Como alertar os filhos sobre cigarro eletrônico — Gama Revista
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Como alertar os filhos sobre cigarro eletrônico

Apesar de proibido, o vape segue sendo utilizado por adolescentes, mesmo com os comprovados prejuízos à saúde. Veja dicas para conscientizá-los sobre os riscos

Sarah Kelly 17 de Novembro de 2024

Como alertar os filhos sobre cigarro eletrônico

Sarah Kelly 17 de Novembro de 2024

Apesar de proibido, o vape segue sendo utilizado por adolescentes, mesmo com os comprovados prejuízos à saúde. Veja dicas para conscientizá-los sobre os riscos

Quase 17% dos estudantes entre 13 e 17 anos já experimentaram o cigarro eletrônico, mostra a última Pesquisa Nacional de Saúde Escolar. Se de início o vape era vendido como uma alternativa ao cigarro convencional para adultos, hoje ele atrai principalmente os jovens — graças a praticidade, design tecnológico, apelo das redes sociais, entre outras investidas da indústria do tabaco. Quando tratamos da quantidade de nicotina e da possibilidade de dependência mais intensa e precoce, produzindo doenças pulmonares em menos tempo, o dispositivo se mostra mais prejudicial do que o tabaco.

No Brasil, a venda, a importação e a propaganda do cigarro eletrônico e de outros dispositivos eletrônicos para fumar (DEF´s) são proibidas desde 2009. No entanto, o mercado ilegal facilita o acesso. Recentemente, mais de 300 mil vapes foram apreendidos no porto de Santos, no litoral paulista, quantidade avaliada em mais de R$ 23 milhões.

De que forma então prevenir o uso e alertar os mais jovens sobre os perigos do vape? O psicólogo e especialista em atendimento clínico de crianças e adolescentes Alexandre Bellis explica que “conversar sobre qualquer assunto com um adolescente, quando se é pai ou mãe dele, pode ser um imenso desafio”. Para lidar com as dificuldades de abordar pessoas em fase de contestação, confira as dicas reunidas por Gama.

  • 1

    Estimule o diálogo aberto e apresente argumentos embasados –
    “[A solução] não é, nunca foi e nunca será o sermão”, garante Bellis. Para ser escutado, é preciso ser paciente e estar aberto a também ouvir, sem julgamentos em um primeiro momento. Um caminho viável é começar perguntando qual é a opinião do seu filho sobre vape e assim compreender qual é a noção dele sobre o assunto. A partir disso, introduza os fatos que o adolescente pode não saber, como os efeitos a curto prazo. Alguns deles são: danos ao sistema imunológico, diminuição da função pulmonar e maior risco de eventos cardiovasculares. A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) afirma também que “há relatos de maior incidência de convulsões entre os adolescentes usuários”. A diretora do Programa de Tabagismo do Incor, a médica Jaqueline Sholz, defende ”um papo sincero [com os adolescentes] sobre como o cigarro eletrônico não acrescenta nada na vida das pessoas a não ser a doença, a dependência e pode ainda agravar o quadro de ansiedade”. Para embasar a discussão, você deve se preparar com bons argumentos. Este material de apoio do Movimento Vape Off é uma boa fonte de embasamento.

  • 2

    Incentive o adolescente a pesquisar por conta própria –
    Não importa o nível de contato com o cigarro eletrônico que alguém já teve, a pessoa deve querer se afastar ou se manter longe do dispositivo por seu próprio bem. Uma estratégia recomendada pelo por Bellis, que é professor da pós-graduação do Mackenzie, é dizer para o adolescente que ele não precisa confiar na palavra do pai ou da mãe em relação a este tema: pode recorrer a outras fontes e pesquisar exemplos práticos de pessoas afetadas pela dependência. “Diga: ‘Vá pesquisar e depois converse comigo. Tem uma doença nova associada ao uso do vape, uma lesão pulmonar bem grave e séria, que está amplamente divulgada na internet’.” Adotar esse posicionamento é especialmente importante em casos de contestação, quando o próprio responsável é fumante. Aliás, a vulnerabilidade ao uso de vape é maior quando há casos de vício na família e, por isso, o tópico não pode ser um tabu.

