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ConversasKátia Brasil: 'Preservar a Amazônia virou questão de sobrevivência'
Jornalista cofundadora da agência de notícias Amazônia Real e vencedora do prêmio Vladimir Herzog fala sobre a violência e a devastação que assolam a região em escalada desde 2018. ‘É uma violência constante’
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Kátia Brasil: ‘Preservar a Amazônia virou questão de sobrevivência’
Jornalista cofundadora da agência de notícias Amazônia Real e vencedora do prêmio Vladimir Herzog fala sobre a violência e a devastação que assolam a região em escalada desde 2018. ‘É uma violência constante’
Uma escalada de violência e devastação assola a Amazônia nos últimos anos. Enquanto a floresta é derrubada e queimada e os povos índigenas são ameaçados por invasores, doenças e desnutrição; órgãos de fiscalização são desmantelados. O agronegócio entra cada vez mais floresta a dentro por meio de grileiros, garimpeiros tomam territórios indígenas. A comunidade internacional denuncia e pressiona, o governo brasileiro faz vista grossa. Não há punição a crimes.
Esse roteiro trágico é um resumo da visão da jornalista Kátia Brasil, há 30 anos baseada nos estados da região. Brasil chegou à Amazônia em 1990 para trabalhar em um jornal em Roraima, mas quase desistiu da profissão ao perceber relações escusas entre seu empregador e a política. Saiu do primeiro emprego amazônico com uma ação trabalhista contra o jornal pretencente ao ex-senador Romero Jucá.
Um ano depois, trabalhando em outro jornal, pela primeira vez, teve contato com o povo indígena Yanomami. Desavisada, ela chegou com uma câmera pendurada ao pescoço em uma maloca onde homens se reuniam. Sentiu uma coisa fria no pescoço: era a lâmina de um facão empunhada por um adolescente. “Era a câmera. Os Yanomami não permitem que você os fotografe”, ela conta. Saiu, pediu licença, explicou, guardou a máquina e voltou. “Agora imagina 30 mil homens, pessoas alinhadas ao narcotráfico, acabando com a sua terra sem pedir permissão? A cultura deles foi totalmente violada”, diz sobre a invasão do garimpo ilegal na região.
Brasil é uma das fundadoras da agência de notícias Amazônia Real, uma organização sem fins lucrativos e sem financiamento estatal que faz jornalismo nos estados amazônicos e possivelmente a cobertura mais abrangente e sistemática da região. Com passagens por jornais como Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, onde foi correspondente, ela está prestes a comemorar os dez anos da agência em 2023. Antes disso, neste ano, recebe o prêmio Vladimir Herzog Especial.
Gama conversou com Brasil sobre o que é exatamente essa Amazônia real de 2022. Na entrevista abaixo, ela fala sobre a dificuldade de identificação que distancia o brasileiro das cidades urbanas –inclusive as amazônicas –da emergência da região. E faz um alerta: agora é uma questão de sobrevivência. “Os cientistas dizem há 40 anos que a floresta pode virar um deserto.” Já os povos indígenas, ela afirma, vivem um genocídio.
A visita aos Yanomami nos anos 1990, depois do começo acidentado, deixou na memória de Brasil uma mensagem fundamental para a compreensão de que é preciso se sentir conectado à região e aos povos para agir. Ao tomar banho em um banheiro improvisado na aldeia, ouviu vozes. Olhou para cima e viu um grupo de garotas Yanomami sorrindo. “Fiquei pensando que aquilo iria ficar para a minha posteridade. Elas cantando, eu meio envergonhada. A Amazônia é isso. Se você não estiver conectado com eles, se não tem essa sensibilidade de que essas pessoas vão ser extintas, elas vão ser extintas. É muito triste saber que esse dia pode chegar.”
