Trecho de Livro: Desejo, de Gillian Anderson — Gama Revista
E sua vida sexual, hein?

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Trecho de livro

Gillian Anderson revela os desejos sexuais femininos

Livro organizado por atriz de “Sex Education” e “Arquivo X” reúne cartas com fantasias e segredos sexuais de mulheres do mundo todo

Leonardo Neiva 08 de Setembro de 2024

Gillian Anderson revela os desejos sexuais femininos

Leonardo Neiva 08 de Setembro de 2024
Imagem retirada da capa do livro "Desejo" (Vestígio, 2024)

Livro organizado por atriz de “Sex Education” e “Arquivo X” reúne cartas com fantasias e segredos sexuais de mulheres do mundo todo

Gillian Anderson pode não ser uma sexóloga de renome, mas a atriz interpreta uma de forma tão convincente na série “Sex Education” (2019-2023) que as linhas que separarm realidade e ficção acabam ficando meio borradas. Mas se Anderson não é na vida real como sua personagem Dra. Jean Millburn — muito menos uma detetive especialista em casos paranormais, a exemplo da Dana Scully de “Arquivo X” (1993-2018), série que a colocou em evidência —, ela demonstra ter grande interesse pelo tema, assim como boa parte da humanidade.

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O livro “Desejo” (Vestígio, 2024) surgiu de um projeto chamado “Querida Gillian”, em que a atriz convidou mulheres do mundo todo a compartilharem fantasias e sentimentos em relação ao sexo que raramente expressavam em voz alta. O resultado foram quase mil páginas de textos vindos da Colômbia à China, da Nova Zelândia à Nigéria. Uma coleção de cartas expressando não apenas os desejos sexuais mais íntimos, mas também histórias pessoais dolorosas, declarações divertidas, frustrações, sonhos indizíveis com celebridades e segredos que, escritos de forma anônima, muitas dessas mulheres guardavam consigo havia um bom tempo.

 Foto de Sasha Gusov

“Havia cartas de meninas adolescentes que ainda não tinham tido sua primeira relação sexual; de mulheres solteiras presas num ciclo interminável de encontros on-line e arranjos fortuitos; de mulheres exaustas com filhos pequenos; de mulheres casadas ou com parceiros de longa data frustradas com a mesmice; de mulheres transgênero e pessoas que se identificam como não binárias”, revela Anderson na introdução. Um dos fatos mais surpreendentes, de acordo com a atriz, é que ainda hoje tantas mulheres sintam necessidade de ocultar esses pensamentos, prova da repressão que ainda existe sobre a sexualidade e o prazer femininos. Para elas, diz, esse foi um processo “simultaneamente libertador e ilícito”.

“Sou atriz, e, portanto, não vou analisar estas cartas nem oferecer explicações sobre feminilidade ou sexo”, continua Anderson, responsável pela seleção e organização dos textos em livro, com tradução de Ibraíma Dafonte Tavares. “O que posso fazer, caras leitoras, é apresentar estas cartas extraordinárias para que vocês as saboreiem sem filtro.” A seguir, a leitora ou leitor da Gama também pode saborear duas das cartas anônimas de maior destaque dentro da obra.


“Tenho fantasias com meu supervisor no trabalho. Cuidamos de um parque, o que faz a minha mente correr solta. Executando trabalhos manuais, suando na trilha ao calor do verão, como poderia ser diferente? Eu o vejo carregar pranchas de madeira com facilidade e imagino como seria fácil para ele me colocar na posição que quisesse. Ele poderia me puxar para perto ou me virar com um movimento suave. O suor brilha em seus braços, e eu o imagino em cima de mim. Desejo segurar aqueles braços com toda a força, enquanto ele me faz esquecer quem sou. Suas mãos são fortes, firmes, afáveis e calejadas. Observo com atenção enquanto conserta um pequeno cano. Ele coloca um dedo dentro para sentir se há alguma sujeira, passa a mão por fora para limpar a rosca. É como se o universo estivesse fazendo uma brincadeira de mau gosto comigo. Por dentro, estou gritando: “Em mim! Por favor, POR FAVOR, em mim!!”. Seus dedos trabalham com facilidade, como se já tivessem feito aquilo um milhão de vezes. Desejo que esses mesmos dedos explorem cuidadosamente cada centímetro do meu corpo. Sei que não precisaria dizer a ele o que fazer para me deixar feliz. Sinto seu cheiro inebriante quando ele passa por mim ou quando o vento muda de direção. Uma combinação de feromônios naturais, suor e um pouco de colônia. Desejo enterrar meu rosto em seu peito, absorver o máximo que puder. Só o cheiro dele já me excita. O que eu não faria para ter sua camiseta depois de um longo dia de verão!