  • 3

    Desafie os conceitos já estabelecidos. Pais podem questionar os desejos por trás do cigarro eletrônico –
    Outra forma de contestação acontece quando o adolescente não se importa com os riscos de fumar. “Não é só o plano da informação que conta. Muitas vezes eles podem já saber os malefícios do cigarro eletrônico — afinal, isso também é amplamente divulgado — e nesse caso, o que está em jogo é algo mais difícil”, aponta Bellis. Fumar pode ser uma maneira de desafiar a própria morte, afirmar coragem ou mesmo de pertencer a um grupo, segundo o professor. Uma pesquisa recente da Universidade de Michigan mostrou que entre os principais motivos para adolescentes usarem vape são: curiosidade, tédio, alívio do estresse e até perda de peso. Dados como esse ajudam a entender a raiz do problema. Além disso, o vape se torna um contraditório objeto de ostentação: “Não precisa mais esconder dos pais, não tem cheiro, é ‘invisível’, por outro lado eu vejo muitos adolescentes querendo mostrar esse aparelho, como mostram o celular ou como mostravam anos atrás um tênis caro ou uma bolsa de marca. Então ele também é uma marca de pertencimento”. Os pais podem questionar os desejos por trás dessas noções sobre o cigarro eletrônico e apresentar novas possibilidades. “Esse é o único jeito de ser corajoso? Tem alguma outra maneira? Por que isso é tão importante? São perguntas que às vezes não são tão evidentes.”

  • 4

    Crie uma relação de confiança. Essa é uma conversa contínua –
    O papo sobre tabagismo e sobre outras problemáticas contemporâneas não é isolado, mas uma conversa contínua. Pais que desejam preservar a saúde dos filhos têm de lidar com influências contrárias na mídia, com a indústria que investe em propagandas acertadas a esse público, bem como o ciclo que o adolescente pertence. “A maneira mais comum de começar a usar cigarro eletrônico é exatamente quando um amigo oferece para o outro. Acontece um circuito de dependência”, explica a doutora Jaqueline Sholz. Nesse sentido, o filho precisa saber que os pais estão disponíveis para ajudá-lo se ele quiser entender mais sobre o assunto ou se livrar do vício, se for o caso.

  • 5

    Esteja atento aos sinais e saiba a hora de pedir ajuda profissional –
    “Dependendo da gravidade da situação, você vai precisar ser mais ou menos assertivo”, observa Alexandre Bellis. Ele exemplifica: “Se meu filho estivesse tossindo e sufocando, a primeira atitude a tomar seria levar correndo pro médico”. Ou seja, não é sobre ser autoritário, mas sobre reparar o comportamento de quem você cuida e intervir quando necessário. Especialistas consultados pelo New York Times dizem ainda que os pais devem ser capazes de reconhecer os diferentes tipos de dispositivos de fumo. Agressividade, ansiedade, agitação motora são sinais de que algo pode estar errado, de acordo com o psicólogo. “A busca por ajuda sempre tem que acontecer quando se percebe um sofrimento psíquico.” Nem sempre isso é aceito por quem precisa do tratamento: “As resistências estão colocadas em maior ou menor grau. E o que a gente precisa fazer é manobrá-las”, afirma. Uma dica é dar ao jovem o mínimo poder de decisão, determinando que ele deve experimentar o amparo, mas que poderá escolher continuar ou não com o mesmo método. Quando o adolescente já é usuário de vape, é preciso aprender a lidar com um viciado e não tomar medidas extremas que o coloquem em abstinência. Scholz aconselha que é possível diminuir os sintomas de dependência a partir da retirada gradual das substâncias do corpo. “Deixe [o dispositivo] no banheiro, no fundo da mala para tentar usar o menos possível e veja se, com o uso em menor quantidade, o indivíduo consegue se desvencilhar da dependência de nicotina. Se não conseguir, procure o tratamento médico.”