Lilia Schwarcz: 'Nostalgia da ditadura é uma memória do que não foi' — Gama Revista
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Fotos: Rafael Vilela/Divulgação/Rovena Rosa/Agência Brasil / Ilustração: Sariana Fernández

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Podcast da semana

Lilia Schwarcz: 'Nostalgia da ditadura é uma memória do que não foi'

Historiadora e antropóloga fala da importância de contar o que foi apagado e de como os regimes políticos usam a história a seu favor. ‘Nosso presente está cheio de passado’

Isabelle Moreira Lima 22 de Agosto de 2021
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Fotos: Rafael Vilela/Divulgação/Rovena Rosa/Agência Brasil / Ilustração: Sariana Fernández

Lilia Schwarcz: ‘Nostalgia da ditadura é uma memória do que não foi’

Historiadora e antropóloga fala da importância de contar o que foi apagado e de como os regimes políticos usam a história a seu favor. ‘Nosso presente está cheio de passado’

Isabelle Moreira Lima 22 de Agosto de 2021

“Não acho que o Brasil é um país sem memória, mas os brasileiros procuram não se lembrar. Gosto de dizer que nosso presente está cheio de passado — os fantasmas do nosso presente. A história sempre foi e está atuando como player. E os diferentes regimes políticos usam da história para justificar o presente.”

A reflexão é da historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, colunista do Nexo jornal e autora de sucessos como “Enciclopédia Negra” (Companhia das Letras, 2021), com vários autores; “Brasil: uma Biografia” (2019), junto a Heloísa Starling; e “Sobre o Autoritarismo Brasileiro” (2019), entre muitos outros. É ela a entrevistada do Podcast da Semana na edição memória.

“Estamos vivendo uma crise enorme. Dentro dela temos um governo que se utiliza muito de uma certa narrativa histórica. É aí que se cria uma memória nostálgica da ditadura militar, que eles chamam de intervenção. É uma memória do que não foi, do que não aconteceu. O período da ditadura militar foi de muita corrupção, com muita inflação, e a ordem foi mantida na base da coerção, da morte, do sequestro, da tortura. É uma história pela metade”, afirmou na entrevista a Gama.

Lilia é uma historiadora que não parece ter problemas em olhar para o presente e, em sua conta no Instagram, costuma falar sobre fatos de relevância nacional. Ela vê essa atividade como uma “guerrilha” importante de ser lutada pelos intelectuais do país. Nas redes sociais, se manifestou sobre o protesto que ateou fogo contra a estátua de Borba Gato, em São Paulo, e no podcast fala que, mais que destruir monumentos que remetem a personagens ou períodos históricos violentos, é importante construir uma contramemória: “fabular” sobre a história sequestrada que envolve negros e negras no Brasil porque mesmo que não seja precisa ela é necessária.

“Temos que fazer uma contramemória: produzir ao lado daqueles documentos outros monumentos, outras legendas explicativas. Os monumentos que foram por demais traumáticos precisam ser deslocados. E, ao mesmo tempo, precisamos deslocar e contar essa história porque senão [esses personagens históricos] vão virar heróis de outra maneira”, afirma.

No Spotify, na Apple Podcast, no Google Podcast e no link abaixo você escuta essa conversa.

Roteiro e apresentação: Isabelle Moreira Lima

Edição de som: Deisi Witz