Livros e podcasts para pensar a intolerância religiosa

Na cultura ocidental, a morte é um assunto evitado. Quando olhamos pela perspectiva de outros povos, podemos ampliar a compreensão do sentido da vida e até ressignificar o fim da existência. É o que propõe o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro neste episódio do Café Filosófico, da TV Cultura. Exibido em 2010, o programa continua relevante, abordando como diferentes culturas lidam com o tema. Além disso, Castro aponta qual é o princípio dela para o ser humano: “A morte é fundamental para que a noção de acontecimentos se constitua”.

Apresentado por Fernando Sodake, o Eu Te Explico, do G1, já discutiu a ligação entre racismo e violência contra a fé. O episódio recebeu duas pessoas que exemplificam dados alarmantes sobre intolerância voltada para religiões de matriz africana: a vendedora Marneide de Sousa e a professora Sueli Santana. A primeira, atacada por uma mulher branca no metrô, teve de ouvir ofensas como “não existe dia de preto”. Já Santana foi apedrejada por alunos após abordar a cultura afro-brasileira em suas aulas. Também participou do episódio a advogada Maíra Vida, presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa da OAB.

Recentemente, o bilionário Elon Musk gerou repercussão após fazer um gesto associado ao nazismo durante o comício de apoio a Donald Trump. Mas esse não é um caso isolado: este episódio do Café da Manhã explica a alta de casos de antissemitismo e islamofobia depois do início da guerra Israel-Hamas. Em 2023, a Polícia Federal prendeu suspeitos de planejarem ataques terroristas contra prédios da comunidade judaica no Brasil. Já nos Estados Unidos, um menino de origem palestina Wadea Al Fayun, de 6 anos, foi esfaqueado dez dias após o começo do conflito. Na França, casas de judeus foram pichadas com a estrela de Davi, prática comum durante o nazismo. O programa conversa com Michel Gherman, professor do departamento de sociologia e do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ. Ele explica que o preconceito voltado a esses dois grupos tem a mesma raiz: uma percepção conspirativa da história e da realidade.

Convidado do podcast da Gama desta edição, o professor Sidnei Nogueira, autor de “Intolerância Religiosa” (Pólen Livros, 2020), já falou ao Papo Preto, podcast produzido pela Alma Preta em parceria com o UOL Plural. Ele defende a separação entre o conceito de intolerância religiosa e racismo religioso, já que o último tem maior expressividade no Brasil. Também relata sua experiência pessoal, convivendo com os ataques constantes às religiões de matrizes africanas.

Como o nome propõe, o livro “A Religião Mais Negra do Brasil” (Ultimato, 2018) analisa o fato de pessoas pretas e pardas escolherem principalmente as igrejas pentecostais como espaço de culto. O pastor e mestre em ciência da religião Marco Davi de Oliveira observa que essa vertente da crença evangélica se tornou uma opção para os excluídos, mas ainda mantém um sistema que afasta o negro dos espaços de decisão. Ele também discute o futuro dessa relação entre negros e a igreja e o por que ainda se demoniza a herança africana.

Disponível gratuitamente, o ebook “A Luta Por um Modo de Vida: Enfrentamento ao racismo religioso no Brasil” é originado de uma trabalho acadêmico vencedor do Prêmio Lélia Gonzalez de melhor tese. A obra de Rosiane Rodrigues de Almeida estuda as agressões aos adeptos das religiões de matrizes africanas e suas práticas, bem como as mobilizações que fortalecem a resistência e a luta por direitos.

Até os mais céticos precisam reconhecer a contribuição de diferentes cosmovisões para a ciência ou para “as ciências”, como chamam Vagner Rocha e Victor Silva, apresentadores do Podcast Axé das Plantas. Rocha, conhecido como Doutor Dendê, é de fato doutor em estudos étnicos e africanos e Silva é doutor em ciência animal nos trópicos. Já com uma primeira temporada de cinco episódios, o programa fala de ciência a partir das experiências em terreiros, territórios indígenas e comunidades quilombolas, que reconhecem a natureza como expressão do sagrado. Neste episódio, analisa a erva Ocimum gratissimum, a alfavaca, com relatos sobre a importância da planta na cura de diferentes males, como como verme e furúnculos.

A punição para quem pratica a intolerância religiosa se tornou mais severa em 2023, uma medida usada para frear o avanço desse tipo de crime. O episódio d’O Assunto discute os motivos por trás do aumento das ocorrências a partir de entrevista com Magali do Nascimento Cunha, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião, e babalorixá Adailton Moreira, responsável por um terreiro de candomblé. Entre as razões está um “casamento entre grupos religiosos e grupos políticos”, como define a especialista, relação que se fortaleceu a partir de 2010 e culminou na eleição de Bolsonaro em 2018.

“Intolerância Religiosa” (Edusp, 2015), de Vagner Gonçalves da Silva, investiga o impacto do crescimento das igrejas neopentecostais sobre o campo religioso afro-brasileiro. Com pontos de vista de diferentes pesquisadores, a coletânea reitera a necessidade de responsabilizar o Estado e a sociedade pela garantia da liberdade religiosa.

O Brasil, país mais católico do mundo, tem caminhado a passos largos para se tornar majoritariamente protestante. É esse fenômeno do crescimento das igrejas evangélicas que a jornalista Anna Virginia Balloussier estuda em “O Púlpito: Fé, poder e o Brasil dos evangélicos” (Todavia, 2024). O sucesso de líderes como Edir Macedo e Silas Malafaia, a abordagem de temas morais e a formação de uma bancada evangélica são alguns dos pontos investigados pela autora a partir de entrevistas.