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DepoimentoA beleza (não) dói
Ou pelo menos não deveria. A influenciadora e empresária Amanda Djehdian Hoffmann conta sobre seu processo de explante, e a libertação de uma beleza que a adoecia
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Ou pelo menos não deveria. A influenciadora e empresária Amanda Djehdian Hoffmann conta sobre seu processo de explante, e a libertação de uma beleza que a adoecia
No ranking de países com mais cirurgias plásticas realizadas anualmente, o Brasil está atrás somente dos Estados Unidos. E a cirurgia para o implante de silicone, segundo a SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas), é a mais procurada pelas brasileiras. Na contramão desses dados, um novo movimento parece surgir entre as mulheres: o do explante, procedimento que retira as próteses mamárias. Se a beleza tem um preço, com este elas decidiram não arcar mais.
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Mesmo que ainda não reconhecida pela OMS, a doença do silicone é uma realidade para inúmeras mulheres. A empresária e influenciadora Amanda Djehdian Hoffmann é uma delas. Depois de mais de uma década com implantes, no ano passado se viu livre deles — e dos tantos sintomas que vinham no pacote, que variavam de dores intensas nos seios, fadiga e dores de cabeça. A dúvida se o silicone é de fato seguro ou não ainda divide especialistas. Entretanto, um estudo recente do MIT apontou relação das próteses do material com uma doença autoimune.
Prova viva de que os implantes são inimigos da saúde e da autoestima, Amanda conta a Gama sobre seu processo de explante, a nova relação com o corpo, a melhor qualidade de vida — e a libertação de um conceito de beleza que machucava, quando não deveria. A seguir, seu depoimento na íntegra.
Precisamos parar de banalizar a cirurgia plástica, não é como trocar de roupa. É sua vida em jogo
“Coloquei silicone em 2006, aos 20 anos. Nessa idade, com falta de maturidade e insegurança de sobra, comecei a me sentir feia, achava que ninguém ia gostar de mim, e cedi à pressão. Na época, coloquei 340 ml, o que é muito grande. Alguns meses depois, meu pai faleceu e fiquei nesse engorda e emagrece, meu peito ficou gigantesco, e me machucava, pesava, doía. Nem sei como aguentei tantos anos. No final de 2013, sofri um acidente de carro, e minha prótese girou, deu contratura [músculo faz a contração de maneira incorreta e não retorna ao seu estado normal de relaxamento], passei a sentir mais dores. A médica disse que eu deveria fazer uma mastopexia [procedimento cirúrgico para levantamento das mamas] e trocar o implante. Não sabia que eu tinha a opção de tirar e não colocar outro no lugar. Foi só em 2020, com 34 anos, que resolvi tirar o silicone.
Sempre fui muito decidida, muito prática. No final do ano passado, depois de um período de dores nos seios, algo que acontecia constantemente, comentei dos meus sintomas nas redes sociais. Eram dores horríveis, não dormia bem, não conseguia trabalhar, atrapalhava meu relacionamento. Foi quando me indicaram os perfis Perigos do Silicone (@perigos.do.silicone) e o Explante de Silicone (@explantedesilicone). Uma seguidora disse que minhas queixas coincidiam muito com os relatos que ela tinha lido. No mesmo dia, passei a madrugada inteira pesquisando, devorei toda e qualquer informação sobre o tema, e concluí: eu tinha de fato a doença do silicone. Menos de dois meses depois, retirei as próteses.
Passei a madrugada inteira pesquisando, devorei toda e qualquer informação sobre o tema, e concluí: eu tinha de fato a doença do silicone
Quando comecei a conversar com médicos sobre o explante, percebi a diferença de quando fui colocar as próteses. Das duas vezes que coloquei, eram mil maravilhas, nenhum médico falou sobre os riscos da cirurgia e do silicone dentro do corpo. E se você faz uma pesquisa breve, já descobre que desde 1970 os implantes são praticamente os mesmos, não evoluíram nada. Já era sabido tudo isso, só que a informação não chegou até as mulheres. Nunca me falaram, por exemplo, que poderia ter dificuldade de amamentar. Como, em pleno 2021, uma mulher não tem noção de tudo que um silicone pode causar? Só queria me ver livre dos meus. Disseram que talvez nem todos os meus sintomas iriam melhorar com o explante, mas mesmo que só 10% deles passasse, em vista do que eu sofria, já seria lucro.