Odair Leal/Amazônia Real/2014
Todos os povos brasileiros têm que ter responsabilidade com a Amazônia porque é um caminho sem volta
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G |A Amazônia vive um momento muito grave, de recorde de desmatamento e destruição, e os povos indígenas da região em constante ameaça. Ainda assim, há um mês das eleições, não vemos o tema no centro do debate entre os candidatos. Por que a Amazônia não é uma prioridade política do Brasil?
Kátia Brasil |Para o brasileiro, a Amazônia é uma região muito distante, é o “Brasil profundo” cheio de preconceitos. Existe muito sensacionalismo quando se fala da região, não existe pertencimento e identidade. São poucos os brasileiros, aqueles que têm mais informação, que se preocupam com o meio ambiente, com os povos indígenas. Só defendem a Amazônia quando a coisa já chegou a um nível extremo, que é o que nós estamos vivendo agora. Sempre foi uma cobertura sazonal na mídia tradicional, quando acontece um fato grave, como o assassinato da Dorothy Stang em 2005; o do Chico Mendes em 1988; a destruição da Terra Indígena por mais de 30 mil garimpeiros; ou os assassinatos do indigenista Bruno Pereira, do jornalista Dom Phillips. Todo mundo se volta para a Amazônia, mas hoje quem é que está na Amazônia cobrindo isso? Ninguém. Todos os jornalistas que foram para a região com suas equipes nacionais, internacionais ou regionais já foram embora. E volta a Amazônia para esse canto que o [filósofo Ailton] Krenak fala que é a borda. Nós estamos na borda e essa borda não interessa a ninguém.
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G |Você vê alguma maneira de promover esse sentimento de identificação?
KB |É preciso ter uma retomada na nossa história brasileira com relação a Amazônia, a história dos povos indígenas e também dos quilombolas que foram para aquela região, fugindo da escravidão e fizeram os quilombos ali. Tem inúmeras comunidades que são remanescentes dos quilombos. A gente precisa ensinar nossas crianças que os povos indígenas estavam no Brasil e que não receberam presentes em troca das terras nem dos recursos minerais que existiam naquela ocasião em abundância. A educação da primeira infância até a universidade precisa ser mudada. Os povos indígenas estão contando essa história, principalmente os jovens.
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G |O que a Amazônia tem a ver com quem não está lá?
KB |A Amazônia é um ecossistema que está conectado com o mundo inteiro. Quando há um desequilíbrio na Amazônia, isso afeta todos os ecossistemas. No Brasil, nós sentimos na pele, em 19 de agosto de 2019, quando a fumaça das queimadas do Mato Grosso, de Rondônia e do Amazonas chegou a São Paulo e escureceu a capital mais importante do país. Se em São Paulo as pessoas não estão preocupadas com o que está acontecendo na Amazônia, eu realmente não sei mais o que pensar. Esses adultos vão ensinar o que para os seus filhos?
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G |O que poderia barrar a destruição promovida pelo agronegócio na Amazônia? Quando ele passou a ser um agente tão devastador?
KB |O agronegócio detém muitas terras, mas muita terra ilegal. Veja o exemplo do gado: existem grandes produtores de carne no Brasil que terceirizam a produção e não se preocupam em quem está produzindo na ponta. Quem está na ponta produz numa terra grilada, é isso que os documentos da Polícia Federal e do Ministério Público mostram. Se a cadeia produtiva está ilegal, ela vai pressionar sim as comunidades. Essa terra grilada pode ser de terra indígena, território quilombola, ribeirinho. Essas comunidades já estão ameaçadas, e essas pessoas produzem com o apoio de pistoleiros, fazem cooptação das lideranças, e isso cria conflitos nos territórios. É uma série de conflitos que acaba gerando mortes.
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G |O agronegócio barra a entrada da Amazônia na pauta política?
