual não sobem no pódio nem recebem premiação. Se o capacitismo existe todo dia, não é nos Jogos que vai mudar.

  • G |Você se tornou uma das principais vozes da luta contra o capacitismo no esporte. Ainda tem muito essa visão do atleta paralímpico como uma “pessoa especial” ou uma “história de superação”? Por que essas falas e visões ainda perduram?

    VH |

    A informação não chega para todo mundo da mesma forma. Quando o Google só dá informações erradas sobre a pessoa com deficiência, como vou cobrar falarem certo? Não adianta vir com duas facas em cada mão ou que nem Rocky Balboa, batendo em todo mundo. Então preferi ensinar. Óbvio que, depois disso, fico um pouquinho mais dura, porque sei que já ensinei. Fui muito criticada por pessoas que diziam que eu precisava ser mais dura. Eu discordava e ainda discordo. Mas fui muito elogiada por outras, porque profissionais de muitos veículos de imprensa vieram me procurar para entender o que era certo. A partir disso, os erros diminuíram absurdamente. A pessoa não vai usar termos errados porque quer ser chata, é porque realmente não sabe. Então é mais fácil ensinar de forma bem-humorada. Olha do seu lado. Tem pessoas com deficiência, pessoas pretas, mulheres? Senão, por que não tem? Por incrível que pareça, quando disse tudo aquilo, ajudei muitas famílias atípicas que falavam coisas capacitistas. Elas entenderam que não dava para ser assim.

  • G |Você experimentou vários esportes na juventude e quase se profissionalizou no judô. Como esse conhecimento te ajudou? E lembra da primeira vez em que correu?

    VH |

    Eu fazia várias modalidades. Não era ruim, era péssima na maioria. Minha mãe chegou a parar uma competição achando que eu estava me afogando, mas estava só nadando cachorrinho. No basquete, eu era a melhor líder de torcida porque nunca saía do banco. Ter me encontrado no judô foi uma grande loucura. Era uma turma que só tinha eu e mais uma mulher entre homens adultos. Eu vivia me machucando, mas era ali que queria ficar. De tanto me dedicar, treinar, insistir, fui melhorando muito. Quando ia lutar contra meninas da minha idade, eu já estava na frente. Tive que parar por conta de uma cirurgia na cabeça. Me vi sem saber para onde ir. Só poderia seguir modalidades sem impacto do quadril para cima. Sobrou tênis de mesa, natação e atletismo, a única modalidade que nunca tinha feito. Meu pai me viu muito triste e me inscreveu num festival de atletismo. Eu não queria ir porque achava chato e porque era domingo, 7h da manhã. Fiquei lá atrás, tomei um couro absurdo. Mas a sensação me marca até hoje. Quando terminei a corrida, senti que o mundo tinha parado e, ao mesmo tempo, tudo acontecia absurdamente rápido. Falei: quero ser a melhor corredora da minha cidade, de Santo André. Tive problemas de saúde, ia e voltava, mas insisti no atletismo e continuava pensando nele. O esporte me salvou várias vezes. Por isso luto tanto pelo esporte como direito e não privilégio.

  • G |Você sofreu bastante com questões de saúde. Como isso impactou sua carreira e também a nível pessoal? Chegou a pensar em parar?

    VH |

    Pensei algumas vezes em desistir, mas nunca coloquei para frente. Um atleta que fala que nunca pensou em desistir, na minha opinião, está mentindo. É uma rotina extremamente estressante, intensa e desgastante. Às vezes a gente pensa em desistir até no meio do treino. Não é normal vomitar, desmaiar, levar seu corpo além do limite, cair de dor e voltar todo santo dia. Quando vieram os tumores na cabeça, no intestino grosso, a radioterapia e a radiocirurgia, tudo foi muito mais difícil porque eu tinha que começar quase do zero. Quando fiz as cirurgias em 2017 e 2018, precisei reaprender a andar. Me perguntava por que estava fazendo aquilo. Ficava muito cansada, enjoada, então por que continuava? Nunca consegui responder essa pergunta, eu só ia. Ano passado virei para meu treinador e meus pais e falei: acho que não dá mais. Meus pais ficaram comigo independente da minha decisão, porque tanto ficar quanto sair seria muito difícil. Mas quem me fez não desistir foi meu treinador. Ele contava histórias dele e de outros atletas, mas eu estava decidida. Até que um dia me falou que gostava muito de tocar violão, mas sentia que, por mais que treinasse, não conseguia melhorar. Eu disse que, se ele gostava, devia continuar. Então me perguntou: você gosta de correr? Gosto. Aí ele disse que eu já tinha a minha resposta.

