Sem tabu, com muito diálogo: especialistas em sexualidade ensinam a conversar com o parceiro ou a parceira sobre o desejo de testar um sex toy nas práticas sexuais do casal
Acrescentar um terceiro elemento a uma relação a dois longeva pode causar medo, receio, ressentimento, ciúme e um certo estranhamento. Por outro lado, a entrada desse novo integrante é capaz de reavivar o tesão, abrir novas possibilidades para a diversificação do sexo e ampliar o prazer e a liberdade da vivência sexual do casal.
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Não, não estamos falando da formação de um trisal, mas da inserção de um vibrador nas práticas eróticas de homens e mulheres em um relacionamento amoroso. Tomar essa atitude nem sempre é fácil — tabus e preconceitos ainda estão aí aos montes —, porém, manter um diálogo aberto com quem se divide a cama, é essencial, além de saudável.
A Gama, especialistas em sexualidade, ginecologia e psicologia ensinam como conversar com o parceiro ou a parceira sobre o desejo de testar um sex toy e levá-lo para junto das práticas sexuais da dupla.
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Introduza o assunto aos poucos. Fazer uso de vibradores tem a ver com a descoberta de novas possibilidades –
Sentir vontade de experimentar coisas novas no sexo, como um brinquedo íntimo, é natural. Mas, para muita gente, verbalizar desejos é difícil, não importa quanto tempo estejam em uma relação amorosa. Em alguns casos, a pessoa até se sente confortável para conversar e se expor, no entanto, não sabe como o outro vai reagir à proposta de inserir um vibrador na rotina sexual do casal — esses aparelhinhos vibratórios que promovem prazer, embora bastante populares, ainda são alvo de tabu e preconceitos. Portanto, com esses cenários em vista, trazer o tema aos poucos, pelas beiradas, é a melhor saída — ou entrada. Marcela Mc Gowan, médica ginecologista, sexóloga e CEO da Magix, marca de produtos de sexual care, comenta que as redes sociais são um poderoso mecanismo para abrir um diálogo. “Sempre falo para as pessoas começarem a conversar sobre o assunto antes de conversar sobre o assunto na relação, encaminhando um post, por exemplo, e fazendo um comentário a respeito.” De acordo com Michelle Sampaio, psicóloga, especialista em sexualidade humana pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a melhor forma de quebrar esse tabu é por meio da informação. “Para quem tem um pouco mais de vergonha ou receio, o conselho que eu dou é ir pelas beiradinhas, enviando o link de uma matéria sobre sex toys, pegando o gancho quando um vibrador aparecer na cena de filmes e séries, o que é cada vez mais comum”, sugere. Segundo ela, a apreensão de alguns é que o tema pode levar a uma DR sobre uma possível insatisfação no sexo. “Fazer uso de vibradores não tem nada a ver com não gostar mais da transa com aquela parceria. Tem a ver com diversificação e com a descoberta de novas possibilidades.” A psiquiatra Carmita Abdo, professora e coordenadora do Programa de Estudos da Sexualidade da USP e autora do livro “Sexo no Cotidiano” (Contexto, 2021), reforça que a utilização desses utensílios sexuais pela dupla precisa ser conversada, “como toda e qualquer atividade a dois tem que ser consensual para que seja saudável e para que um não esteja submetendo o outro a algo que não queira”, pontua. -
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Teste o sex toy primeiro em você –
Antes de sugerir ao parceiro ou à parceira a entrada de um terceiro elemento — no caso, um vibrador — na relação, o ideal é testá-lo primeiro em você, que está com vontade de acrescentar um brinquedinho à vida sexual. Em um momento tranquilo, pegue o dispositivo erótico e, devagar, leve aos mamilos, ao clitóris, à virilha, ao pênis, ou ao local que desejar, observando estímulos e sensações. Vá se familiarizando com o objeto. “É importante para a pessoa entender como o próprio corpo vai reagir e qual é o melhor jeito de posicionar aquele sex toy. Cada um responde de um jeito”, diz a sexóloga Michelle Sampaio. Depois do test drive, mas numa etapa anterior à transa, de fato, deixe o seu par também ter a própria experiência, sozinho. Dica fundamental: os vibradores podem ser compartilhados, porém não sem antes passarem por uma higienização — alguns modelos suportam uma lavagem com água corrente e sabonete neutro, já outros devem ser higienizados com álcool. Para casais que ainda não trocaram exames preventivos, a indicação é o uso de preservativo entre uma utilização do utensílio e outra para evitar infecções sexualmente transmissíveis. -