KB |Não adianta dizer que o agronegócio é bonzinho, porque não é. São poucos os empresários que têm preocupação com o desmatamento. São raros porque a monocultura da soja é responsável, na região de Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, por violência em vários territórios indígenas, principalmente Guarani Kaiowá, que são muito ameaçados. Quase toda semana tem um conflito envolvendo pistoleiro, fazendeiro, pessoas que produzem soja, arroz ou milho – e somos grande exportador dessas monoculturas. É preciso ter uma discussão séria – não é só na eleição –, tem que ser diária, e quem tem que puxar é o governo. Se tem um governo, como o do Jair Bolsonaro, que é totalmente pró-agropecuária, pró-garimpo, das grandes mineradoras, temos um ambiente muito hostil. Cientistas já dizem, há 40 anos, que a floresta vai virar um deserto. Nós estamos vendo isso, já há territórios e regiões onde depois que passou o fogo, acabou-se, a terra ficou totalmente improdutiva. Mas esse assunto não está nem na eleição porque o discurso da Amazônia implica nos interesses econômicos do país. Então se o candidato diz que apoia o desmatamento zero, ele vai automaticamente dizer para o agronegócio que vai mudar e operar mudanças e os empresários vão voar em cima, “não vamos mais te apoiar”. Eles ficam tateando para falar sobre desmatamento, crise climática, queimadas. Mas já chegamos a uma situação extrema. Ou se toma uma atitude, se cumpre todos os acordos como o de Paris, ou realmente nós vamos ter mais secas, enchentes, e quem sofre primeiro com essas mudanças climáticas são as populações mais pobres, que vivem lá nas bordas da Amazônia, sem a atenção de ninguém.
Os indígenas estão vivendo um genocídio de fato. Várias doenças, malária, desnutrição, falta de medicamentos
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G |Você também é bastante crítica sobre a imprensa.
KB |É preciso também que a imprensa mude a forma de olhar pra Amazônia, se detenha mais nos assuntos, acompanhe, investigue, continue cobrindo o caso até o final. Na imprensa local, há um agravante pior porque os jornalistas são ameaçados, eles são violentados em relação à liberdade de expressão. Ou ele para de escrever ou cede à ditadura do release. São os releases produzidos pelas agências oficiais. Os principais jornais publicam releases 24 horas por dia.
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G |Você já sofreu ameaça?
KB |Sim, eu sofri ameaça boa parte da minha vida, porque eu sempre fui uma jornalista que incomodou muitas pessoas, sempre perguntei o que eu queria. Muito jovem, ainda em Roraima nos anos 1990, fui ameaçada por um desembargador porque cobri o assassinato de um conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil, morto a tiros na porta de casa. Fui demitida por incompetência da emissora de TV porque fiz uma reportagem que desagradou o governador, mas eu também era correspondente do Estadão [o jornal paulista O Estado de S.Paulo] e a reportagem saiu lá. A Elaíze Farias, que é a outra fundadora da Amazônia Real, foi vítima de ameaça e também de preconceito e racismo, sendo uma mulher indígena. Nós somos os jornalistas da linha de frente, então sempre vem. E na Amazônia Real, quando resolvemos criar essa agência, resolvemos criar sem recursos públicos de nenhuma agência de governo. Porque sabíamos que enfrentaríamos esses mesmos problemas. A gente precisava ser independente.
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G |Vocês fazem dez anos em 2023 e vão receber o prêmio Vladimir Herzog neste ano. Quais são os desafios e as vitórias que você vê nesse período e principalmente agora?
KB |A maior vitória é chegar a quase dez anos. A Amazônia Real nasceu dentro da minha casa, três jornalistas mulheres se juntaram, demitidas das empresas em que trabalhávamos. A gente teve apoio, mas muitas pessoas desacreditaram, achavam que era um pouco fogo de palha. E estamos aqui até hoje. A agência Amazônia Real é uma organização muito aberta e a Amazônia é muito diversa na essência, por isso eu acho que deu certo. Nós temos um trabalho também de praticar os valores da diversidade, equidade, igualdade etnico-racial. Nas nossas equipes, há pessoas de todos os lugares, com gêneros e raças diferentes. Nas reportagens, também trazemos isso.
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G |Nesse período desde que você começou a cobrir a Amazônia, desde os anos 90, o que você acha que melhorou e o que piorou na região?