  • G |Qual o significado da corrida na sua vida? Ele mudou ao longo do tempo?

    VH |

    Diversão. Eu dou risada quando estou correndo. Não todos os dias, mas, se não corro, quando dou por mim, estou na pista vendo os outros correrem. Em determinado momento, entre 2016 e 2019, ela se tornou uma obrigação. Eu precisava ganhar. Foi o único período em que correr teve uma conotação ruim. O esporte não pede para você ganhar ou perder, mas que esteja com ele. Ninguém começa para ganhar, mas porque é divertido. Então, tirando essa época chata, a corrida sempre foi diversão, o que só se intensificou, e minha salvação também.

  • G |Já sentiu também algum preconceito por ser atleta ou comentarista mulher? Ainda há muito machismo no esporte?

    VH |

    O esporte no Brasil sempre foi extremamente machista. Se a gente não mudar nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, os de maior equidade da história, vou ficar muito decepcionada. Todo mundo fala do homem mais rápido, mais resistente, mais forte do mundo. Já a mulher é ensinada desde sempre a ser mãe, a cuidar de casa, cozinhar. Os homens podem correr, saltar, se sujar e está tudo certo, porque têm que se divertir. Já melhorou muito. Em 2016, quando conquistei minha medalha de prata nos Jogos Paralímpicos, a primeira pergunta que fizeram foi se meu pai e namorado da época não ficaram bravos ao ver o tamanho do meu short. Hoje as mulheres no esporte têm mais voz. Ainda somos questionadas sobre nosso corpo, cabelo, o que estamos vestindo, onde estão nossos filhos, mas muito menos. As pessoas já têm noção de que isso é bizarro. Me alegrou que, quando mostraram os uniformes femininos olímpicos e paralímpicos, as mulheres começaram a questionar. Vai caber minha perna num short desse tamanho? Vocês pensaram na gente, falaram conosco? A gente tem muito o que avançar. Na minha ONG, nossa maior dificuldade é ter mulheres e meninas. Espero um dia poder entrar numa competição e ver mulheres na mesma quantidade de baterias e modalidades que homens.

  • G |Como tem sido seu trabalho com a equipe Naurú?

    VH |

    O Maceió, ou Antônio, que está comigo no projeto, é um dos melhores treinadores de natação de todos os tempos. A Naurú nasceu para oferecer esporte de qualidade de graça para todas as pessoas, com os mais diversos corpos e idades. Somos a única instituição no mundo hoje — e espero que em breve tenhamos muitas outras — com uma metodologia em que pessoas com e sem deficiência treinam juntas. Isso promove a inclusão total. O Maceió começou por acreditar num mundo melhor com o esporte, e eu porque sempre me questionei: se o esporte me salvou, por que não salva milhares de outras pessoas? É porque ele não chegava. O que era para ser tratado como direito passou a ser privilégio. Dá dor de cabeça, mas tenho muito orgulho. Hoje a gente atende pessoas a partir de seis anos, passando por todas as manifestações esportivas: esporte de participação, iniciação esportiva, educacional, alto e altíssimo rendimento. Temos atletismo, natação, bocha, esgrima e esportes de areia. São mais de 400 atendidos, e vamos aumentar. Nossa equipe vem muito forte para os Jogos Paralímpicos de Paris, tanto no atletismo quanto na natação, com muitos que ainda vão ser medalhistas.

  • G |Você integrou em 2022 o Grupo Técnico de Esporte do Gabinete de Transição Governamental. Acha importante o atleta ter esse olhar para política e gestão pública no esporte?