Não consigo parar de olhar para a boca dele… e fantasio que me beija, desce pelo meu corpo, chupa meus mamilos, aumentando a expectativa de que vai me devorar. Imagino seu rosto entre minhas pernas, imagino meus dedos passando por seu cabelo tão perfeito. Ele é sempre muito gentil. Seus lábios mal roçam nos meus enquanto sinto sua respiração em minhas coxas. Ele vai me provocando até sua língua encontrar todos os pontos perfeitos. Desejo sentir meu gosto em seus lábios. Sua voz é baixa, suave e reconfortante. Desejo ouvir tudo: os sussurros em meu ouvido, os gemidos de prazer, os ruídos que ele faz quando goza. Desejo ouvi-lo dizer que sou gostosa. Desejo ouvi-lo dizer o que quer e depois me chamar de boa menina. Suas pernas são fortes, e me pego olhando para suas panturrilhas na trilha. Todo o seu corpo é perfeitamente proporcional, não há nada fora do lugar. Desejo conhecer cada pedaço dele intimamente. Um dia, ele puxa meu rabo de cavalo de brincadeira, enquanto caminha atrás de mim. Meu rosto fica vermelho, meu corpo formiga e minha mente explode com novas fantasias. Desejo que ele me domine completamente. Que me ponha de joelhos, agarre meu cabelo e faça comigo o que quiser. Fantasio que ele se aproveita do fato de ser meu chefe. Que me diz para ficar um pouco depois do expediente porque quer me mostrar alguma coisa. Depois que todos vão embora, ele tranca a porta do escritório. Ele beija meu pescoço e começa a desabotoar minha camisa. Desejo que me pegue e me ponha em cima da mesa. Tentamos freneticamente tirar o resto das roupas enquanto, afinal, nos beijamos e tocamos o corpo um do outro por inteiro. Enquanto ele me fode, eu o enlaço com as pernas, beijo seu pescoço e digo quanto o desejo. Ele me diz o mesmo. Quando terminamos, vestimos o uniforme e ele volta ao papel de supervisor, mandando-me limpar a bagunça que fiz em sua mesa.

O que eu não faria para ter sua camiseta depois de um longo dia de verão!

Nossos encontros se tornam regulares e são sempre tão excitantes quanto o primeiro. Desejo que ele me foda assim que eu chego ao trabalho, que goze dentro de mim. Desejo que me lance olhares de cumplicidade ao longo do dia, quando sai de dentro de mim. Desejo o sexo bruto, suado, rápido, desesperado, e também o amor lento, gentil e suave. Desejo dizer a ele que o amo enquanto ele ainda está dentro de mim e sentir uma conexão como nunca experimentei antes. Desejo me sentir bonita e desejada. Desejo que ele me amarre, me incite incansavelmente, me faça implorar por ele e depois acaricie meu cabelo e me abrace até que eu adormeça com a cabeça em seu peito. Desejo fazer experimentos com ele. Sonho em experimentar coisas novas que nem sequer imaginei. Também desejo realizar as fantasias dele. Desejo que me guie, que mostre áreas do meu corpo que jamais imaginei
que pudessem me proporcionar tanto prazer.