KB |Melhorou muito a comunicação nos territórios, porque hoje a gente tem a internet. E com a chegada do celular, das redes sociais, do WhatsApp, a comunicação flui demais. Acontece alguma coisa no Vale do Javari, por exemplo, a mais de 4 mil quilômetros de Brasília, conseguimos descobrir porque há uma comunicação mais rápida. Os povos indígenas estão muito antenados. Então é difícil uma liderança não ter um celular ou acesso a alguma rede social.
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G |E o que piorou?
KB |O que piorou foi justamente a partir de 2018, quando o Bolsonaro foi eleito. No mesmo momento, ainda em outubro, várias comunidades foram atacadas. No Vale do Javari, por exemplo, pescadores atiravam nas bases instaladas pela Funai que faziam a proteção. Passavam e atiravam nas bases, ainda sob o governo do Temer, mas o Bolsonaro já dizia que não ia demarcar nenhum centímetro de terra e apoiava o armamento. Isso criou uma segurança para quem se acha o dono, que está armado, e uma insegurança para quem está no território defendendo a sua vida, a floresta e a continuidade de sua cultura. A partir desse momento temos inúmeros casos de violência, morte. Na terra indígena Guajajara, ocorreram vários assassinatos. Os Uru-eu-wau-wau também, o assassinato do Ari Uru-eu-wau-wau. E culminou agora em junho com os assassinatos do Bruno e do Dom, que mostram uma insegurança muito grande na fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru, maiores produtores de drogas do mundo.
A Amazônia só pode ser salva se tiver escuta e respeito às comunidades. Enquanto isso não acontecer, ninguém consegue salvá-la
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G |Dados do CIMI mostram que há quase 30 mil garimpeiros invasores nos territórios Yanomami. Qual é o papel do garimpo ilegal na destruição da Amazônia? Estamos vivendo um cenário parecido com Serra Pelada?
KB |Sim. Eu conheço o território Yanomami desde 1990, quando fui morar em Roraima. Viajei muito com o pessoal da Funai de avião, quando eles monitoravam o rio da terra indígena Yanomami e contavam do avião a quantidade de balsas que estavam lá e que tinham que ser retiradas. Conheci a região bem protegida. Era um tapete verde, um rio imenso, uma cor leitosa, de barro, natural. Eu fico emocionada quando falo sobre isso porque em 2021 fizemos a série do ouro e só vimos ali desmatamento, degradação, as aldeias todas cercadas pelo garimpo, as pessoas desnutridas. É uma tristeza tão grande, é uma imagem tão chocante, que eu acho que é pior que Serra Pelada. Porque a Serra Pelada não estava dentro de terra indígena. Ali era uma área que foi tomada, inclusive os governos da época autorizaram aquilo. O que acontece hoje é um genocídio de fato, os indígenas estão vivendo isso. Várias doenças, malária, desnutrição, falta medicamento, as equipes médicas não podem trabalhar, há de tudo. É uma violência constante, grave, e parece que os governos estão anestesiados.
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G |E a pressão da comunidade internacional tem algum efeito?
KB |A ONU já interviu, os países que apoiam cobram, todo mundo já denunciou, e não para, não muda. Eu não sei o que falta acontecer. A ONU já fez uma série de reclamações oficiais, a França e a Alemanha. Temos recursos da Alemanha para fiscalizar a Amazônia e estão parados porque o Bolsonaro sentou em cima do contrato e não fez nada. Não é possível que o povo brasileiro permita que isso continue acontecendo. É preciso ter uma mudança política urgentemente porque não vejo futuro para a Amazônia se continuar o governo de Jair Bolsonaro. E é preciso dizer aos candidatos que, para que haja uma mudança, é preciso ter compromissos de fato, para poder garantir a sobrevivência. Não é só uma questão da mineração, nem da madeira, é uma questão de sobrevivência. Vão todos morrer de fato, e a gente não pode deixar isso acontecer. Todos os povos brasileiros têm que ter responsabilidade com a Amazônia porque é um caminho sem volta.