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Explique que o vibrador não substitui nada nem ninguém na relação –
Em muitos casos, em relações heterossexuais, quando a mulher demonstra vontade de inserir um vibrador nas relações do casal, o homem se ressente por achar que o pênis será substituído pelo sex toy ou então pensa que não está mais dando prazer à companheira. Já em casais com duas mulheres ou de pessoas com vulva, também pode existir certa resistência de uma das parceiras ao acreditar que o uso de máquinas eróticas de penetração signifique que a outra parte sinta falta do falo. Todas essas situações podem ser desmistificadas, conforme explicam as especialistas a Gama. “Deixe evidente que o acessório erótico não tem o objetivo de substituir a parceria, mas sim melhorar e ampliar o prazer e a liberdade da vivência sexual do casal”, sinaliza Michelle Sampaio. A ginecologista e empresária Marcela Mc Gowan menciona que atualmente é difícil encontrar aparelhos que sejam réplicas penianas, como os dildos de antigamente. No geral, ela conta, os vibradores femininos têm formato cilíndrico porque são anatômicos, próprios para o canal vaginal. “Costumo dizer para as meninas desmistificarem a ideia de que se o recurso da penetração for o escolhido significa que falta alguma coisa no relacionamento. Pelo contrário, essa é só uma maneira de exercer uma prática sexual, há outras formas: com os dedos, com o sex toy, com um pênis.” Sampaio vai além e revela que mesmo homens hetero podem gostar, sim, da estimulação por penetração. “O ânus é uma região erógena e ele não tem a ver com orientação sexual”, afirma. A doutora Carmita Abdo frisa, entretanto, que usar excessivamente o vibrador pode, com o tempo, torná-lo um item imprescindível para o sexo no relacionamento, aprisionando e restringindo outras práticas. “O melhor uso do vibrador é quando ele se torna uma possibilidade extra, é quando ele traz mais prazer e diversifica a forma como se obtém o prazer”, conclui. -
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Faça um convite para uma visita ao sex shop a dois –
Se você tem vontade de experimentar brinquedinhos vibratórios, seja por curiosidade, tesão puro e simples ou como uma tática para dar aquela apimentada na relação de anos que está um pouco morna, convide a sua dupla de cama para um passeio no sex shop. “Pesquisar juntos um modelo, entender o que seria legal para ambos e quais são as curiosidades de um e de outro é interessante”, aconselha a psicóloga e sexóloga Michelle Sampaio. Marcela Mc Gowan concorda: “É um passo da jornada que pode deixá-la mais tranquila, além de dar a sensação de que trazer algo diferente para a relação significa que o casal está fazendo isso pelos dois, e não substituindo nada dentro do relacionamento.” Tem vergonha de ir a um espaço erótico fisicamente? Não tem problema. Hoje em dia há várias opções de lojas do tipo online — e as encomendas chegam à sua casa de forma discreta, bem embaladas. Fica a dica (mais uma). -
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Comece com um vibrador externo, como o bullet –
Para estrear na seara dos vibradores, não é preciso investir em um aparelho de funcionamento complexo, cheio de funções. Prefira um exemplar simples e fácil de usar, sem segredos. A médica Marcela Mc Gowan indica o clássico e versátil bullet que, apesar da aparência frágil e do tamanho diminuto, é potente e conhecido por dar conta do recado com louvor. Ela recomenda os bullets para iniciantes por serem modelos externos, de estimulação clitoriana. “Além disso, o clitóris é um dos lugares onde temos mais falta de estímulo.” Michelle Sampaio também cita o bullet como um bom começo para o casal interessado nesse “trisal” com vibração elétrica. “Homens podem segurar o bullet ao se masturbar ou, durante a masturbação, enquanto uma mão movimenta o pênis, a outra segura o vibrador no testículo ou no períneo. É uma exploração mais difusa da genitália”, completa a sexóloga.
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