São tantos sintomas… Queda de cabelo, dores de cabeça. No meu caso, tinha dores de garganta recorrentes, e ninguém sabia o que era; meu nariz escorria constantemente também, e nunca era nada; desenvolvi moscas volantes [manchas escuras no campo de visão], e esse infelizmente vou lidar até morrer. Também hipoglicemia, ânsias de vômito do nada, perda de memória, dores musculares, sudorese noturna. São mais de 40 sintomas. Eu me enquadrava em 15 ou 16. Muitas mulheres acham que estão com depressão, os hormônios nunca estão certos. O corpo se transforma numa zona completa.
Quando acordei da cirurgia [de explante], a primeira coisa que fiz foi, claro, respirar fundo. E senti que tinha muito mais ar para puxar, tinha mais espaço no peito, literalmente. Fiquei assustada. Onde estava todo aquele ar antes? Ficou muito óbvio como meu pulmão estava comprimido pelo silicone. No dia seguinte, quando a enfermeira foi me ajudar no banho, abri o sutiã e foi uma sensação bizarra — era como se eu tivesse voltado a me enxergar. Essa é a Amanda, foi o que pensei. Tanto que hoje olho minhas fotos com silicone, e me pergunto porque ninguém me avisou que aquilo estava horrível, falo até para as minhas amigas que elas não são de verdade, porque nem me deram um toque de que aquilo estava péssimo [risos].
Cicatriz, para mim, não é nada. Digo que são como tatuagens — tenho mais de 30 espalhadas pelo corpo, e são parte da minha história. Falo que pareço uma boneca Emília, porque sou toda remendada. Desde pequena, sempre fui travessa, aprontava um monte, já abri sobrancelha, braço, joelho. Fiz cirurgia na vesícula por conta de saúde, além do silicone. Então, não consigo achar ruim, é parte de quem eu sou e fui. No caso do explante, sei que é uma cicatriz por um “bom motivo”. Meu marido tem uma cicatriz gigante na cabeça, de quando retirou um tumor. Ninguém questiona essa cicatriz, porque salvou a vida dele. A mesma coisa comigo: a cirurgia de explante salvou a minha vida. Mas entendo que mulheres têm problemas. Li comentários de algumas que preferiam ficar com a dor do que ter marcas.
Meu marido foi essencial nesse processo. Teve um dia que parei, fiquei me olhando no espelho, e passou pela minha cabeça: será que vou me arrepender se tirar? Brinquei e perguntei o que ele achava, e ele respondeu que não tinha que achar nada, que não tinha casado com um par de silicones, e que nada mudaria se eu fizesse o explante. Ele via o quanto eu sofria, como tinha dias que até a água do chuveiro doía ao cair nos seios.
Ao contrário do que muitos podem imaginar, minha autoestima melhorou mil vezes
Quero que as mulheres tenham a opção de escolha, algo que eu e a imensa maioria não tivemos. O que lutamos é para que a mulher seja informada, porque aí ela pode decidir se vai arriscar, se quer os implantes. Também precisamos parar de banalizar a cirurgia plástica, não é como trocar de roupa. É sua vida em jogo. Acho que cada um faz o que quer, mas não posso mentir: não vou falar que silicone é bom, e que colocaria de novo. Não colocaria.
Ao contrário do que muitos podem imaginar, minha autoestima melhorou mil vezes. Desde que tirei os implantes, não tive mais dores de garganta, não tomei mais remédios para nada, deixei de ter dores de cabeça ao acordar. Fico muito mais disposta, trabalho melhor, durmo melhor. Minha qualidade de vida é outra. Retirei meus implantes aos 34 anos, e agora, aos 35, me vejo na minha melhor versão. A sensação é que voltei para os meus 20 anos — de pique, de corpo, de autoestima.”
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