Quando fantasio sobre sexo, desejo esquecer o mundo real naquele momento e pensar apenas nele. Desejo ser egoísta pelo menos uma vez e aproveitar o prazer físico que ele me proporciona, sem me preocupar com mais nada. Desejo que no mundo haja apenas eu e ele, juntos num momento íntimo e apaixonado.”

[Grupo étnico, nacionalidade: Americana • Religião: Satanista • Renda anual: <R$ 90.000 Orientação sexual: Bissexual ou pansexual• Status de relacionamento: Casada ou em um relacionamento civil • Filhos: Não]

Na minha fantasia, os vizinhos convidam a mim e a meu marido para visitá-los. Não os nossos vizinhos de verdade, mas vizinhos de fantasia. Tomamos um drinque e comemos alguns petiscos. Então eles dizem que gostariam de fazer um ménage à trois comigo. Estou disposta, e começo a beijar a mulher enquanto o marido nos observa. Meu marido parece ter ido embora, então começo a transar com a mulher e depois com o marido. Nunca fiz um ménage à trois de verdade e duvido que algum dia o faça, pois estou na casa dos 70 anos. Mas, bem, fantasia é outra coisa.

[Grupo étnico, nacionalidade: Branca, australiana • Religião: Judia • Renda anual: >R$ 600.000 Orientação sexual: Heterossexual• Status de relacionamento: Casada ou em um relacionamento civil • Filhos: Sim]

Acho muito difícil entender quais são, de fato, minhas fantasias. O conteúdo da pornografia é tão voltado para os homens, e esperam tanto de nós, mulheres, que é muito difícil para mim distinguir entre o que realmente me excita e como acho que devo agir. Penso que minha fantasia número um é que alguém me faça sentir muito desejada. Desejo ser completamente arrebatada, desejo que a pessoa que estiver comigo desfrute meu corpo como se fosse uma droga, que me faça sentir como se meu corpo nu bastasse para incendiá-la. Não porque é mais um corpo nu, mas porque sou eu e o meu corpo. Sentir-me assim desejável e única e ouvir isso de outra pessoa faz com que eu me sinta desejável exatamente
por ser quem sou e deixe todas as inseguranças de lado. Quanto mais desejável me sinto para a pessoa que está na cama comigo, mais excitada eu fico.

[Grupo étnico, nacionalidade: Branca, americana • Religião: Judia • Renda anual: <R$ 600.000 Orientação sexual: Bissexual ou pansexual • Status de relacionamento: Convi-
vente • Filhos: Não]

“Tenho 18 anos (quase 19) e até hoje quase não beijei, que dirá transar! Não é que eu não queira. Pelo contrário, posso dizer que penso em sexo com muita frequência. O sexo ocupa bastante espaço em meu
cérebro. Me masturbo desde os 9 ou 10 anos — antes mesmo de saber o que significava a palavra masturbação e muito antes de saber o que era um orgasmo. Só sabia que a sensação era boa.

Foi somente quando eu tinha quase 12 anos que reconheci que desejava mulheres. Estava sentada no banco do passageiro do carro, ao lado de minha mãe, a caminho de compromissos na cidade. O rádio estava ligado e tocava a música “Wild Horses”, dos Rolling Stones. Sei que parece estranho, mas pensei em mim mais velha, na cama, beijando outra mulher. Eu me deitava todas as noites e não conseguia dormir sem antes pensar em ser acariciada, beijada e despida de todas as minhas roupas por uma mulher.