    VH |

    Com muito orgulho fomos responsáveis pela recriação do Ministério do Esporte, que tinha sido extinto no governo anterior. Várias pesquisas mostram que esporte é política pública. A cada um real investido, se economizam quase três em saúde. É a primeira vez na história que a gente tem uma Secretaria Nacional do Paradesporto. Para mim foi absurdamente importante. É difícil falar em conciliar esporte e estudos. Ter que treinar das 7h às 18h e ainda chegar extremamente cansado de uma faculdade parece algo impossível. Mas os atletas têm que pensar nesse futuro. A gente precisa estar na política, nos comitês, nas federações, instituições e empresas. Sua vida não termina quando você para no esporte. O esporte é uma passagem que pode te dar caminhos maravilhosos, mas você precisa estudar para isso. Consegui aprender com presidentes, vice-presidentes, prefeitos, vereadores e funcionários do movimento esportivo. Tenho muito orgulho disso.

  • G |Hoje ainda falta apoio financeiro para o atleta? Há uma grande discrepância nos patrocínios?

    VH |

    Acho injusto dizer que não tem [apoio], porque melhorou, mas também não é real dizer que tem, se não está da forma que deveria. Hoje existe a Bolsa Pódio, que vale de R$ 5 a R$ 15 mil para atletas muito bem nos rankings mundiais. Temos o Time São Paulo, Rio, no Norte, Nordeste e Sul. São bolsas altas, que auxiliam muito nessa caminhada. Mas o olímpico tem melhorado muito, e o paralímpico não segue. Não consigo sorrir para empresas que pagam R$ 15 mil para atletas olímpicos ou com chance de ir a uma Olimpíada e R$ 3 mil para um paralímpico medalhista. Não abaixo a cabeça, porque é injusto. Sou medalhista, recordista, tenho um milhão de conquistas, e é esporte de alto rendimento da mesma forma. Mas sei de muitos atletas que acabam aceitando patrocínio de R$ 2 mil ou permuta por produto que não vale nem R$ 100. Não tem como isso acontecer hoje. Então, comparativamente, falta apoio e patrocínio. Mas temos todo um resguardo do Comitê Paralímpico Brasileiro, com bolsas estaduais e federais.

  • G |Você falou sobre a importância do estudo. Como tem sido equilibrar a faculdade de economia com os treinos?

    VH |

    Levei muitas broncas ontem dos meus pais e de um grande amigo para terminar a faculdade. Faltam três matérias. Todo quadrimestre falo que vou terminar, mas neste realmente espero. É muito difícil, pela quantidade de competições e treinos. De manhã e de tarde estou treinando e de noite chego atrasada na maioria das aulas. Não posso dormir tarde, porque preciso da quantidade certa de horas para estar descansada no dia seguinte. Espero depois dos Jogos não só ter conquistado medalhas e batido recordes, mas poder mostrar meu diploma. É um dos meus sonhos. Sonhava ser campeã mundial e me tornei. Sonhava ser campeã parapan-americana e me tornei tetra. Agora sonho ser campeã paralímpica e sei que existe muita possibilidade. E tenho como meta me formar, fazer meu mestrado e doutorado. Mas primeiro preciso terminar a graduação, porque não aguento mais levar bronca de seu José e dona Josenilda.

  • G |O que você diria para alguém que se inspira em você e quer seguir uma trajetória parecida com a sua no esporte?

    VH |

    O esporte é para todas as pessoas. Então primeiro se dê o direito de se divertir. Caso sonhe em ser atleta, saiba que vai ser uma jornada muito difícil e intensa. Com 20 anos, você vai viver sentimentos e sensações que muitos não vão experimentar na vida toda. Mas, vivendo uma Olimpíada, Paralimpíada ou não, você não vai se arrepender. O esporte te abraça e te dá todo o amor e carinho do mundo, além de experiências que nada nessa vida paga. E, se você for de Brasília, Paraná, Alagoas… me manda uma mensagem ou para o Time Naurú, para você ser um atleta conosco.