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G |Com o desmantelamento da Funai, o que sobra de proteção para os povos indígenas? Um governo diferente conseguiria reorganizar a Funai?
KB |É preciso reconstruir tudo. O Ibama, o ICMbio, a Funai. Todos esses órgãos de fiscalização, tudo foi destruído. Vai ter que reconstruir o Brasil e vai demorar, precisa de muito dinheiro, uma força tarefa e inclusive com o apoio internacional. O próximo presidente vai receber uma batata muito quente para administrar tudo isso. O Lula fala em um Ministério Indígena. Não sei se inclui a Funai, que era do Ministério da Justiça, mas no Bolsonaro foi para o Ministério da Mulher e foi esse desastre. Vai ter que refazer tudo, sentar na mesma mesa dos indígenas, quilombolas e ribeirinhos para discutir de fato como nós vamos trabalhar para não acontecer tanta degradação e tantas ameaças.
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G |As empresas agora estão se apropriando de ESG, falando que a Amazônia pode ser uma potência econômica. Faz sentido a Amazônia ser uma potência econômica e ao mesmo tempo preservação e reconstrução da floresta? Ou é balela?
KB |Eu vivo na Amazônia há 30 anos e há 30 anos ouço dizer que a Amazônia vai ser uma grande potência. Há também outro mito, o da internacionalização. A gente sabe que por dentro dessa laranja tem muita coisa podre. Não é mais aceitável essa política de boa imagem. As empresas precisam de fato mostrar o que vão fazer para evitar essas violências na Amazônia e também sobre a questão da poluição e a degradação ambiental. É preciso um governo que cobre de fato essas empresas. Nessa cadeia de impacto ambiental existe uma série de problemas. Desde o impacto ambiental nas florestas e rios como também os impactos socioambientais das comunidades.
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G |Ainda dá para salvar a Amazônia? Qual é a primeira coisa que precisamos fazer?
KB |Para salvar a Amazônia o povo tem que ter o pertencimento e a identidade com relação a ela. Nas cidades urbanas da Amazônia, as pessoas não se identificam com aquela floresta. O olhar delas é de inimigos. Jovens, adultos, as pessoas acham que a floresta incomoda o desenvolvimento. A história do “vamos fazer o desenvolvimento sustentável” é muito questionável. Porque às vezes o desenvolvimento sustentável não é bom para quem é da terra, e sim para quem não é. É preciso de fato entender a lógica da floresta e exigir que ela tenha seu desenvolvimento, mas ouvindo as comunidades, porque eles estão lá, eles são os primeiros, os detentores dos territórios. É preciso ter escuta com as verdadeiras lideranças, se eles não querem a mineração nos territórios, se são contra, é preciso respeitar isso. O problema é que não se respeita. A Amazônia só pode ser salva se tiver escuta e respeito às comunidades. Enquanto não tiver isso, ninguém consegue salvar a Amazônia.
*As fotos que ilustram essa reportagem são de viagem de Kátia Brasil à terra indígena Juma, em Canutama, sul do Amazonas, pelas BR364 e BR230, a Transamazônica, em 2014. O homem idoso nas fotos é Araká Juma, um sobrevivente de massacres que morreu em 2021 vítima de covid-19. Até hoje, a jornalista tem laços de amizade com essa etnia, que conheceu em 1994 a partir do indigenista Adolpho Kilian, da Funai. Foi por causa do povo Juma, que Brasil criou o projeto Jovens Cidadãos da Amazônia.
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CAPA Como salvar a Amazônia?
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1Conversas Kátia Brasil: 'Preservar a Amazônia virou questão de sobrevivência'
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2Apoio comercial Precisamos falar sobre a Amazônia
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3Podcast da semana Txai Suruí: “As terras indígenas protegem a floresta”
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4Reportagem Quem mapeia a Amazônia?
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5Bloco de notas As dicas da redação sobre o tema da semana