Sempre quis ser fodida numa cabine de projeção

Hoje tenho a fantasia de ser dominada por essa mulher que inventei. Ela tem a pele macia e bronzeada, cabelo castanho encaracolado e curto. Penso nela me levando para uma antiga cabine de projeção. Sempre quis ser fodida numa cabine de projeção. Entramos quando ela vai exibir o filme (sim, sei que a profissão de projecionista não existe mais). Desejo que ela me domine. Desejo que saiba tudo sobre mim, para que me renda completamente. Ela sabe que sou sua. Uma cena de sexo de um filme antigo está sendo exibida. (Eu, tu, ele, ela? Corações desertos?) Estou usando meu vestido amarelo favorito. Estou em pé, observando pelo vidro. A cena começa. E ela vem por trás. Tira meu cabelo do caminho, beija minha nuca, alcança minha calcinha. Me chama de sua. Eu gemo e suspiro um pouco, viro a cabeça para poder beijar sua boca. Sua língua está no meu rosto. Ela me experimenta. Estou tão molhada que encharquei meu vestido. Ela me vira para que fiquemos de frente uma para a outra. Estou encostada na parede. Ela se ajoelha e se aproxima. “Vem, amor, quero provar sua fruta.” Eu obedeço. Ela abre minhas pernas e levanta meu vestido, mas não vai direto ao meu sexo nem tira minha calcinha. Primeiro, me estimula um pouco. Beija a parte interna das minhas coxas, morde-as. Passa as mãos pelas pequenas estrias em minhas coxas e bunda. Digo que me sinto um pouco constrangida por elas, mas ela responde que adora cada centímetro do meu corpo. Tira minha calcinha e passa a mão pela faixa de pelos grossos. Encontra meu clitóris e o chupa com muita delicadeza. Inclino a cabeça para trás. É bom demais. Ela quase o morde. Então enfia a língua na minha boceta e agarra a minha bunda. Descobre meus pontos mais sensíveis. Gozo em sua boca. Por fim, ela se levanta e me beija outra vez. “Está vendo como você é gostosa? Está vendo por que não consigo resistir a você?” Enfia os dedos em mim. Enlaço-a com as pernas. Ela encontra o melhor ponto. E pela primeira vez gozo por dentro. (Nunca tive orgasmo com penetração, mas sempre quis ter.) Ela me olha fixamente. Eu a seguro com força. E ela não me solta. Isso é o mais importante. Ela diz que não vai me soltar nunca mais. Recupero o fôlego por um minuto. Ela beija meus seios, meus mamilos. Diz que sou macia. Agora está se esfregando na minha coxa, mas, antes que eu perceba, já a prensei contra a parede. Me ajoelho, assim como ela fez. Solto seu cinto e coloco minha boca em seu sexo. Adoro o gosto dela (não faço ideia do gosto das mulheres, mas imagino que seja maravilhoso). Meu Deus! Ela sabe que não sou muito experiente e por isso me guia e me elogia quando acho os pontos certos. Eu a acaricio com as mãos. Está quente por dentro, molhada como eu.

Adoro o gosto dela (não faço ideia do gosto das mulheres, mas imagino que seja maravilhoso)

Não sei o que mais poderíamos fazer. Penso em deixá-la fazer o que quiser comigo. Também penso que ela podia usar uma cinta peniana. Deslizo meu corpo sobre o dela; ela segura meus quadris e beija meus seios. Desejo que me descubra. Desejo conhecer os pequenos universos inexplorados dentro de mim. Não me importo se não for o sexo dela. Ainda é ela. Às vezes imagino que sou espancada e que depois ela me fode com a cinta peniana, enfiando-a dentro de mim até eu gritar de prazer.

O problema dessa mulher é que, até onde sei, ela não é real. Fica comigo apenas na minha cabeça, à noite, até eu cair no sono. E está lá de manhã. Ela é tudo que sonhei, tudo que eu poderia querer de uma pessoa. É isso que eu desejo. Desejo que ela beije meus ombros pela manhã. Desejo que me leve para dançar toda sexta-feira à noite. Desejo preparar seu café com leite pela manhã. Desejo que ela me faça rir a ponto de doer. Desejo que me abrace quando eu chorar. Fantasio com muitas coisas. Metade da minha vida foi vivida dentro da minha cabeça. Mas essa mulher invisível é a pessoa com quem mais fantasio. Só queria saber seu nome.”

[Grupo étnico, nacionalidade: Mestiça/brasileiro-americana • Religião: Agnóstica? Orientação sexual: Lésbica • Status de relacionamento: Solteira • Filhos: Não]

Produto

  • Desejos
  • Gillian Anderson (trad. Ibraíma Dafonte Tavares)
  • Vestígio
  • 336 páginas

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